15/10 - Dia dos Professores

“Não há o que celebrar, mas é preciso ter esperança”, ressaltam profissionais

No Brasil, há cerca de 2,2 milhões de professores, esta é considerada a profissão mais…

Escolas privadas podem voltar aulas presenciais com rodízio de alunos em agosto, desde que a Secretaria de Saúde autorize a retomada. (Foto: Reprodução/Folha Press)
sala de aula alunos colégio

No Brasil, há cerca de 2,2 milhões de professores, esta é considerada a profissão mais numerosa de todas, de acordo com pesquisa realizada pela organização Todos Pela Educação (TPE). O levantamento, que ouviu 2,1 profissionais de todo o Brasil em 2019, constatou um clima de infelicidade desses profissionais com a atividade que desempenham: 49% afirmaram que não recomendariam a docência aos jovens. Dentre os principais motivos estão os baixos salários (31%), necessidade de trabalho extra para complementar renda (48%) e cargas horárias que chegam a 60h semanais (15%). Por esses e outros fatores, sindicato e docentes ressaltam, nesta terça-feira (15), Dia dos Professores, que não há o que comemorar, embora haja luta para manter a esperança em um contexto de dificuldades.

É o caso do docente Romualdo Pessoa, doutor em Geografia e professor de Geopolítica desde 1995, na Universidade Federal de Goiás (UFG). Romualdo, argumenta que o atual momento vivido pela educação no Brasil é de extrema complexidade. Para o docente, não bastassem as dificuldades vividas pela área ao longo dos anos, agora o governo federal chama de “gastos” os subsídios para a educação brasileira, que seriam investidos em pesquisas científicas. 

“É muito triste saber que o ministro responsável pela educação parece fazer de tudo para destruir o que foi construído de positivo nessa área ao longo dos anos. O Brasil é o único país que tem feito congelamento na área da educação. Não há sociedades evoluídas que não tenham investido de verdade nessa seara e a priorizado tanto quanto a saúde”, reclama.

Professor Romualdo Pessoa, de 62 anos, leciona há 24 anos na UFG (Foto: Reprodução/Facebook)

Professor Romualdo Pessoa, de 62 anos, leciona há 24 anos na UFG (Foto: Reprodução/Facebook)

Mas para Pessoa, é importante não perder as esperanças de que a realidade melhore e de que novas políticas públicas em favor do ensino de qualidade surjam. “Sempre costumo falar para os meus alunos que devemos ser ‘realistas esperançosos’, como diria Ariano Suassuna. Porque se nós perdermos a esperança naquilo que a gente acredita, estaremos fadados a entrar em um processo de depressão em nossa área. Sempre temos que ter esperança de que as coisas vão mudar. De que vão melhorar”, conclui.

Importância

A importância da educação também foi ressaltada pela professora de Ciências Contábeis e Direito Tributário, Luzimar Morais, que ingressou a atividade a cerca de 1 ano. Para a docente, que vem de uma família de professores e ainda carrega a energia comum àqueles que dão início à carreira,
é uma também é uma pena o momento vivido pela educação brasileira. Luzimar salienta o quão importante o conhecimento é para a formação do ser humano, o que também contribui para a melhora do
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da nação.

Os cortes de verba pública para a educação no Brasil realizados pelo Ministério da Educação (MEC), conforme explica a professora, afetam diretamente o andamento de pesquisas desenvolvidas, o que pode deixar . “Sabemos que as pesquisas em peso são realizadas pelas universidades públicas e com os congelamentos, o Brasil pode ficar para trás nessa corrida tecnológica com outros países. Não há incentivo para a área privada fazer pesquisas científicas e tecnológicas. Nossa força está nas universidades públicas do Brasil. Essas pesquisas aumentam o desenvolvimento do país muito mais do que apenas a exploração de recursos naturais”, argumenta.

À despeito do momento de dificuldade, a professora compartilha boas experiências que teve nesse curto período de sala de aula, revelações que, de certo modo, fazem coro com o discurso esperançoso do experiente Romualdo. Segundo ela, o sonho de ensinar fez parte de sua infância, uma vez que a docência já era um ramo explorado pela família materna. “É de família. Minha mãe foi professora de português por muitos anos. Eu cresci ouvindo minha família falar com tanto carinho sobre a docência e desde pequena uma parte de mim sempre soube que era isso que eu queria fazer. Ser professora é muito gratificante. Não há maneira melhor da gente se atualizar e aprender. A sala de aula me surpreendeu de uma maneira positiva”, relata.

Luzimar Morais é professora de Ciências Contábeis há cerca de um ano (Foto: Arquivo pessoal)

Luzimar Morais é professora na Faculdade Sul-Americana (Fasam) há cerca de um ano (Foto: Arquivo pessoal)

Luzimar leciona hoje na mesma instituição que cursou sua graduação em Direito, . Ela lembrou o quão nervosa estava quando como professora adentrou pela primeira vez na mesma sala de aula que por anos ocupou uma das cadeiras de aluno. “Fiquei com frio na barriga, eu estava muito ansiosa e empolgada. Mas desde o início eu fui muito bem recebida não só pelos alunos, mas também pela equipe docente. Antes meus professores, hoje meus colegas de trabalho”, declara.

Dia feliz?

A situação dos professores da rede pública é a mais grave entre as averiguadas pelo levantamento nacional: 29% dos professores da rede pública não conseguem viver apenas com o salário de professor e têm de fazer trabalhos extras para conseguir pagar as contas do mês. Cerca de 33% dos professores estão totalmente insatisfeitos com a profissão. A maioria das pessoas que escolhe a sala de aula como ofício deseja aumento salarial (62%) e querem urgentemente formação continuada (69%). Os docentes pedem a restauração da autoridade e respeito junto a comunidade escolar (64%) e também querem ser ouvidos para a formulação de políticas educacionais.

Para a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), Bia de Lima, a pesquisa reflete um ambiente desgastante bem conhecido pelos professores goianos. Segundo ela, professores estão adoecendo com problemas de toda ordem em razão da sobrecarga de trabalho, salários baixos e desvalorização da profissão. “Não temos nada a comemorar neste 15 de outubro, infelizmente”, complementa.

Bia ressalta que a escolha da profissão “por amor” cada vez mais cede espaço ao desânimo. “Acabou essa história de pessoas que estão na educação por amor. É nítido o adoecimento de nossos professores, desde problemas físicos a problemas psiquiátricos. O governo estadual, por exemplo,  não conhece a educação, não conhece os professores e nos usa como bodes expiatórios. É triste ver que preferem construir cadeias a construir escolas”, argumenta.

O Mais Goiás entrou em contato com a Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc) e o Ministério da Educação (MEC) através de e-mail e ligação, às 12h33 desta segunda-feira (14), mas até a publicação da matéria não obteve resposta.

*Thaynara da Cunha é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Hugo Oliveira