GOIÂNIA 90 ANOS

No Centro de Goiânia, relojoarias antigas resistem à digitalização do mundo

Há 36 anos no Centro, Osmar Pereira relata cotidiano de relojoeiro e não acredita em revitalização da região

Osmar Júlio Pereira vê mais que as horas ao manusear um relógio analógico: tem neles sua maior fonte de renda (Foto: Jucimar de Sousa - Mais Goiás)

Diferente dos relógios digitais, que exibem as horas e os minutos em uma tela eletrônica, os analógicos utilizam de ponteiros na maioria das vezes, em um mostrador circular embora haja outros tipos de formatos menos usuais. Ainda é possível vê-los sendo utilizados cotidianamente, por aí nos pulsos de gente apressada ou pendurado em salas residenciais. Para muitos, com o advento do celular, o apetrecho caiu no esquecimento. Para alguns, virou item de colecionador.

Osmar Júlio Pereira vê mais que as horas ao manusear o acessório: tem em relógios analógicos a maior fonte de renda. Há 36 anos, numa esquina da Rua 68, no centro da cidade, bem próximo a Avenida Paranaíba atende seus clientes. Realiza consertos, faz manutenções e até comercializa algumas peças. 

Na sua estante bem ao lado de onde faz seus trabalhos há inúmeros relógios. De mesa e parede. São peças intocáveis e incomercializáveis. É a representação de sua paixão pelo acessório. Osmar relata desejo de clientes pelos apetrechos, mas deles não abre mão. “Se eu quisesse vendê-los, não estavam mais nenhum aí. São relíquias e valem ouro”, destaca. 

“As pessoas ainda vem arrumar relógio. E é todo o tipo de gente. Tem gente jovem, meia-idade, adulto, idoso… Não tem quem não venha. Conserto muito relógio de mesa. Tá virando relíquia isso aí as pessoas que têm querem cuidar. Muita gente dá valor demais a essas relíquias”, salienta. Para além do apetrecho, Osmar também é chaveiro e joalheiro.

“Fabrico e conserto jóias. Atendo mais para casamentos. Alianças, principalmente. Mas também faço muitos anéis, correntes, braceletes. Faço de tudo”, destaca. Nesse ramo, ele encontra muita gente com amor no coração e romance no ar. “Meus principais clientes são aqueles que estão para se casar. Aquelas pessoas que querem dar um presente especial para a pessoa amada. É algo até bonito… Romântico”, conta.

Ali, num dos pontos mais estratégicos do centro da cidade, Osmar criou seus dois filhos e na contramão de muitos comerciantes, não vê solução numa eventual revitalização do centro da cidade. “Sempre que falam em intervenções para melhorar, quando acontece, acaba piorando tudo. É melhor que fique do jeito que tá”, reclama.

Osmar Júlio Pereira de frente a sua mesa de trabalho. Para ele, é um prazer o serviço que faz. (Foto: Jucimar de Sousa | Mais Goiás)

Osmar lembra de um período que se instalou no local. “Era mais movimentado. As ruas eram muito mais movimentadas. Aqui tinha o BEG e a Caixa Econômica aqui próximo. A BEG acabou e a Caixa mudou daqui”, destaca. O contraste diante dos anos é notório. “O movimento de rua hoje tá pequeno. O comércio migrou muito para shopping. O povo também tem medo do centro. Tem muito malandro por aqui… Eu acho que o movimento tá pouco”, postula.

O que a região representa ao joalheiro? “O centro representa quase metade da minha vida. 36 anos aqui. Eu acho até que esse papo do centro estar mal cuidado é exagero. Quando o político quer piorar algo fica promovendo notícia ruim. O centro da cidade sempre foi isso que tá ai. Esse papo de revitalização é política. Quando falam que revitalizar e melhorar, a coisa piora”. 

Para alguns, as horas são mero detalhe protocolar. Outros, correm contra o tempo para a condução das atividades. Osmar vê o passar dos dias como prazeroso ganha-pão. Não dá para ficar rico, óbvio, mas o joalheiro tem no acessório, o futuro da vida. Criou os filhos e vai ajudar os netos, quando eles vierem. “Já passei muito aperto financeiro. A gente já viveu muitas crises. Quero viver e manter esse comércio até dar conta. Eu adoro o que faço. É algo que faço de forma apaixonada. Meu prazer é você vir com uma coisa desmontada, eu montar e deixar você satisfeito”, completa.