Pesquisa

Faturamento do comércio em Abadiânia caiu 38% após denúncias contra João de Deus

Um levantamento realizado entre os entes do Sistema S – Fieg, Sesi, Senai, IEL, Fecomércio,…

Um levantamento realizado entre os entes do Sistema S – Fieg, Sesi, Senai, IEL, Fecomércio, Sesc, Senac, Faeg, Senar e Sebrae Goiás – apontou que o faturamento mensal de estabelecimentos comerciais de Abadiânia, a 90 quilômetros de Goiânia, caiu 38%. Por trás do retrocesso estão as denúncias de abusos sexuais contra o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus. O turismo religioso era a principal fonte de arrecadação da cidade e fez com que ao município ficasse conhecido internacionalmente oriundos do religioso na Casa Dom Inácio de Loyola. Com o mapeamento da situação, intuito das entidades é utilizar dados para traçar meios para que a economia da cidade volte a aquecer.

O estudo retrata que, após as denúncias, o faturamento dos comércios da cidade não passou de R$ 1,6 milhão. Até novembro do ano passado, a arrecadação chegava a R$ 2,5 milhões. Praticamente o mesmo valor notificado em 2017, quando o faturamento chegou a R$ 2,4 milhões.

O grupo realizou uma pesquisa quantitativa com 255 empresários e gestores da cidade, entre os dias 8 a 17 de abril. Em maio, foi feita um novo levantamento, desta vez qualitativo, que envolveu três grupos grupos específicos: empresas de prestação de serviço e comércio; restaurantes, lanchonetes, hotéis e pousadas; empresários e artesãos. O resultado aponta que o setor de serviços representa a maior parcela das atividades econômicas (39,9%) do município. Na sequência vem a agropecuária (26,5%), comércio (13,8%), indústria (6,7%) e construção civil (5,8%).

O estudo mostra que, apesar do impactos atingirem toda a cidade, comércios que ficam próximos à Casa Dom Inácio do Loyola foram os mais afetados. Segundo a pesquisa, não houve uma padronização na queda de faturamento, mas que, em alguns casos, a retração no faturamento chega a 95%. O prefeito da cidade, José Diniz (PSD), destaca que o desemprego é o que mais preocupa a população.

“A principal dificuldade se refere ao desemprego. Com esse episódio, nós tivemos mais pessoas desempregadas do que já tínhamos antes. Abadiânia não era diferente do restante de nenhum lugar do Brasil. A questão do desemprego já existia. Num primeiro momento a nossa preocupação é a criação do novos postos de trabalho”, destaca.

A situação é comprovada em números. Trinta e um funcionários foram demitidos de postos de trabalho que ficam próximos à Casa João Inácio de Loyola. Em toda a cidade, ficou constatado que 45 empresas já foram fechadas. As empresas entrevistadas empregam 972 pessoas e, em muitos casos, são estabelecimento de cunho familiar.

A pesquisa trouxe que muitos dos entrevistados foram enfáticos em dizer que o impacto do escândalo não foi apenas financeiro e também psicológico. Assertiva que também confirmada pelo prefeito. “Foi uma coisa que aconteceu de repente. Fomos surpreendidos. O movimento da cidade cresceu muito. Numa segunda-feira a cidade era vazia. O movimento iniciava entre quarta e sexta, que era quando tinha os atendimentos na Casa. E nós tivemos uma chuva de imprensa do mundo todo e, naquele primeiro momento, ficou todo mundo sem entender o que estava acontecendo. […]”, pontua.

O presidente da Fecomércio, Marcelo Baiocchi, destacou que os números representam uma preocupação no comércio. Segundo ele, toda a cadeia comercial é atingida pela atual situação e, consequentemente, o município perde muitas riquezas em pouco espaço de tempo.

“Os dados são preocupantes até porque eles vêm junto com o momento econômico muito ruim do país, onde o PIB está menos de 1%. E, somado a perda da atratividade do comércio religioso que o município tinha, nós vimos números que precisam de ação. Precisamos trazer todos juntos para que isso aconteça: município, Governo do Estado e incentivos para a região”, ressalta.

PROVÁVEIS SOLUÇÕES

Os entrevistados levantaram na pesquisa diversas sugestões como forma de resolver a situação econômica do município. Entre elas estão a continuação do funcionamento da casa com outra pessoa, criação de um pólo universitário, industrial e até exploração para o âmbito do turismo no Lago Corumbá IV.

Abadiânia é o único município que conta com acesso pavimentado até o lago. Estamos direcionando as nossas forças para que os investidores no setor de gastronomia e da hotelaria para às margens do lago, que é um local muito bonito. Tem condições de receber pessoas do Brasil inteiro e a maioria das pessoas que ficaram desempregadas na cidade têm conhecimento nessa área”, explica o prefeito.

Vista do Lago Corumbá IV, local tido como fonte para explorar o turismo da região (Foto: Reprodução/ Google Street View)