Surto de infecção

Nefroclínica será reaberta na sexta-feira

Apesar da Vigilância Sanitária e Ambiental (Visa) de Goiânia afirmar que ainda precisa avaliar as…

Apesar da Vigilância Sanitária e Ambiental (Visa) de Goiânia afirmar que ainda precisa avaliar as adequações do local, uma das proprietárias da Nefroclínica, Alessandra Vitorino Naghettini garantiu ao Mais Goiás que a clínica será reaberta na manhã da próxima sexta-feira (15/07). “Abre sexta de manhã. A gente já está se organizando para isso, trazendo os pacientes”, disse.

A Nefroclínica foi interditada pela Visa na última quinta-feira (07/07) após receber denúncia anônima sobre um possível surto de infecção em uma clínica de hemodiálise da capital. Mas os problemas começaram três dias antes, na segunda-feira (04), quando quatro pacientes passaram mal durante a realização do procedimento médico no local. “Na segunda foram poucos casos, então a gente conseguiu trabalhar”, disse Alessandra.

Como conduta padrão, a clínica fez uma desinfecção na noite de segunda-feira e voltou a atender normalmente na terça (05). Mais pacientes voltaram a passar mal e seis deles chegaram a ser internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Um deles, Fructuoso Ribeiro Rosa, de 84 anos, morreu um dia após fazer hemodiálise na clínica.

“Esse senhor, quando ele saiu daqui, ele estava bem e foi para casa. De casa ele não nos procurou mais, ele foi direto para o hospital. E esse senhor, especificamente, a gente ainda está aguardando um laudo para ver se a questão do falecimento tem relação com esse processo ou não”, contou a proprietária da clínica.

Ao todo, 35 pacientes passaram mal. Até o início da tarde desta quarta-feira, três ainda estavam na UTI e dois permanecem internados. Todos apresentam quadro clínico estável e respiram sem a ajuda de aparelhos.

Sem explicação

Até o momento, não se sabe ao certo a causa do surto na clínica. Durante entrevista coletiva realizada na tarde desta quarta-feira, o gerente de Fiscalização e Projetos da Visa, Dagoberto Costa, disse que a hipótese é que o tratamento realizado na noite da segunda-feira (04) não tenha sido “realmente efetivo”, por isso mais pacientes teriam passado mal na terça.
Coletiva

O gerente de Fiscalização e Projetos da Vigilância Sanitária, Dagoberto Costa, concedeu entrevista na tarde desta quarta-feira para explicar o caso à imprensa

Duas análises realizadas pela Saneago já atestaram a qualidade da água fornecida a clínica. Outros três laudos também foram analisados pela Vigilância Sanitária: o primeiro, do dia 04, apresenta taxas normais. Já o segundo, realizado na terça (05) – dia em que foram registrados os problemas –, apresentou parâmetros de endotoxinas que ultrapassam os limites permitidos.

“Endotoxina é causada pela morte das bactérias. Se você tem uma proliferação de bactérias e entra com um produto desinfetante, esse produto age e mata a bactérias. Mas a membrana celular da bactéria é capaz de causar problema”, explicou o gerente de Fiscalização e Projetos da Visa.

O último laudo, do dia 08 de julho, voltou a mostrar taxas em parâmetros permitidos. Segundo Costa, a Vigilância Sanitária ainda aguarda outro relatório produzido pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) para liberar a reabertura da clínica. “A gente acredita que agora, com todos os laudos, talvez na sexta ou, no mais tardar, no sábado, ela retorna as atividades”, ponderou.

A Visa também deve analisar o cumprimento de uma série de recomendações que foram feitas a clínica. Dentre elas estão ações corretivas e preventivas de segurança do paciente, monitoramento microbiológico da água, estratégias de controle da contaminação do sistema, além da apresentação de relatório técnico que comprove a confiabilidade das máquinas de hemodiálise.

As adequações serão avaliadas na próxima sexta-feira (15) e, se atendidas, os serviços poderão ser desinterditados pela Vigilância no mesmo dia. Segundo Costa, o esforço da Visa em reabrir a clínica é para evitar a sobrecarga do sistema de saúde, já que mais de 200 pacientes deixaram de ser atendidos na Nefroclínica e a rede não tem condições de atender a demanda. “Os pacientes que faziam 4 horas de hemodiálise estão fazendo 2 horas e meia nesses outros hospitais e isso não é o certo”, alertou.

Negligência

Em entrevista ao Mais Goiás, dois filhos de pacientes, que preferiram não se identificar, reclamaram do atendimento prestado às vítimas do surto. Para eles, a clínica deveria ter sido fechada no momento em que foram detectados os problemas e os pacientes deveriam ter sido monitorados.

“Todos deveriam ter ficado de observação, eles não poderiam ter voltado para casa. Eles esperaram os pacientes se estabilizarem e mandaram eles de volta para casa. O que aconteceu com o meu pai poderia ter sido evitado”, diz o filho de um idoso de 65 anos que estava em uma reunião quando o pai passou mal após chegar em casa depois de ter sido liberado na Nefroclínica. O senhor não conseguiu chamar um táxi e, mesmo tremendo e vomitando, pegou o carro e dirigiu sozinho até um hospital na região sul de Goiânia, onde foi internado na UTI.

A proprietária da Nefroclínica disse que todos os pacientes foram atendidos prontamente. “Aqueles que a gente entendia que precisava de hospital foram encaminhados para o hospital, e aqueles pacientes que a gente mandou para casa era porque a gente entendia que eles estavam estáveis e que poderiam ir para casa. Mas quando o paciente voltava [para a clínica] a gente avaliava se precisava ir para o hospital ou não. Em momento nenhum a gente atuou com negligência em relação a esses pacientes”, ressaltou.

Já para a filha de outro idoso, que também teve problemas após a hemodiálise na terça-feira (05), a clínica foi negligente por não notificar o fatos a Vigilância Sanitária municipal e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como determina a lei.

A Visa afirmou que a principal irregularidade da clínica foi não ter alertado os órgão de controle sobre o surto e que, por isso, a Nefroclínica poderá sofrer autuações por não cumprir o protocolo de prevenção e controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IrAS) e segurança do paciente, que exige a imediata notificação do surto à Vigilância Sanitária por parte da clínica. “Ela devia ter feito [a notificação] imediatamente e, na verdade, ela não fez. Foi descoberto por denúncia”, esclareceu Costa.

Ainda segundo o gerente de Fiscalização e Proteção da Visa, a denúncia foi feita por um idoso que havia passado mal após a hemodiálise na terça-feira (05) e havia ficado sabendo da reabertura da clínica na quinta-feira (07) e, por isso, entrou em contato com os agentes. “Ele não conseguia nem falar direito o nome da clínica e não deu o endereço, então a gente teve que fazer uma busca ativa e aí conseguimos identificar a clínica.”

Segundo Alessandra, a Nefroclínica foi fechada na tarde de terça-feira (05) após o surto e foi reaberta apenas na quinta-feira (07) pela manhã e voltou a fechar a tarde, quando a Vigilância Sanitária apareceu no local. “A clínica já não funcionou na quarta-feira. A gente pode não ter notificado, mas o atendimento tinha sido suspenso”, frisou a proprietária.

Quando questionada porque reabriu a clínica na quinta-feira, mesmo após saber que seis dos 35 pacientes estavam na UTI, ela disse que “estava tudo muito bem.” “Tanto é que os nossos exames de quinta-feira já estão normais”, garantiu Alessandra.