TERAPIA EXPERIMENTAL

Médicos goianos coletarão plasma de recuperados da Covid-19 para pesquisa

O Hemocentro de Goiás dará início, em breve, à coleta de plasma de pacientes que…

Médica Alexandra Vilela Gonçalves, uma das coordenadoras da pesquisa (Foto: Reprodução)
Médica Alexandra Vilela Gonçalves, uma das coordenadoras da pesquisa (Foto: Reprodução)

O Hemocentro de Goiás dará início, em breve, à coleta de plasma de pacientes que contraíram o coronavírus e superaram a Covid-19. O objetivo é provar que o uso do plasma é eficaz na recuperação de pacientes. A informação é de Alexandra Vilela Gonçalves, diretora médica da Hemorrede Pública de Goiás.

Ao todo, são 12 profissionais da saúde de diversas áreas de atuação envolvidos. A coleta será feita em cem pessoas curadas. Elas terão o plasma coletado e o material será usado para desenvolvimento de anticorpos contra o vírus.

A diretora diz que novos doadores de plasma poderão surgir, mas não para a pesquisa. “Para o trabalho científico você tem que dar um número exato. Mas o Ministério da Saúde já liberou o uso compassivo do plasma. Caso atinjamos o máximo de pacientes, ainda assim será possível recolher mais plasma, mas fora da pesquisa”, exploca. Questionada sobre o que é o plasma, ela explica que é a parte do sangue onde ficam as proteínas. “E o anticorpo é um tipo de proteína”.

Alexandra lidera o projeto junto da hematologista do Hemocentro Coordenador, Maria do Rosário Ferraz Robert, e pneumologista Marcelo Rabahi, coordenador de Ensino e Pesquisa do Instituto de Desenvolvimento Tecnológico e Humano (Idtech), organização social responsável pela administração do Hemocentro.

Detalhes

A médica diz que é possível saber quando uma pessoa contrai o vírus e produz anticorpos. São as proteínas, que ficam no plasma, que ajudam a matar o agente. “Então, é exatamente para coletar de pessoas que se recuperaram e passar para pessoas que estão desenvolvendo sintomas mais graves.” Ela expõe que a ideia é promover o tratamento em pessoas nos primeiros sinais de gravidade, para que não haja evolução do quadro, mas diz que aqueles na forma mais grave também poderão utilizar o recurso.

“Esse tipo de pesquisa já foi feita com a H1N1 e teve resultados positivos. Mas não sabemos se terá a mesma eficácia, por isso é considerada uma terapia experimental.” Questionada o porquê da demora em iniciar essa pesquisa, ela afirma toda terapia precisa passar por um crivo grande e se basear em trabalhos já realizados e aprovados.

“Nos hemocentros do País inteiro se mobilizaram para aplicação. Praticamente todos já se organizaram para isso”, destaca. Ela cita, ainda, que São Paulo foi o primeiro conseguir iniciar as pesquisas pelo alto número de casos, mas no mais, todos irão começar em momentos próximos.

Quem pode doar e receber

Segundo informações da médica, podem doar as pessoas que tenham idade de 18 a 60 anos; peso igual ou superior 65 Kg. No caso do sexo feminino, é necessário, também, que não tenha gestações prévias.

Outro ponto fundamental é que a pessoa tenha sido diagnosticada com o vírus, mas já estar sem sintomas há mais de 14 dias. Os receptores serão pacientes em estado grave, internados em hospitais públicos.

Segundo informado, não existe prazo para a relação da coleta. Trata-se do primeiro estudo do gênero em instituições do Sistema Único de Saúde (SUS) em Goiás. Inicialmente, a ação ocorre em hospitais de Goiânia, mas, posteriormente, é possível que outras unidades do Estado sejam contempladas.

Sobre o processo, Alexandra diz ser semelhante a uma doação de sangue, mas com uma máquina que filtra o plasma. “Já recebemos um grande número de ligações e estamos agendando os exames – inclusive para verificar a presença de anticorpos”, adianta. “Quando os exames estiverem prontos, chamaremos para a efetiva doação.”

Segundo ela, os plasmas devem começar a ser colhidos, de fato, a partir da próxima segunda. “É o temo dos primeiros exames ficarem prontos.”

Projeto de lei

Será apresentado na Câmara de Goiânia um projeto de lei que incentiva a doação de plasma sanguíneo para o tratamento de doentes graves da Covid-19. A matéria foi elaborada no último dia 19 pelo presidente e vice-presidente de Comissão Especial de Direito Civil da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de Goiás (OAB-GO), Clodoaldo Moreira dos Santos Júnior e Tiago Magalhães Costa, e entregue ao vereador Luca Kitão (PSL).

“Os recuperados da Covid-19 que se adequarem aos critérios para doação de plasma sanguíneo e, efetivamente realizem o ato, terão desconto de 5% até 20% no pagamento da taxa de IPTU de imóvel residencial, de sua propriedade, situado no município de Goiânia”, prevê a matéria.

Para Clodoaldo Moreira, “a norma representa uma evolução no tratamento dos pacientes graves, visto que vai lhes dar mais uma possibilidade de luta que, sem o incentivo fiscal, provavelmente não existiria”. Tiago Magalhães, por sua vez, afirma que “em tempos de situações extremas, de emergência em saúde pública, medidas excepcionais devem ser adotas pelo Estado, dando assim incentivo a toda e qualquer medida efetiva que vá combater o vírus”.

O vereador Lucas Kitão, que recepcionou a minuta de iniciativa dos advogados e professores, destacou que o “Poder Público deve dar sua parcela de contribuição para minorar o sofrimento da população, premiando a pessoa que se dispuser a doar parte de seu corpo e tempo na tentativa de salvar vidas”. A intenção da Lei é ampliar ao máximo o número de doadores e, assim, colaborar para que os infectados pelo coronavírus tenham uma esperança a mais de cura.