Justiça

Atacado por Caiado, desembargador deixou caso que envolve primo do governador

Desembargador Adriano Linhares era o juiz "prevento" para atuar em ações promovidas no âmbito do Caso Escobar, que envolve primo de Caiado

Ronaldo Caiado e o desembargador Adriano Linhares (Foto: Reprodução)
Ronaldo Caiado e o desembargador Adriano Linhares (Foto: Reprodução)

Reportagem publicada neste domingo (7) pelo portal Metrópoles revela que o desembargador Adriano Linhares, duramente atacado pelo governador Ronaldo Caiado em novembro de 2023 por defender a extinção da Polícia Militar, havia sido indicado para julgar ações relacionadas ao “caso Escobar” menos de um mês antes. Esse caso envolve um primo do governador, chamado Jorge Ramos Caiado, que estaria envolvido com o assassinato de Fábio Escobar (em 2021). Depois de atacado, porém, Linhares deixou o caso.

O “caso Escobar” vai além da morte de Fábio: outros cinco homicídios estariam relacionados ao processo. O último deles em janeiro de 2022. Todos teriam sido cometidos por PMs de Goiás, segundo apuração do Ministério Público.

Linhares foi designado como juiz “prevento” do caso – ou seja, com prerrogativa para ser o relator de ações relacionadas – por meio de um sistema do Tribunal de Justiça de Goiás em 10 de outubro de 2023.

No dia 1º de novembro do ano passado, Linhares deu a polêmica declaração defendendo o fim da PM, durante um julgamento do tribunal. Caiado, que estava na China, gravou um vídeo chamando-o de “desrespeitoso”, “agressivo” e “inconsequente”, e acusando-o de “atentar contra o estado democrático de Direito”. Também questionou se o desembargador não estaria “cooptado por forças do crime” e defendeu seu impeachment.
Cinco dias depois, o TJ decidiu pelo afastamento de Linhares. Essa medida foi suspensa no dia 9 de novembro, quando ele retornou às atividades por ordem do Conselho Nacional de Justiça.

A reportagem diz que Linhares foi conversar com o presidente do Tribunal, desembargador Carlos Alberto França, que teria sugerido ao colega que “ao menos por um tempo, deixasse de atuar em casos criminais do TJ, o que incluiria o ‘caso Escobar’, e passasse a despachar em processos cíveis.

Na conversa, Adriano Linhares agradeceu a “preocupação” de França e lamentou a repercussão de suas declarações sobre a PM. Pouco depois, declarou a própria ‘suspeição’ para atuar no caso.

O Metrópoles procurou Linhares e França, mas eles não quiseram comentar o assunto.