MEDICINA

Entidades goianas repudiam cartilha do governo federal contra maconha medicinal

Entidades ligadas ao estudo e popularização da cannabis medicinal em Goiás publicaram manifesto de repúdio…

Maconha medicinal (Foto: Reprodução)
Maconha medicinal (Foto: Reprodução)

Entidades ligadas ao estudo e popularização da cannabis medicinal em Goiás publicaram manifesto de repúdio a uma cartilha elaborada pelo governo federal que condena o uso do medicamento no país. Ao todo, o manifesto conta com assinatura de 26 organizações de todo o país.

Segundo o manifesto, o guia, elaborado pela Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas em parceira com os ministérios da Mulher, da Saúde, da Infraestrutura e da Justiça traz desinformação e trata o assunto de forma tendenciosa e ideológica.

Em Goiás, as entidades Curando Ivo e Associação Goiana de Apoio e Pesquisa à Cannabis Medicinal (Ágape) assinaram o manifesto que diz que as “informações distorcidas e inverídicas não vão impedir o avanço da regulamentação da cannabis para fins médicos, no Brasil”. Além disso, aponta que as entidades têm o compromisso de debater o uso médico da planta, dar visibilidade aos achados científicos e combater a desinformação.

“É importante destacar que há mais de 28 mil pesquisas científicas sobre o uso medicinal da cannabis, apenas na base de dados da PubMEd, referência em publicações da área de biomedicina. E o Brasil, mesmo com uma lei que criminaliza o cultivo da planta até para fins de pesquisa, é o maior produtor de estudos científicos sobre o uso da maconha medicinal, no mundo”, diz o texto.

O presidente da Associação Curando Ivo, Filipe Suzin, aponta que se trata de “crueldade” e “falta de humanidade” por parte do governo federal, já que há comprovação que a planta ajuda famílias em várias doenças crônicas.  “As associações se posicionam contra o governo que deveria estar aberto a nos ouvir, pois trabalhamos e levamos ciência sobre o assunto. Mas, pelo contrário, propaga desinformação e que, no fim, resulta na falta de acesso para quem precisa do medicamento”, critica.

É bom lembrar que Goiânia avançou no processo de liberação de pesquisa e distribuição da maconha terapêutica, com leis aprovadas na Câmara Municipal.

Medicamento

Além do manifesto, há também uma carta aberta escrita por médicos que representam a Sociedade Brasileira do Estudo da Cannabis (SBEC), de São Paulo, que demonstra com evidências baseadas em pesquisas que a cartilha recria fatos inverídicos.

O médico João Normanha, que assina a carta, aponta que o posicionamento não é estranho vindo do governo federal e do Conselho Federal de Medicina e da Associação Brasileira de Psiquiatria. Segundo ele, a cartilha somente reforça um tipo de pensamento já vigente, inclusive referendado no Decálogo da Maconha, publicado ainda em 2019, que se posicionam contra qualquer uso da maconha como medicamento.

“A primeira frase do Decálogo era que a cannabis não pode ser considerada medicamento, portanto não existiria maconha medicinal. Esse é o ponto referendado pelo governo federal agora. Cada ponto foi rebatido por grupo de médicos, do qual faço parte, baseado em evidências”, diz.

João Normanha aponta que dispensar o uso medicinal da maconha se trata de uma visão pessoal de alguém dentro do Conselho Federal de Medicina ou da Associação Brasileira de Psiquiatria e não científica. “A maconha é utilizada como medicamento há centenas de anos. Mas vamos considerar apenas aquele que passa pela validação de quatro etapas, como a Dipirona ou os opióides. Chama Mevatil ou Sativex, que possui THC e CDB. Temos Dronabinol, que é o THC sintético. O primeiro medicamento foi aprovado em 1992, em Israel”, rebate.

Neste sentido, o médico diz que se trata de um posicionamento do governo federal baseado em opiniões pessoais, calcadas carregadas de interesse e religião. O que é perigoso e irresponsável tratar como se fosse um posicionamento de uma entidade ou médicos.

“Quando se fala em maconha medicinal, se fala em pessoas com indicação médica, em há comprovação de que a cannabis auxilia na patologia. Essa pessoa não se automedica. O médico prescreve a dose, a quantidade, quantos dias vai usar, vai acompanhar o uso, e qual a melhor fórmula. Quando faz o uso terapêutico, os danos são minimizados”, diz.

A cartilha

A cartilha publicada ainda em junho, traz informações sobre o que chama de prejuízos causados pela droga à saúde, como transtornos mentais e doenças físicas, além dos impactos sociais, econômicos e às famílias dos dependentes químicos. O documento destaca ainda suposto fracasso de experiências de legalização e de flexibilização do controle sobre a maconha em outros países.

Entre os pontos levantados pelo governo federal há um especifico sobre o uso medicinal da planta intitulado de “O perigo da maconha dita ‘medicinal’ em que aparece em destaque “Maconha não é remédio. Não existe ‘maconha medicinal’. O texto diz que há pouquíssima evidências científicas sobre o assunto.