Polêmica

Paciente denuncia médico por negar atendimento a pessoas com posicionamento contra Bolsonaro

“A Medicina é uma profissão a serviço da Saúde, do ser humano e da coletividade…

“A Medicina é uma profissão a serviço da Saúde, do ser humano e da coletividade e será exercida sem discriminação de nenhuma natureza”. É o que versa o código de ética da mencionada profissão. Entretanto, um ginecologista de Goiânia tem recusado atendimento a pessoas com posicionamento político do seu, declaradamente pró-Jair Messias Bolsonaro (PSL). A comprovação se deu na quarta-feira (26), na recepção do consultório localizado na Praça Joaquim Lúcio, Setor Campinas, quando pacientes, após horas de espera, foram comunicados da decisão, a qual afeta – principalmente – os “petistas”.

No vídeo, a secretária, vestida com uma camiseta estampada com o nome de Bolsonaro, afirma que o médico já chegou a expulsar pacientes de dentro do consultório por diferenças políticas. “Ele está com a camisa e boné do Bolsonaro. O nível de estresse dele tá assim [gesticula com as mãos no alto] (sic). Então, já estou avisando que ele não vai atender. Digo isso para evitar constrangimento [de ser removido do consultório], porque o estresse dele está acima do normal. Ele já mandou gente embora por causa disso”. Quando pacientes tentam contra-argumentar, a mulher reforça. “Não posso fazer nada, não vou discutir com ele”. Assista:

Indignada com a situação, uma das pacientes – que pediu para ter o nome preservado, conversou com o Mais Goiás. Ela reforça que tinha chegado às 12h para uma consulta às 14h, mas apenas às 15h recebeu um posicionamento da secretária. A mulher ressalta que a recepção estava lotada e ela aguardava para entregar resultados de exames, quando a funcionária chegou para justificar o atraso. “Ela afirmou que o médico se envolveu em um acidente de trânsito no dia anterior e precisou remanejar os atendimentos daquele dia para aquela tarde. Até aí, normal, mas depois ela informou sobre o posicionamento político do médico e disse que ele não atenderia eleitores contrários a Bolsonaro, principalmente aqueles que fossem petistas”.

Ela revelou ser paciente do médico há 1 ano e meio e nunca tinha visto coisa parecida. “Todos ficamos indignados. Fui embora sem ser atendida”. Agora, a paciente afirma que irá iniciar um processo contra o médico no Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego). “Já me informei sobre o que é necessário fazer e entrarei com um processo. Isso é falta de ética e uma desonra ao Juramento de Hipócrates, feito à sociedade assim que ser formou. Não pode ficar impune”.

O Mais Goiás tentou contato com o médio, via telefone da clínica, mas foi informado pela referida secretária de que o ginecologista irá comentar o assunto apenas por meio de seu advogado, José Eustáquio do Carmo. Em ligação, o defensor afirmou não ter sido comunicado pelo cliente sobre a situação. “Vou ter que me inteirar sobre o assunto para poder dar uma resposta para vocês”.

Em nota, o Cremego orienta como pacientes podem realizar formalizar denúncia e apresenta outro trecho do Código de Ética Médica. Confira na íntegra:

“O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) orienta os pacientes a encaminharem a denúncia ao Conselho, informando inclusive o nome do médico e local da gravação do vídeo ao qual o Regional teve acesso apenas pela imprensa, para que seja apurado se houve infração ética. O Cremego rechaça qualquer tipo de discriminação a pacientes, mas só poderá se posicionar sobre o assunto após a apuração dos fatos, pois o Código de Ética Médica, em seu capítulo I, garante a autonomia do profissional para o atendimento (Capítulo I, VII – O médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não deseje, excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer danos à saúde do paciente)”.