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Caçada a Lázaro impulsiona hotéis na região, mas derruba vendas no comércio

Por Paula Coutinho, de Girassol Os onze dias de procura por Lázaro Barbosa não só…

Rotina em restaurante da região se alterou com o caso Lázaro (Foto: Suemi Alves)
Rotina em restaurante da região se alterou com o caso Lázaro (Foto: Suemi Alves)

Por Paula Coutinho, de Girassol

Os onze dias de procura por Lázaro Barbosa não só impuseram às famílias de Cocalzinho e do povoado de Girassol a necessidade de redobrar a segurança em casa, como também mudou a economia da região. Embora os hotéis e pousadas estejam faturando como nunca (em função da presença de jornalistas e policiais), a movimentação no comércio despencou. 

Maria da Costa Lima é proprietária da loja comercial Santa Rosa, que revende produtos de agropecuária, materiais de construção e acabamento. Ela afirma a população está com medo de sair de casa e por isso o movimento caiu muito. 

“O povo está muito assustado. O comércio piorou. Quem lucra é só dono de hotel e quem vende comida. O pessoal está focado querendo ver a coisa se resolver pra sair de casa. Ninguém sai, porque ninguém sabe cadê ele (Lázaro Barbosa)”, diz Maria.

Outra comerciante que vê a caçada policial a Lázaro Barbosa como entrave para as vendas é Filomena Silva Pinto Coelho. Dona de uma pequena loja de roupas em Girassol (e também de uma chácara em Edilândia), Filomena se divide entre o trabalho de atendimento na loja e a lida diária na chácara.

 Quando as buscas por Lázaro se intensificaram, ela decidiu deixar a chácara e ir para a cidade. E não vê a intensa movimentação perto da loja dela como um sinal positivo. “Tem movimento, mas é movimento de polícia. O povo mesmo não está saindo. Todo mundo está escondido”.

 E acrescenta: “Eu quero é que isso acabe logo e que peguem ele. Abandonei minha chácara no domingo. Entraram lá. Reviraram tudo. Meu armário caiu, perdi minhas coisas, tem coisa quebrada. Só sei que não foi Lázaro, porque não dei falta de nada, nem de comida. Então acho que quem entrou na minha casa foi a polícia”, afirma Filomena.

Hotéis faturam alto com movimentação na região de Cocalzinho, por causa da procura por Lázaro (Foto: Suemi Alves)

Hotéis faturam alto com movimentação na região de Cocalzinho, por causa da procura por Lázaro (Foto: Suemi Alves)

Outros lucram

Enquanto uns reclamam, outros lucram. Como é o caso de José Ricardo Lopes, proprietário do Hotel Pirineus, localizado na parte central de Cocalzinho de Goiás. “Desde que saíram as notícias do Lázaro, o hotel tá (sic) lotado com autoridades, imprensa e pessoas que deixaram suas casas na zona rural”.

 Marcelo Farias, proprietário do Restaurante 070, em Girassol, avalia que para os proprietários de estabelecimentos da área de alimentação, o caso Lázaro Barbosa ajudou a melhorar as finanças. “Quem é do setor de alimentos não pode reclamar porque teve sim aumento de movimentação e crescimento nas vendas”, assegura Farias.

 Mas, há controvérsias. Tem comerciante da área alimentícia que discorda. Como a dona do hotel São José, que tem também restaurante e padaria dentro do estabelecimento, Suemi Alves Peixoto discorda de quem diz que a economia local cresceu. “O movimento aumentou. Mas não foi muito não. Tá médio. Porque o povo está com medo”.

Onze dias de buscas

– Quarta-feira (9) – A onda de crimes tem início quando o suspeito invade uma casa em Ceilândia. Lá, ele teria matado o empresário Cláudio Vidal, 48; dois filhos dele, Gustavo Marques, 21; e Carlos Eduardo Vidal, 15; e sequestrado a mãe deles, Cleonice Marques, 43.

– Sexta-feira (11) – Polícia Militar do DF inicia buscas pelo suspeito.

– Sábado (12), à tarde – polícia encontra o corpo de Cleonice Marques. Cadáver estava próximo de um córrego na região de Sol Nascente (DF). Mulher estava nua, de bruços e apresentava cortes na região das nádegas.

– Sábado (12), à noite – Três pessoas são baleadas em uma casa na zona rural de Cocalzinho de Goiás. Suspeito teria forçado vítimas a fazer comida para ele enquanto as obrigava a fazer consumo de drogas. No local, Lázaro supostamente rouba duas armas de fogo e munições.

Feridos estão hospitalizados, dois deles em estado grave.

– Domingo (13), à tarde – Chácara é invadida em Cocalzinho de Goiás. Proprietário encontra imóvel revirado e dá falta do carro, um Corsa vermelho.

– Domingo (13), noite – veículo é abandonado na BR-070, após avistar bloqueio policial próximo à cidade de Edilândia. Suspeito foge à pé, supostamenete para região de mata. Investigadores ainda não confirmaram se responsável por abandonar carro é mesmo Lázaro.

Polícias militar e rodoviária federal destacam 120 policiais para o cerco, que tem auxílio de 3 helicópteros

– Segunda-feira (14), manhã – Mais policiais se juntam à operação de captura. Agora, são 210 agentes da PM-GO, PM-DF e Polícia Federal (PF) que atuam para detectar e prender Lázaro. Secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodnei Miranda acompanha os trabalhos in loco.

– Segunda-feira (14), noite – Lázaro pede comida em uma chácara em Edilândia, mas diante da negativa do caseiro atira com uma pistola contra a propriedade. O caseiro, que também estava armado com uma espingarda, revida, fazendo com que o procurado fuja do local correndo a pé.

– Terça-feira (15), tarde – Moradores de uma fazenda em Cocalzinho de Goiás afirma ter avistado Lázaro passando pela propriedade. Desesperados, eles orientam os policiais sobre o caminho que ele seguiu.

– Terça-feira (15), tarde – Três pessoas – uma mulher e duas crianças – foram mantidas reféns de Lázaro Barbosa em uma propriedade rural que fica a 5 km de distância do povoado de Edilândia. Os reféns foram libertados após troca de tiros com a polícia e o suspeito fugiu por um Rio próximo da fazenda.

– Terça-feira (15), noite – Lázaro teria retornado a uma propriedade que invadiu pela manhã em busca de alimentos. O proprietário encontrou a casa revirada e deu falta de produtos alimentícios.

– Terça-feira (15), noite – Secretário de Segurança Pública, Rodney Miranda diz que equipes estão mais perto de capturar Lázaro e que não deixarão o local sem o suspeito.

– Quarta-feira (16), manhã – Secretário de Segurança Pública, Rodney Miranda diz que suspeito não agiu nesta madrugada e que o cansaço será a estratégia para capturá-lo.

– Quinta-feira (17), manhã – A secretaria de Segurança Pública de Goiás informou que 20 policiais da Força Nacional vão auxiliar nas buscas por Lázaro, em Edilândia.

– Quinta-feira (17), manhã – Rodney Miranda, Secretário de Segurança de Goiás, afirmou que Lázaro está mais desgastado e cometendo mais erros.

– Quinta-feira (17), noite– Rodney Miranda, Secretário de Segurança de Goiás, confirmou que Lázaro foi visto pelo menos duas vezes e que houve pelo menos um confronto.

– Sexta-feira (18), manhã – Policiais encontraram uma vela de sete dias na região de mata de Edilândia, povoado de Cocalzinho de Goiás. O objeto, com o nome de Lázaro, foi localizado ainda na noite de quinta.

– Sexta-feira (18), manhã – Mãe de Lázaro fala pela primeira vez e pede ao filho que se entregue. Esposa do suspeito diz que ela e a filha sofrem ameaças e também pede que ele se entregue.

– Sexta-feira (18), noite – Secretário Rodney Miranda diz que carta supostamente escrita por Lázaro é fake, bem como a história de que moradores da região teriam oferecido recompensa pela captura do assassino.

– Sábado (19), manhã – Policiais restringem para 10 km quadrados o perímetro de busca por Lázaro Barbosa. Helicópteros voltam a sobrevoar região. Forças de segurança auxiliam proprietários rurais que precisam alimentar os animais, mas estão com medo.

O procurado

A série de crimes atribuída a Lázaro Barbosa, 32, teve início em entre 8 e 9 de abril de 2020, quando ele teria invadido uma propriedade rural de Santo Antônio do Descoberto. Quatro idosos estavam no local. Um deles foi atingido com golpe de machado na cabeça, mas sobreviveu, embora apresente sequelas, segundo a Polícia Civil goiana. Os outros idosos também foram agredidos, com menos gravidade. Lá ele roubou bens e celulares que depois foram recuperados pelos investigadores. À época ele foi indiciado por crime de roubo mediante restrição da liberdade das vítimas, emprego de arma branca e por tentativa de latrocínio.