GOIÂNIA 87 ANOS | Expansão URBANA

Goiânia ganha 300 novos bairros em 20 anos, mas desenvolvimento é desordenado

Fundada no ano de 1933, a capital de Goiás, Goiânia, foi construída inicialmente para conter…

Fundada no ano de 1933, a capital de Goiás, Goiânia, foi construída inicialmente para conter cerca de 50 mil habitantes. Em 2020, 87 anos depois, a estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de que aproximadamente 1,5 milhão de pessoas vivam na cidade. Esse mesmo número representa um aumento de 500 mil habitantes em comparação ao início do século XXI, quando o censo do IBGE apontava uma população de “apenas” 1 milhão.

Para caber tantos novos goianienses, novos bairros surgiram ao longo desses 20 anos – e não foram poucos. Conforme aponta um levantamento feito pela Secretaria Municipal de Planejamento e Habitação de Goiânia (Seplahn), a capital goiana ganhou 296 bairros em apenas duas décadas. Do ano 2000 até o de 2020, foram 294 novos bairros aprovados pela prefeitura; 2 estão ainda em situação irregular – clique para ver a relação completa.

Para se ter uma ideia da quantidade de “mato que virou cidade”, a área pavimentada dos quase 300 novos bairros corresponde a cerca de 5 milhões e 800 mil metros quadrados, de acordo com o mencionado levantamento. No entanto, se por um lado Goiânia, ao longo de 20 anos, teve uma expansão tanto da população quanto da área urbana, por outro, a infraestrutura pode não ter acompanhado o mesmo ritmo de crescimento.

Linha do crescimento populacional de Goiânia até 2010, ano do último censo do IBGE / Foto: Prefeitura de Goiânia

Para a arquiteta e doutora em Geografia Urbana, Maria Ester, a capital ainda é carente nesse aspecto. A especialista acredita que a ampliação da cidade em si não significou, necessariamente, a distribuição de serviços e estruturas urbanas de lazer para a nova população, como escolas, cais, parques e praças. “Se você considerar que uma ligação de água, um poste de energia, o asfaltamento são o suficiente, eu diria que essa população tem o mínimo do mínimo para se instalar. Ela não tem exatamente a cidade”, avalia a arquiteta.

A escassez de estruturas e espaços urbanos na periferia destinados ao usufruto da população foi, inclusive, alvo de um programa lançado pela prefeitura em agosto do ano passado. O “Adote Uma Praça”, fruto de uma parceria público-privada, tem como objetivo a implantação, conservação, manutenção e execução de “melhorias urbanas e paisagísticas em equipamentos públicos da capital”.

Até o início deste ano, 18 espaços públicos em Goiânia já haviam sido acolhidos e recuperados pelo programa.

Expansão do perímetro

Maria Ester também teceu críticas à proposta inicial da atualização do Plano Diretor de Goiânia, apreciado pela Câmara Municipal em 2020, de aumento da área construída da cidade em cerca de 32%, proposta essa que não deve mais sair do papel. De acordo a arquiteta, a questão maior em Goiás é a multiplicidade de espaços vazios e não a falta deles, e os novos bairros de Goiânia seriam, conforme Maria Ester, um exemplo desse fenômeno.

“Nesses 300 bairros que surgiram em 20 anos, alguns deles têm uma ocupação que não chega a 20%. São enormes vazios […]. A expansão urbana é um tema que precisa ser debatido quando a cidade estiver lotada de gente com dificuldade de conseguir encontrar um lugar para morar”, conclui.