Acidente

Permissão para funcionamento de parque de diversões em Ceres pode ter sido forjada, segundo MP

A Anotação de Regularidade Técnica (ART), documento emitido por engenheiro que constitui permissão para funcionamento…

A Anotação de Regularidade Técnica (ART), documento emitido por engenheiro que constitui permissão para funcionamento de parques de diversão, pode ter sido forjada pelo Tecnopark, centro de diversões em Ceres onde quatro adolescentes ficaram feridas no último domingo (26), após terem sido arremessadas ao chão por um brinquedo em pane. A hipótese é do promotor Marcos Alberto Rios, do Ministério Público Estadual (MP-GO). segundo o qual um inquérito civil público foi iniciado para verificar a legalidade da documentação apresentada. Uma das garotas recebeu alta, mas outras três continuam internadas em unidades de saúde de Ceres e Anápolis.

De acordo com Marcos, o Tecnopark havia sido interditado em agosto de 2017. Florivaldo Vaz de Santana, promotor responsável pelo município de Ceres na época, havia constatado que os equipamentos estavam fixados sobre tijolos, tocos e caibros de madeira. A promotoria registrou denúncia alegando que o estabelecimento não apresentava as condições mínimas de segurança. A Justiça decidiu, então, interditá-lo.

“A nossa suspeita é de que a documentação tenha sido forjada com o intuito de inibir qualquer iniciativa do Ministério Público de interditar novamente o parque. A relação de documentos exigidos foi encaminhada à empresa às 17h de sexta-feira (17), enquanto os brinquedos ainda estavam no caminhão. Documentações como Anotação de Regularidade Técnica (ART) e vistoria dos bombeiros levam tempo para serem feitas. Num prazo impossível de cumprir as exigências, eles nos enviaram toda a documentação”, relatou Marcos.

“Documento falso”

Para que um parque de diversões esteja apto a funcionar, é necessário que o responsável apresente, além dos documentos supracitados, um Certificado de Conformidade do Corpo de Bombeiro Militar (Cercon), além do alvará de legalidade e funcionamento expedido pela Secretaria de Finanças Municipal assinada pelo prefeito.

Ao analisar os laudos fornecidos, a promotoria constatou uma divergência no laudo expedido pelo engenheiro que “vistoriou” os brinquedos. Segundo Marcos, na ART, consta a assinatura de Weslley Gonçalves Arruda, mas o número de registro disponibilizado pertence a outro profissional. O fato foi confirmado, por meio de nota, pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO), o qual abriu um processo para averiguar a situação.

Documento foi assinado por Weslley Gonçalves Arruda, mas número de registro junto ao Crea pertence a outro profissional.

“Confirmamos que há divergência entre o nome de Weslley Gonçalves Arruda e o número de registro 1017432929AP-GO. A ART de instalação do parque de diversões em Ceres, assinada por Weslley, é falsa. Está em andamento, no Crea-GO, processo administrativo para apurar toda a situação, com o objetivo de que sejam tomadas todas as providências cabíveis”, consta no documento.

Segundo o MP, a situação apontava para uma tragédia. “Ano passado, segundo a denúncia, havia uma montanha russa assentada em cima tocos e tijolos. Ainda acreditamos existir uma tentativa – por parte do administrador do parque de jogar a culpa do acidente nas costas de um simples funcionário”, observa o promotor.

O delegado responsável pelo caso, Matheus Costa Melo, informou revelou que uma perícia complementar foi realizada no parque por um perito do Instituto Criminalístico de Goiânia. De acordo com o policial, o resultado da análise levará cerca de 10 dias para ficar pronto. Com o laudo, a polícia poderá determinar se a causa do incidente foi falha humana, mecânica, estrutural ou a soma de dois desses fatores.

Matheus também requisitou todos os documentos apresentados com a assinatura da prefeitura, do Crea e dos Bombeiros para verificar a legalidade dos mesmos.

Oitivas

Durante a semana, a polícia ouviu Alan Quadra, filho do dono do brinquedo, o qual afirmou que o pai, Joel Quadra, está prestando toda a ajuda necessária às famílias das vítimas. Anderson Amorim, operador do brinquedo, também foi ouvido e alegou nunca ter feito uso de drogas, bem como não ter ingerido bebida alcoólica ao operar o maquinário. Mesmo assim, por ouvir testemunhas dizerem que o operador estava alterado, o delegado decidiu submeter o Anderson a um exame toxicológico. Os familiares das vítimas e o gerente do Tecnopark também foram ouvidos.

Segundo relatos do operador, ele estava na cabine e não escutou as meninas gritando, nem viu o brinquedo aumentar a velocidade. Só se deu conta da gravidade do acidente quando a adolescente caiu. “O operador alega ter travado o brinquedo. E só viu a garota caindo quando estava dentro da cabine. Ele viu a menina caída na plataforma e foi retirá-la, mas esqueceu o brinquedo ligado com o manete girado no sentido horário, de modo que o brinquedo continuou funcionando e pegou ainda mais velocidade”. expõe o delegado.

Thatiely Evangelista, 16, será a primeira vítima a ser ouvida. A oitiva está programada para a tarde desta quarta-feira (29). O delegado está aguardando as outras adolescentes receberem alta para colher informações sobre o ocorrido. Joel Quadra, dono do brinquedo, será ouvido pela Polícia Civil na sexta-feira (31).

De acordo com Matheus, embora o gerente do Tecnopark afirme que os brinquedos recebiam manutenção diária, não existe nenhum registro documental para comprovar a alegação. O Mais Goiás tentou entrar em contato com o gerente do parque de diversões, mas as ligações não foram atendidas.

Entenda o que aconteceu

Um acidente em um brinquedo em parque de diversões deixou quatro adolescentes feridas na madrugada deste domingo (26), em Ceres, cidade localizada a cerca de 170 quilômetros de Goiânia. Segundo o Corpo de Bombeiros, as vítimas são todas do sexo feminino, com idades próximas dos 16 anos. Três delas apresentaram escoriações e fraturas, e a uma delas, mais grave, tem possível traumatismo craniano.

Testemunhas relataram ao Mais Goiás que, por volta das 2 horas, a velocidade do brinquedo Surf aumentou e a barra de segurança se soltou.”A barra caiu e as pessoas foram arremessados para alto”, disse uma moradora da cidade, que não quis se identificar.

*Thaynara Cunha é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo