COVID-19

Em reunião, suposto dono de empresa diz que vai descontar dia de faltosos na pandemia

Uma suposta reunião entre Jeová Pimentel, proprietário da empresa Abelha Rainha Cosméticos, segundo funcionários, e…

Em reunião, suposto dono de empresa diz que vai descontar dia dos faltosos na pandemia
Em reunião, suposto dono de empresa diz que vai descontar dia dos faltosos na pandemia

Uma suposta reunião entre Jeová Pimentel, proprietário da empresa Abelha Rainha Cosméticos, segundo funcionários, e os trabalhadores da companhia teve seu áudio captado e entregue ao Mais Goiás. No arquivo, o empresário afirma que “não acredita nessa gripe [coronavírus]” e que “será descontado os dias de quem não vier trabalhar”, entre outras coisas.

A companhia, razão social Biopele Industrial Comercial de Cosméticos Ltda., não negou a reunião ou confirmou se esta foi feita ou não por Jeová. Porém, em nota, ela advertiu “que o Sr. Jeová é amigo da família e não é proprietário da empresa”. O texto é assinado por Rogério Pimentel e pelo departamento jurídico da companhia.

De fato, no registro da Biopele consta Rogério Tavares Pimentel Neto como “sócio, administrador ou dono da empresa”. Mas os funcionários garantem: Jeová é o dono e, sim, fez a reunião na última terça-feira (24). “Ele é o dono e Rogério é o sobrinho dele”, foi dito por mais de uma pessoa. Inclusive, ele é tratado como “dono” pelos servidores e possui um escritório só para ele.

Áudio

Em outros pontos do áudio, que tem mais de 3min40s, é possível ouvir falas como “os que vierem tem que trabalhar sem fricote” e “o ônibus não vem, o problema não é meu, resolve seus problemas pra lá”. Em outra, ele afirma que não quer que o funcionário vá “e fique fazendo barulho aí, fica conversando com o sindicato”.

Conforme a gravação, atribuída a Jeová, os trabalhadores têm direito de ter medo, pois “tem pessoas que são mais medrosas que as outras”. E ainda: “Eu vou achar é bom que minha folha de pagamento vai ser menor”, caso haja faltas.
De acordo com um ex-funcionário da empresa, que como os atuais pediu para não ser identificado, a empresa também não segue as medidas de prevenção orientadas pelo governo (distância entre funcionários, máscaras, dentre outros). Um trabalhador atual confirmou.

Disse que, somente no fim da quarta-feira (25), após intervenção da Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) é que a empresa começou a adotar as medidas de segurança. “Mas não estavam. Nesta quinta-feira (26) ainda estavam arrumando”, relatou. Ele diz, inclusive, não ter havido liberação de funcionários, o que também contestado pela Biopele.

Mais respostas

Em nota ao Mais Goiás, a empresa afirma que toma todas as medidas de precaução para os empregados que continuam trabalhando. “Registre-se que 12% de seu quadro de pessoal está afastado das atividades, sem qualquer prejuízo da remuneração, em razão de estarem incluídos no Grupo de Risco (em decorrência da idade, comorbidades, férias e até mesmo as grávidas – uma cautelar quanto a essas por deliberalidade da empresa)”.

Segundo a companhia, mesmo aqueles essenciais, podem faltar. “A empresa informou a todos que se alguém que não fizer parte do grupo de risco não se sentir seguro em comparecer ao trabalho, basta comunicar à empresa que as faltas serão lançadas sem qualquer aplicação de punição aos empregados.” Em relação aos que seguirem em atuação, a companhia reforça que toma todas as medidas de segurança.

Destaca-se, inclusive, que na tarde de quarta-feira, em uma nota publicada no Instagram da empresa, era informado que a companhia adota medidas conforme recomendado pelo governo de Goiás. Porém, “reforçamos a todos os nossos distribuidores e clientes, que estamos funcionando e atendendo todos os pedidos com a mesma agilidade de sempre”.

Sindicato

O Mais Goiás entrou em contato com o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas, Farmacêuticas e de Material Plástico do Estado de Goiás (Sind-QFP-GO). O presidente, Sebastião Ferreira da Silva, disse já está a par da situação.

Apesar disso, de acordo com ele, o recursos humanos da empresa teria prometido, anteriormente, a dispensa nesta semana, na quarta-feira ou na quinta-feira (26). Ele citou que, em Senador Canedo, o sindicato e uma empresa de 1.300 funcionários fecharam um acordo para férias coletivas. “A Abelha tem cerca de 250 trabalhadores”, contextualiza. “Não deveria estar funcionando, porque não é essencial.”

Ele lembra, ainda, que, houve uma convenção coletiva para reajuste da data base, em dezembro, com pagamento retroativo de 1o maio que deveria ser cumprido na época, mas que foi parcelado. “Então, vamos entrar com ação de descumprimento de convenção coletiva e com uma ação civil pública.”

Sobre não ser essencial, a empresa rebate. Segundo ela, “conforme os decretos legislativos federal e estadual, ela deve continuar funcionando regularmente, haja vista a produção de itens essenciais para manutenção regular da nossa sociedade, que passa por um momento delicado”. Um funcionário confirmou que a produção de álcool em gel para fornecedores passou a ser produzido no fim da última semana.

O Sind-QFP-GO informou que já enviou ofícios para a própria Biopele, Vigilância Sanitária e para o 2º Comando Regional de Aparecida. O texto trata de “descumprimento das medidas de prevenção de contágio por Covid-19”.

Também foi tentado contato com a assessoria da secretaria de Estado de Saúde para verificar se empresa se enquadra na categoria de essencial. Em nota a SES informou: “A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás informa que álcool em gel é considerado material essencial. Portanto, não se enquadra na determinação do Decreto.​”

Confira a nota da Biopele na íntegra

“A BIOPELE é uma empresa sediada no Estado de Goiás há quase 10 anos e promove 273 empregos diretos. Conforme os decretos legislativos federal e estadual, ela deve continuar funcionando regularmente, haja vista a produção de itens essenciais para manutenção regular da nossa sociedade, que passa por um momento delicado.

A empresa está tomando todas as medidas de precaução para os empregados que continuam trabalhando. Registre-se que 12% de seu quadro de pessoal está afastado das atividades, sem qualquer prejuízo da remuneração, em razão de estarem incluídos no Grupo de Risco (em decorrência da idade, comorbidades, férias e até mesmo as grávidas – uma cautelar quanto a essas por deliberalidade da empresa).

Quanto aos demais empregados – que são essenciais para manutenção regular da sociedade nesse momento sério em que o país e o mundo estão passando – a empresa tomou uma decisão solidária (diferente de muitas outras empresas que estão obrigando os colaboradores a comparecerem, sob pena de punições ao contrato de trabalho). A empresa informou a todos que se alguém que não fizer parte do grupo de risco não se sentir seguro em comparecer ao trabalho, basta comunicar à empresa que as faltas serão lançadas sem qualquer aplicação de punição aos empregados.

Quanto aos trabalhadores que permanecem trabalhando, a empresa está tomando todas as medidas de segurança adequada ao bom desenvolvimento do trabalho, com preservação da saúde de todos.
Por fim, a empresa adverte que o Sr. Jeová é amigo da família e não é proprietário da empresa.”

Rogério Pimentel – sócio administrador da BIOPELE
Érika de Oliveira Dinize (OAB/GO 31.716) – advogada da BIOPELE