JUROS ALTOS

Frear o consumo com aumento de juros é um erro, diz economista

Apesar de servir como tentativa de freio da inflação, economistas veem a alta da taxa básica de juros como uma medida cruel e ineficiente

Teto de juros do consignado a aposentados cai a 1,91%
Teto de juros do consignado a aposentados cai a 1,91% (Foto: Agência Brasil)

Em comunicado na última quarta-feira (8), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central confirmou o aumento da taxa Selic de 7,75% para 9,25% ao ano – o maior patamar em quatro anos. Como justificativa, o órgão alegou “ambiente menos favorável” no cenário externo e indicadores nacionais que apontaram evolução “abaixo da esperada”. Apesar de servir como tentativa de freio da inflação, economistas veem a alta da taxa básica de juros como uma medida cruel e ineficiente, que prejudica ainda mais o consumidor.

Neste mês de dezembro, a projeção dos analistas para a inflação de 2021 subiu de 10,15% para 10,18%. Foi a 35ª semana seguida de aumento. A resposta veio do Banco Central. Como efeito prático, a elevação da taxa Selic – taxa de juros nacional que impacta em todas as demais taxas de juro do Brasil – provoca a queda do consumo, uma vez que os produtos ficam mais caros nas prateleiras dos supermercados.

Para o professor e economista Aurélio Troncoso, o desestímulo do consumo através da alta dos juros é um erro deste governo e que já havia sido notado no governo anterior.

“É a ferramenta mais perversa em relação ao controle inflacionário […]. O governo está caindo no mesmo erro que o governo Dilma, porque a inflação que nós temos é a inflação de custo, não é a de demanda. Não somos nós que estamos indo ao supermercado e comprando em excesso”, afirma.

Banco Central anunciou alta da taxa Selic na última quarta-feira (8) (Foto: Agência Brasil)

Produtos mais caros, compradores mais escassos

Entende-se por inflação de demanda o aumento na procura por um determina produto no mercado, sem uma resposta compatível de oferta. Já a inflação de custo ocorre quando os fatores afetam diretamente o preço dos produtos, o que pode ter origem no custo de produção desse itens. O erro da estratégia do governo no caso em questão, para Troncoso, é que não há um excesso de compra por parte da população. Pelo contrário.

“Aumentaram praticamente todos os preços administrados pelo governo, como gasolina, gás de cozinha, óleo diesel, e subindo isso, sobem praticamente todos os outros produtos”, diz.

No início de novembro deste ano, o IBGE destacou o aumento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 1,53% em Goiânia, em relação a outubro. O órgão verificou aumento de 4,24% da gasolina, 2,66% do etanol, 6,35% do óleo diesel e do transporte por aplicativo (27,58%). No final do mesmo mês, o IBGE apontou que variação da prévia da inflação de 1,86%. O índice foi puxado pela energia elétrica (10,93%) e pela gasolina (5,87%).

Esfriamento do mercado imobiliário e comércio varejista

Uma vez que a Selic baseia todas as demais taxas na economia, todos os contratos feitos com a Selic como indexador (fator de ajuste) são impactados. O professor e economista Luiz Carlos Ongaratto, que se refere ao aumento de juros como um “tiro no pé” e medida ineficiente de controle inflacionário, destacou que a elevação para 9,25% da taxa acarretará em prejuízos na poupança, juros de cartão de crédito, cheque especial, financiamentos de imóveis e automóveis e empréstimos.

Em Goiás, uma das áreas mais afetadas deve ser a imobiliária. De acordo com o professor, o mercado imobiliário pode ter um “esfriamento”, sobretudo para pessoas de baixa renda que procuram por um imóvel – uma vez que as taxas de juros de financiamento são diretamente impactadas pela alta da Selic, tornando mais difícil o acesso ao crédito.

O comércio varejista, que já vinha mostrando índices negativos (o volume de vendas do comércio varejista em Goiás caiu 10,3% em outubro de 2021, na comparação com o mesmo mês do ano, segundo o IBGE), também pode sentir os efeitos da alta de juros. Uma vez que a intenção do aumento da Selic é, na prática, desestimular o consumo, o preço alto das mercadorias deve afugentar os consumidores.

“Área de construção civil também. Tudo que envolver um retorno, um gasto mais planejado, as pessoas vão ficar mais receosas de gastar”, conclui.