Homicídio Culposo

MP denuncia cinco pessoas em caso de aluno da UFG morto em misturador de ração

O promotor de justiça Vilanir de Alencar Camapum Júnior protocolou denúncia contra cinco pessoas  pelo…

O promotor de justiça Vilanir de Alencar Camapum Júnior protocolou denúncia contra cinco pessoas  pelo homicídio culposo -quando não há intenção de matar – do estudante Lucas Silva Mariano, morto em 24 de junho de 2017, no Campus Samambaia da Universidade Federal de Goiás (UFG). O acadêmico de medicina veterinária foi prensado pelas engrenagens do vagão misturador de rações, equipamento situado no setor de confinamento experimental de bovinos de corte da instituição.

O tratorista Lucas de Sousa; os professores Juliano José Rezende Fernandes e Vitor Rezende Moreira Couto; o diretor da faculdade, Marcos Barcellos Café; e a gestora do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor (Siass), Edinamar Aparecida Santos da Silva, compõem o grupo de envolvidos.

No documento, Vilanir relata que o tratorista – que deveria ser orientado pelos professores – confessou haver recomendações para acionar as máquinas somente depois de verificar se não havia ninguém dentro dela. Segundo próprio acusado, alunos costumavam espalhar rações para mistura dentro do vagão. “Ele estava ciente dessa conduta arriscada, mas os permitia entrar, como foi o caso da vítima”, observa. Para o MP, Lucas de Sousa foi negligente e poderia ter evitado o acidente motivo pelo qual é encarado como um dos responsáveis pela morte do estudante.

A peça acusatória expõe que diversos alunos, bem como Lucas, reforçaram que o serviço seria mais difícil e de pior qualidade se as pessoas deixassem de entrar no equipamento. A outra alternativa para realização do trabalho era, pelo lado de fora, equilibrar-se sobre as lâminas do misturador, como ocorreu com a própria vítima momentos antes de dar entrada no vagão.  O tratorista admitiu nunca ter feito curso formal sobre operação e segurança das máquinas, tendo feito somente treinamento com técnicos.

Para Vilanir, além de Lucas,  os professores Juliano José e Victor Rezende eram responsáveis pela segurança dos alunos e foram omissos e negligentes nesse caso. Em depoimento, Vitor chegou a afirmar que se vagão fosse equipado com plataformas fixas, a tarefa de espalhar a ração seria mais segura.

Segundo o promotor, Juliano é responsabilizado porque delegou, conforme foi apurado, as funções de chefe imediato, professor ou coordenador de estágio ao mencionado tratorista. “Era ele quem distribuía as tarefas, ensinava o uso do maquinário e autorizava os procedimentos alternativos, ainda que arriscados”.

Por terem ciência da forma como os trabalhos eram conduzidos no local, diretor da faculdade, Marcos Barcellos Café e a gestora do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor (Siass), Edinamar Aparecida Santos da Silva, também podem ser responsabilizados.

A Administração Superior da Universidade Federal de Goiás informa que não irá se manifestar sobre a notícia da denúncia oferecida pelo Ministério Público do Estado de Goiás contra servidores da instituição, referente ao caso da morte do estudante Lucas Silva Mariano. A UFG não foi notificada e não conhece o teor da denúncia.

Acidente

Às 7h do dia 24 de junho de 2017, estudantes dos cursos de agronomia, zootecnia e medicina veterinária participavam de aula prática para confecção de ração sob os cuidados de Lucas de Sousa.

Ao iniciarem os procedimentos, o trator foi deslocado para a área do volumoso para colocar o bagaço da cana dentro do misturador. A vítima entrou no vagão e “pegou carona” dentro da máquina até o galpão do concentrado, sendo costume tal atividade.

Com intuito de iniciar uma segunda fase da mistura, o tratorista disse para Lucas Mariano descer da máquina e, pensando que ele já estivesse fora do vagão, ligou o equipamento segundos depois.

No mesmo instante, estudantes presentes gritaram para que o misturador fosse desligado porque o acadêmico ainda se encontrava em seu interior. Com ela desligada, o tratorista foi até a máquina onde constatou o óbito.

Escola de veterinária da UFG (Foto: Reprodução/Google Street View)

 

*Fabrício Moretti é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo