Bolsas atrasadas

Pesquisadores reclamam de atrasos no pagamento das bolsas da Fapeg

Pesquisadores beneficiados pelas bolsas formação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás…

Pesquisadores beneficiados pelas bolsas formação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás – Fapeg estão enfrentando dificuldades com o atraso no pagamento das mesmas. Estudantes de mestrado e doutorado estão reclamando de atrasos constantes que vêm desde julho de 2018

De acordo com a Associação de Pós-Graduandos da Universidade Federal de Goiás – APG-UFG, desde novembro o benefício não tem sido repassado aos bolsistas. Essa situação tem prejudicado tanto o desenvolvimento das pesquisas científicas quanto a vida pessoal dos estudantes.

O presidente da Associação de Pós-Graduandos da Universidade Federal de Goiás – APG-UFG e bolsista da fundação, Carlos Klein, afirma que os bolsistas da Fapeg sempre lidaram com atrasos, mas que a situação piorou desde o segundo semestre de 2018.

“Sempre tivemos atrasos nas bolsas. Mas eles eram previsíveis e regulares. Normalmente caía uns cinco dias depois do previsto. Mas em julho tivemos um atraso de mais de um mês. Depois disso, demoravam várias semanas para pagar. E agora estamos enfrentando essa situação”, ressaltou Klein.

O presidente acredita que os atrasos são muito prejudiciais não apenas para os estudantes, mas para todo o estado de Goiás. “Esse tipo de situação compromete a seriamente a produção científica e atrasa o desenvolvimento tecnológico da nossa região”, ressalta.

“Sujei o meu nome no banco”

Essa situação tem levado muitos usarem os próprios recursos para custearem as pesquisas. Alguns não possuem outra fonte de renda e estão acumulando dívidas para manter suas necessidades pessoais.

É o caso de Camila dos Passos Araujo Capparelli. Ela é mestranda em língua e interculturalidade e foi contemplada com a bolsa da Fapeg em agosto de 2018. Desde então, decidiu dedicar-se exclusivamente à sua pesquisa. Por isso, todas as suas despesas vinham sendo pagas exclusivamente pela bolsa.

“Esses atrasos me deixaram totalmente desamparada, de modo que precisei pedir socorro à familiares próximos, que também enfrentam dificuldades financeiras. É uma situação extremamente constrangedora que tem me deixado desmotivada. Meu rendimento na pesquisa caiu consideravelmente”, afirmou Camila.

Juliana Martins Pereira, mestranda em antropologia social, passa por situação semelhante. “Eu não tenho outra fonte de renda. Em fevereiro meu planejamento previa uma pesquisa de campo. Não será possível viajar sem o recurso. Eu estudo na UFG, mas outros colegas dependem da bolsa para pagar a instituição particular”, ressaltou.

Lauro Joaquim, mestrando em ciências agrárias, conta que precisou fazer dívidas no banco para arcar com os custos da pesquisa. “Tive que comprar alguns materiais no cartão de crédito para não atrasar o projeto. Me comprometi financeiramente com instituição bancária, contanto que receberia a bolsa. Com os atrasos, sujei o meu nome no banco. Não contava com a irresponsabilidade da Fapeg em fazer os repasses”.

Imbróglio na transição

Tanto os pesquisadores quanto a APG-UFG procuraram a fundação e tiveram a mesma resposta: a Secretaria da Fazenda – Sefaz já empenhou e liquidou os recursos, faltando somente realizar o pagamento. Entretanto, apenas o presidente ou o diretor científico da Fapeg podem solicitar as verbas.

O problema é que a nova diretoria ainda não foi nomeada pelo governo de Ronaldo Caiado (DEM). Por isso não há ninguém que possa solicitar o dinheiro à Sefaz hoje.

O atraso na nomeação da nova diretoria tem preocupado os pesquisadores. Alguns terão que paralisar seus projetos caso a situação se prolongue. “Caso os atrasos continuem, infelizmente estarei de mão atadas com o restante do cronograma”, lamenta Lauro.

Camila acredita que, se a situação não se resolver, os pesquisadores terão que procurar outras fontes de renda, o que vai prejudicar os resultados dos estudos. “O impacto dos atrasos é gigantesco, já que, sem o repasse, será preciso procurar outra forma de provento, diminuindo consideravelmente o tempo dedicado à pesquisa”.

Juliana estranhou a demora do governo em resolver o problema. “Entramos em contato com a Fapeg e ela disse que a Sefaz já liberou o recurso. Estamos achando estranho que ainda não haja alguém para assumir o cargo e liberar o dinheiro”.

Solução?

A fundação é jurisdicionada à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e Irrigação – SED.

Em nota enviada na última terça-feira (15), a secretaria informou ao Mais Goiás que o governo do estado irá delegar provisoriamente ao titular da pasta a responsabilidade pelo pagamento das bolsas. Essa delegação só terá validade até a nomeação da nova diretoria.

Essa medida tem o objetivo de solucionar o problema burocrático com o repasse dos recursos. Mas, de acordo com a APG-UFG, nenhuma bolsa foi paga até o momento.

O que é a Fapeg

A Fapeg foi criada em 2005 com o objetivo da fundação é fomentar a pesquisa científica, tecnológica e de inovação em todas as áreas do conhecimento no estado. Além disso, ela busca incentivar a produção de ciência em áreas estratégicas para o estado.

Para o fomento da pesquisa científica no páis a fundação oferece bolsas de formação que variam de R$1.350 (mestrado) a R$4.100 (pós-doutorado). Esses benefícios são concedidos através de editais abertos periodicamente.

A SED não comunicou, até o fechamento da matéria, quantos estudantes são beneficiados pela bolsa formação em Goiás.