Porta Fechada

Investigada em esquema de fraude em concursos ofereceu casa de R$ 850 mil e não ficou com a vaga

Uma casa no valor de R$ 850 mil chegou a ser usada como forma de…

Uma casa no valor de R$ 850 mil chegou a ser usada como forma de pagamento para a obtenção fraudulenta de vagas em concurso em esquema investigado pela Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública (Dercap). A fraudadora pretendia obter uma vaga para ela própria em um concurso para delegado, e outra para a filha no curso de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Apesar do alto valor investido, as duas mulheres tiveram os planos frustrados, segundo o delegado Rômulo Figueiredo Matos. “Na época nós realizamos uma etapa da Operação Porta Fechada e prendemos o aliciador com quem ela tinha negociado”, explica.

A polícia apurou que o negócio foi desfeito após a repercussão da fraude provocada pelas prisões em flagrante no dia da 2ª fase do concurso público. Isso foi confirmado durante a análise da agenda apreendida em poder do aliciador na qual constam o nome, o número de inscrição e a senha de login da suspeita. Na página relativa ao dia 4 de março, constam diversos nomes e valores relativos à possível venda de aprovação no Enem. Junto ao nome de algumas pessoas há a expressão “não deu”.

O caso veio à tona após a deflagração da terceira etapa da operação, na manhã desta segunda-feira (30). Na ocasião, foram cumpridos oito mandados de prisão preventiva, 11 de conduções coercitivas e 19 de busca e apreensão. A mulher foi chamada pela polícia para falar sobre o caso, mas ficou em silêncio.

De acordo com o delegado, o prazo para a conclusão do relatório do inquérito sobre os casos apurados é de dez dias. Até lá, diversos procedimentos formais devem ser realizados, mas não há mais prisões previstas.

Prisões

Nesta segunda (30), oito pessoas foram presas preventivamente acusadas de envolvimento no esquema. São elas: Antônio Alves Filho, Antônio Carlos da Silva Francisco, Gabriel Ribeiro de Araújo, Hélio Garcia Ortiz, José Rosa Júnior, Ricardo Silva do Nascimento, Ronaldo Rabelo de Souza e Weverson Vinícius da Silva.

As prisões foram decretadas pela juíza Placidina Pires, da 10ª Vara Criminal de Goiânia. Ela também determinou conduções coercitivas, quebras de sigilo bancários e buscas e apreensões nas residências de supostos integrantes da organização criminosa.

Segundo investigações, candidatos de certames e vestibulares eram aliciados para que pagassem por aprovações. Em média, os valores variavam entre R$ 150 mil e R$ 450 mil, conforme a capacidade do “cliente”. De acordo com as apurações, as pessoas que aceitavam participar da fraude eram orientadas a preencher, apenas, algumas questões no cartão-resposta. Após término das provas, os cartões eram completados com marcações corretas, conforme gabarito oficial. Apurações indicam que faziam parte da organização criminosa membros das bancas organizadoras.

Ricardo Silva do Nascimento, ex-funcionário do Cespe — atual Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe) –, é apontado como o pivô do esquema. Ele seria o responsável por levar os cartões para casa e preenchê-los. Em depoimento prestado nesta segunda, ele negou participação nas fraudes. No entanto, a polícia confirma que há imagens, gravadas por câmeras de segurança, que mostram ele manuseando os cartões de alguns candidatos.

Dentre os presos, Weverson Vinícius e Hélio Garcia são apontados como responsáveis, também, por providenciar diplomas falsos para candidatos interessados nas vagas, mas que não tinham a graduação exigida para os cargos pleiteados. Além disso, a Polícia Civil aponta que o esquema criminoso foi articulado também nos Estados de Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo.

Há a suspeita de que ao menos quatro pessoas tenham ingressado na UFG valendo-se do esquema criminoso. Apesar disso, a universidade informou que não foi notificada ou contatada formalmente sobre a operação realizada pela Polícia Civil. “Após a notificação serão avaliadas as medidas pertinentes”, diz nota emitida pela instituição.