Abusos sexuais

Mais duas vítimas relatam como ocorriam os abusos sexuais do pai de santo, em Santo Antônio do Descoberto

Diante à prisão do pai de santo Francisco de Assis Maximiliano, de 43 anos, outras…

O pai de santo Francisco, suspeito de abuso sexual contra ao menos cinco menores, deverá ser ouvido pela PC na próxima semana. (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
O pai de santo Francisco, suspeito de abuso sexual contra ao menos cinco menores, deverá ser ouvido pela PC na próxima semana. (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Diante à prisão do pai de santo Francisco de Assis Maximiliano, de 43 anos, outras duas vítimas procuraram o Mais Goiás e relataram como se davam os abusos sexuais dentro do terreiro de Candomblé, que fica em Santo Antônio do Descoberto. De acordo com uma das vítimas, de 17 anos, o pai de santo a ameaçava por diversas vezes com uma arma. Os nomes delas não serão divulgados.

Uma estudante conta que tinha 12 anos quando frequentou o terreio pela primeira vez. Alegou que foi ao local para tentar se entender espiritualmente. Segundo a jovem, ela contou que Francisco usava uma entidade, que as meninas chamam de Vó Teresa. “Ela chegou em mim e disse que era o meu destino ficar com ele”, conta.

A menina conta que procurou uma outra pessoa e contou o que a entidade tinha dito. Segundo ela, esta pessoa tinha aconselhado ela a se afastar do local pois ela era apenas uma criança e que o suspeito tinha a idade de ser o avô dele. “Apesar disso, ele foi me buscar em casa. No dia, ele incorporou a Vó Teresa e ela me disse que ele não iria mais mexer comigo”, conta.

Entretanto, segundo a estudante, ele nunca parou. Um dia, relata, ele incorporou a entidade novamente. O discurso foi o mesmo: Vó Teresa alegava que era o destino da menor manter relações sexuais com a jovem. “Uma das vezes, ela até falou para eu namorar com ele, mas eu disse que não”, ressalta.

A menor se emocionou ao relembrar uma vez que quase foi violentada no terreiro. “Ele pegou meu braço e apertou. Começou a me enforcar e falava para eu não gritar, que ninguém me ouvir. Ainda bem que alguém abriu a porta da cozinha e eu corri e me tranquei num dos quartos”, conta.

A adolescente conta que o homem utilizava diversas vezes da violência psicológica para convencê-la de praticarem sexo com ele. “Eu parei de ir, mas não contei o que estava acontecendo pois ninguém estava acreditando em mim. Ele passou a ir na minha casa e começou a me ameaçar: dizia que iria matar minha mãe e minha família. Também dizia que as pessoas poderiam suspeitar de algo”, destaca.

Ela não aguentou e chorou quando contou a primeira vez que foi violentada pelo pai de santo. Segundo ela, Francisco foi à casa dela e a chamou com o pretexto de comprar camarão. O pai de santo estava com o filho e, com isso, ela foi.

“Só que ele deixou o menino na casa de um parente e me levou para um motel. Eu falei que não queria, mas ele entrou comigo dentro do local. Em determinado momento, ele falou que era ‘para eu parar de frescura’. Com isso, ele pegou uma arma e colocou no colo” conta a menina emocionada.

E continua: “Ele queria que eu descesse do carro e eu novamente disse que não. Mas ele puxou meu braço, me levou para o quarto e subiu em cima de mim”, conta a menina, emocionada. Ele colocava a arma na minha boca e dizia que ia me matar. Com isso, ele tirou a minha roupa e me violentou. Após isso, ele me deixou em casa como se nada tivesse acontecido”.

Segunda vítima

A segunda vítima, que também tem 17 anos, afirma que foi vítima do pai de santo aos 12 anos. Segundo disse, um dia estava na cozinha dele quando o suspeito chegou, tocando-a inapropriadamente. “Ele me beijou a força. Eu fiquei muito assustada. Saí correndo e me tranquei no quarto da filha dele. No dia seguinte, eu fui embora”, relata.

A jovem contou que deixou de ir no local por alguns tempos. Mas logo depois, recebeu o convite por parte da Vó Teresa e foi até o local. Após tomar um chá, ele a beijou mais uma vez. A vítima também alegou que faltava uma semana para a primeira vez em que aconteceu o primeiro abuso.

“Ele me levou no shopping e me comprou um presente. Quando sairmos, ele passou no motel. Ele me disse que eu ‘teria que pagar o presente que ele tinha me dado’. Eu falei que não queria fazer isso porque ele era como um pai para mim. Mas ele me ignorou, ele tirou a minha roupa e me violentou”, lembra a menina, chorando.

A menina conta que ficou com medo da situação e contou para outros dois frequentadores da casa. Segundo ela, começou daí a desacreditação dela como vítima. “Eles chamaram a Vó Teresa e ela disse que eu estava mentindo e com problemas. Após isso, ele – já desincorporado da entidade – me chamou e disse que poderia matar a minha família. Com medo, eu não quis contar para a minha mãe”, destaca.

A menor contou que não tinha denunciado pois ninguém acreditava nela. Apesar disso, ela afirma que Francisco sempre manteve contato com ela por meio de mensagem. E em uma delas, a mãe da menina viu. “Ela foi tirar satisfação, mas ele negou tudo. Eu nunca mais voltei lá. Tive que mudar de cidade, pois eu era constantemente ameaçada. Quando surgiu a vítima mais recente, eu tive essa coragem que eu queria ter desde o início”, conta.

Ameaça

A mãe da primeira vítima, que preferiu não se identificar, disse que recebem ameaças constantes de frequentadores do terreiro. Segundo ela, tudo isso já está notificado na polícia. “Queremos justiça! Que outras meninas que foram vítimas tomem coragem e denunciem esse homem. Ele tem que saber que criança foi feita para amar e educar e não ser vítima de violência sexual”, ressalta.

A mulher conta que ele é uma pessoa muito conhecida na cidade e que o local tinha entre 40 e 45 pessoas que são intituladas como “filhos”. Ela ainda conta tudo o que as meninas estão passando ultimamente. “Elas estão muito abaladas. Passam o tempo todo chorando. Elas eram expostas a situações horríveis como ingerir grande quantidade de bebida alcoólica e fumar um cachimbo com maconha para depois serem abusadas”, conta a genitora.

Investigações

O caso está sendo investigado pela delegada Silzane Bicalho. Mais cedo, ao Mais Goiás, a delegada afirmou que o suspeito deverá ser ouvido até a próxima terça-feira (21). Quando foi preso, na última segunda-feira (13), ele usou o direito constitucional de se manter em silêncio. Ela ainda adiantou que ouve cerca de 50 testemunhas sobre o caso.

O portal entrou em contato com o advogado de Francisco, Renato Manuel Duarte Costa, e aguarda retorno sobre o caso.