Denúncia na saúde

Médicos do Hutrin denunciam falta de pagamento por ‘birra política’

Nesta quarta-feira (22), médicos do Hospital Estadual de Urgências de Trindade Walda Ferreira dos Santos (Hutrin),…

Nesta quarta-feira (22), médicos do Hospital Estadual de Urgências de Trindade Walda Ferreira dos Santos (Hutrin), denunciam ao Mais Goiás que estão sem salário há vários meses. Com o problema da falta de pagamento, servidores estão pedindo demissão da unidade, que sofre com a falta de profissionais.

Falta de pagamento

Um médico do Hutrin, que preferiu não se identificar, não recebe há três meses. Ele denuncia que outros colegas estão há cinco meses sem salário. “Meu último pagamento foi referente ao mês de agosto. O triste é que muitos médicos dedicam 80% de seu tempo no Hutrin, não têm outro trabalho e precisam do dinheiro”, sublinha.

De acordo com ele, o salário não está sendo repassado pois o Instituto Gerir apoiou a candidatura de Ronaldo Caiado (DEM) a governador. “A Secretaria de Saúde passou a fazer ‘pirraça’, e a atrasar os repasses aos hospitais administrados pela empresa, sem outra causa justificável”.

“Quando os repasses são feitos, pagam todas as outras dívidas primeiro, deixando os médicos por último. O repasse do mês de setembro consta no Portal da Transparência, mesmo assim não recebemos. Já de outubro ainda nem consta no portal. Só prometem que vão nos pagar e nada”, declara o servidor.

Sobre o funcionamento do hospital, o médico descreve que no início do mês de junho voltaram os problemas de repasse de dinheiro, especificamente para a Gerir. “Começou a faltar recurso para material e medicamento, além dos salários. Está muito difícil”, declara.

Na tabela abaixo, é possível verificar os valores repassados ao Hutrin

Para visualizar melhor, clique aqui.

Repasses para o Hutrin durante 2018 (Foto: Reprodução)

Quadro reduzido

Sobre a falta de médicos para atender a população, o funcionário aponta que o necessário para o Hutrin são três plantonistas contínuos e o médico da enfermaria, porém o quadro está diminuído. “Tem dia que só fica um médico para o hospital inteiro, e houve casos de não ficar um sequer. Ontem (21), estava sem médicos e amanhã (23) haverá somente dois profissionais. Trindade não tem hospital particular que atenda emergência. A cada dia que passa, a situação na cidade só piora”, comenta.

O problema já foi denunciado outras vezes pelo Mais Goiás. Em março de 2016, vários servidores sofreram com atrasos nos salários, e pacientes relataram lixo e até baratas no local. Em janeiro de 2017, funcionários paralisaram suas atividades por falta de pagamento, situação que se repetiu em outubro deste ano.

“O diretor geral pediu demissão no mês passado e até hoje não contrataram outro. Trabalho aqui há mais de um ano e a unidade está esse tempo todo sem diretor clínico. O diretor técnico precisa assumir esta parte também, e não consegue atender toda a demanda devido à sobrecarga. Um colega médico está sem receber e o último plantão dele será amanhã (23), pois pedirá demissão”.

Hutrin (Foto: Reprodução Google Street View)

Outra médica, que não se identificou por medo de retaliações, aponta a escala incompleta do hospital. “Falta também muitos remédios, e a SES não se posiciona. Sempre nos prometem pagamento, e nada. Acho sim que os médicos que saíram da escala de plantão sofreram retaliações, o que é revoltante”, comenta.

Com a população desassistida, a médica aponta que muitos pacientes acham que o problema é por culpa dos médicos. “Os pacientes ficam revoltados com a situação do Hutrin. Já chegou ao cúmulo de faltarem medicamentos e insumos. É muito desmotivante para os médicos trabalhar dessa forma”, conclui.

Em grupo de Whatsapp da unidade, é possível observar as promessas de pagamento feitas aos médicos.

Print enviado por médica do hospital (Foto: Reprodução/Whatsapp)

A SES-GO definiu esta semana que a partir da próxima terça-feira (27), o Instituto Gerir não fará a cargo da gestão do Hutrin, passando a ficar sob responsabilidade do Instituto CEM. Sobre a mudança, o servidor informou que nenhum funcionário foi informado sobre. “Soubemos por terceiros sobre a instituição nova. Ninguém se apresentou, desconhecemos sobre a CEM”.

“A situação está calamitosa. Muito injusto e triste para a população. Eu estou com dificuldade mas tenho outro trabalho, e a população como fica?! O pior é que tudo isso é por ‘birra política'”, conclui o médico.

O Mais Goiás tentou contato com o Instituto Gerir, e até o fechamento desta matéria não obteve retorno. Por nota, a SES informou que: “os valores [não repassados] foram anulados para a realização dos ajustes financeiros do contrato”.