REPÚDIO

Entidade vai acionar autoridades contra ato que defendeu tortura na Cidade de Goiás

A Organização Vilaboense de Artes e Tradições (Ovat) vai acionar autoridades policiais e de fiscalização…

A Organização Vilaboense de Artes e Tradições (Ovat) vai acionar autoridades policiais e de fiscalização para apurar um ato a favor da tortura na Cidade de Goiás. (Foto: reprodução)
A Organização Vilaboense de Artes e Tradições (Ovat) vai acionar autoridades policiais e de fiscalização para apurar um ato a favor da tortura na Cidade de Goiás. (Foto: reprodução)

A Organização Vilaboense de Artes e Tradições (Ovat) vai acionar autoridades policiais e de fiscalização para apurar um ato que defendeu a tortura na Cidade de Goiás. O caso ocorreu no último sábado (1º), em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, marco da religiosidade dos escravos no município. Além de exibir faixa com os dizeres “Deus perdoe os torturadores”, os manifestantes contavam com escritos em apoio ao presidente da República: “nosso Brasil pertence ao senhor Jesus. Direita com Bolsonaro”.

Imagens que circulam nas redes sociais mostram duas pessoas vestidas com uma farda branca e encapuzadas, vestimentas semelhantes às usadas pelos farricocos durante a Procissão do Fogaréu. Os manifestantes se posicionaram a favor de torturadores e defenderam o presidente do país.

Em nota enviada ao Mais Goiás, a Ovat, organização mantenedora da Procissão do Fogaréu e de outras expressões culturais da Cidade de Goiás, disse que a entidade não participou do ato e não tem conhecimento de quem são os possíveis autores. A organização afirmou que vai acionar o Ministério Público Estadual e Federal; Polícia Civil e Federal, bem como a Ordem dos Advogados do Brasil – Secção Goiás (OAB-GO), para averiguar a autoria do fato.

“Desde a fundação da OVAT, as suas atividades e realizações sempre semearam o ecumenismo ao lado da Igreja Católica, a harmonia com as demais religiões, o respeito entre elas e a ampla defesa aos direitos humanos”, lê-se no texto.

A organização encerra a nota afirmando ser contra “a incitação à ditadura, intolerância religiosa e étnica, preconceitos, silenciamentos, tortura, violência e quaisquer que sejam os atos que estimulem a violação dos direitos difusos e sociais”.

Racismo e violência simbólica

Também em nota, a Associação Cultural Pilão de Prata já havia repudiado o ato. Para a entidade, os manifestantes agiram “violentamente de forma racista e criminosa criando aspectos de violência simbólica latente inspirados na seita Ku Klux Klan, assassina de povo negro”.

Segundo a Associação, a veste de farricoco dos manifestantes foi uma alusão a roupa do grupo racista Ku Klux Klan.

“Em um momento tão crítico com mais de 400.000 (quatrocentos mil) mortos numa pandemia descontrolada profanaram o chão de Oxum, da Rainha Zinga, dos Bantus, das nossas crianças e dos nossos velhos. Goiás é Patrimônio Mundial e isso é um crime contra a humanidade e a vida.”

Análise

Nas redes sociais, tiveram manifestações de repúdio. “Um absurdo que deveria ser investigado e seus organizadores punidos”, disse um internauta. “Criminoso! Apologia à violência. Lamentável tal manifesto”, escreveu outra.

Pelo Twitter, a mestre em História Natália Pessoni também criticou o ocorrido e fez uma análise. Segundo ela, esse foi o “absurdo de ontem” que mais a chocou.

“Só para contextualizar: sim essas são vestes de farricocos da Procissão do Fogaréu. Nada mais natural, já que estão em ‘Goiás Velho’, não é? Não, não é. Como sabemos existem vestes de várias cores, então a escolha das vestes brancas não foi aleatória, visto que elas são identicas às históricas vestes da Ku Klux Klan. Somado a isso, a primeira imagem foi feita em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, sendo assim, essas vestes nessa lugar configuram uma violência simbólica sem precedentes em terras goianas”, escreveu e parte de sua explicação.

Nota Ovat:

Na tarde de ontem, como é de amplo conhecimento, fomos surpreendidos com a distribuição de algumas fotografias nas redes sociais, das quais continham duas pessoas com vestimentas brancas, capuz com dois furos sobre a cabeça e que portavam uma espécie de cartaz/faixa com a descrição “Deus perdoe os torturadores” e logo abaixo “Nosso Brasil pertence ao Senhor Jesus” e “Direita com Bolsonaro”.

A Organização Vilaboense de Artes e Tradições – OVAT, instalada em 1965, entidade da sociedade civil organizada sem fins lucrativos, com a missão de zelar pela memória e a salvaguarda do patrimônio imaterial de Goiás, desde sua fundação é a mantenedora da Procissão do Fogaréu e de outras expressões culturais de nossa cidade.

Devido à demanda de questionamentos e mensagens de apoio recebidas nas redes sociais, pela UFG, imprensa e por pessoas que reconhecem os serviços que prestamos gratuitamente para a dinamização e valorização da cultura vilaboense e goiana, a estes e quem interessar, esclarecemos que a OVAT e a Procissão do Fogaréu não participaram dessa exibição pelas ruas de Goiás e tão pouco tem conhecimento de quem sejam os possíveis autores.

Em detrimento da repercussão negativa que isso ensejou, tomaremos todas as medidas cabíveis junto as autoridades competentes: MP, Polícia Civil, MPF, Polícia Federal e OAB, e a estas nos colocamos à disposição naquilo que for necessário para averiguar a autoria deste fato.

Desde a fundação da OVAT, as suas atividades e realizações sempre semearam o ecumenismo ao lado da Igreja Católica, a harmonia com as demais religiões, o respeito entre elas e a ampla defesa aos direitos humanos.

A OVAT é contra: a incitação à ditadura, intolerância religiosa e étnica, preconceitos, silenciamentos, tortura, violência e quaisquer que sejam os atos que estimulem a violação dos direitos difusos e sociais.
Agradecemos a população e as instituições pelas manifestações e o apoio prestados.

Organização Vilaboense de Artes e Tradições – OVAT, fundada em 1965.