FALTA DE TRANSPARÊNCIA NO CRUZEIRO

Positivo no coronavírus, goiana fala de incertezas a bordo de navio

Do outro lado da linha, Joana D’Arc de Freitas fala baixo e com certa dificuldade.…

Positivo no coronavírus, empresária fala das incertezas no MSC Opera
Positivo no coronavírus, empresária fala das incertezas no MSC Opera

Do outro lado da linha, Joana D’Arc de Freitas fala baixo e com certa dificuldade. Falta ar e as tosses atrapalham. Ela foi diagnosticada com o novo coronavírus (Covid-19). Ainda assim, a empresária que esteve a bordo MSC Opera (MSC Cruzeiros) falou ao Mais Goiás sobre os momentos de medo e incerteza no navio, que esteve mais de dez em alto mar tendo suas paradas recursadas por diversos portos. “Teve um dia que o navio navegou a 10 km por hora, pois não sabia onde parar. Tivemos muito medo de ficar à deriva.” Segundo ela, o sentimento é que faltou transparência por parte da companhia, que foi injusta.

Com isso, o sonho da viagem de aniversário de 33 anos de casamento se tornou um pesadelo – Amilton França, marido de Joana, também está contaminado. Saindo de Gênova, Itália, em 28 de fevereiro, o navio passaria por Israel, Turquia, Chipre e em Corfu, na Grécia. Somente entre os gregos foi permitido o desembarque. Em Malta, na Europa, o veículo marítimo chegou a ter autorização, mas por protestos populares as autoridades locais revogaram a permissão.

Destaca-se que em Gênova, local de embarque da empresária e de outros brasileiros, havia desembarcado um austríaco que, mais tarde, descobriu-se estar contaminado. “Mais de 2 mil pessoas no navio. Muitos idosos. De Goiânia cerca de 50, um grupo só de médicos de 25”, informou Joana. Conforme relatado por ela, muitos contaminados.

Desembarque

Joana e seu marido, o administrador de imóveis Amilton França, conseguiram desembarcar da viagem no dia 10 de março, em Gênova. A empresária revela que foi um momento de tensão.

“No dia que desembarcamos foi muito difícil. Seguraram nosso passaporte, mas depois resolveram nos liberar. Um funcionário disse que tinham vários trabalhadores contaminados, já em quarentena, dentro de cabines sem janelas.” Segundo a informação passada a ela, mais de um por quarto, inclusive. “Talvez devêssemos ter ficado em quarentena, no navio.”

A empresária cogita isso, pois, já na Itália seu marido sentiu os sintomas do coronavírus. “E eu senti três dias depois.” Ela pontua que de Gênova, seguiram de carro alugado para Roma, onde pegariam um voo no dia 12 de março. “Conseguimos mudar a passagem, que era para o dia 17. Pagamos cerca de R$ 3 mil de diferença”, reclamou mantendo o tom de voz sempre baixo, por conta da respiração e das tosses.

Em relação a chegada no Brasil, em São Paulo, no dia 13, muitas preocupação. “Aqui não teve vistoria, nada. O voo estava lotado, com certeza a maioria das pessoas contaminadas, todos tossindo”, descreveu.

Ela disse que, como já imaginavam estar contaminados, vieram de máscara no voo. Além disso, permaneceram em São Paulo por uma semana. “Meu sogro tem 97 anos e mora com a gente”, revelou outra grande preocupação. Por sorte, a casa de Joana é grande. Ela diz que o pai do marido está isolado na residência da frente e o casal em uma estrutura dos fundos, que é separada por uma área. “Não saímos nem para a área”, garante ela, que tem respeito a quarentena.

Eles estão em Goiânia, no setor Aeroporto, desde o dia 20 de março. Sobre a doença, ela diz já estar um pouco melhor. “Mas é muito dolorido. Muito triste.”

Amizade

As administradoras Fabiane Vieira Matos e Thais Bertunes França foram duas amizades que Joana fez a bordo do navio. Diferente da empresária goiana, as duas, ambas residentes do Distrito Federal, embarcaram no 27 de fevereiro e desembarcaram no dia 9 de março – um dia antes de Joana, e antes do decreto de quarentena feito na Itália, que ocorreu na noite daquele dia.

No caso delas, a descida não foi em Gênova, mas em Civitavecchia. Da mesma forma, houve confusão no desembarque. Mas não só isso. Fabiane, que falou ao portal, confirmou que existia tensão entre os tripulantes do navio. “Mas sabíamos que havia algo errado, quando não desembarcamos em alguns locais previstos.”

Sobre a vinda para o Brasil, diferente de Joana, ela disse que foi tranquila. No dia 10 de março, data do voo, ela informou que a situação da cidade já era desértica, mas que a viagem não teve preocupações. “As pessoas estavam de máscaras, inclusive nós, mas foi normal.” Elas também saíram de Roma rumo a São Paulo.

Nenhuma das duas apresentou sintomas ou fez exames. “Respeitamos a quarentena. Estamos bem.”

MSC Opera

No site oficial da empresa está disponível uma mensagem do presidente executivo Pierfrancesco Vago. Nela, ele afirma que “devido às circunstâncias que o mundo enfrenta atualmente em relação ao vírus COVID-19, decidimos interromper temporariamente todas as operações de navios de toda a frota, até o dia 30 de abril, para a segurança de nosso tripulantes e hóspedes. Os navios que ainda estão no mar, concluirão seus itinerários atuais até os portos de desembarque e interromperão as suas operações”.

A MSC Cruzeiros foi procurada por telefone e e-mail pelo Mais Goiás para comentar sobre a transparência, atendimento médico e isolamento dos funcionários. A empresa se comprometeu a enviar uma nota e o texto será atualizado quando o fizerem.

Atualização

A MSC Cruzeiros enviou, nesta sexta-feira (27), uma nota ao portal. Confira a seguir, na íntegra:

As autoridades de saúde da Áustria nos informaram que um passageiro de nacionalidade austríaca, que viajou conosco no MSC Opera no Mediterrâneo Oriental, de 17 a 28 de fevereiro, testou positivo, no dia 3 de março, para o COVID-19. Este passageiro retornou diretamente à Áustria pelo norte da Itália, em 28 de fevereiro, imediatamente após o desembarque de seu cruzeiro em Gênova, na Itália.

10 membros da tripulação do MSC Opera que entraram em contato com o ex-passageiro austríaco durante o cruzeiro anterior foram colocados, por precaução, sob isolamento a bordo, conforme o protocolo. Todos eles estavam com boa saúde e nenhum apresentavam sintomas semelhantes aos de gripe. Isso foi confirmado pelas autoridades de saúde locais de Messina, na Itália, quando o navio chegou na cidade, no dia 7 de março, e as autoridades embarcaram no MSC Opera para realizar avaliação médica habitual dos registros de bordo do navio e das condições médicas, conforme o protocolo, e também visitaram esses tripulantes.

Trabalhamos em estreita colaboração com as autoridades de saúde e seguimos todos os protocolos, conforme exigido. Informamos proativamente todos os passageiros e tripulantes deste cruzeiro, e os aconselhamos a permanecer vigilantes quanto a qualquer sinal de doença semelhante à gripe e a procurar assistência médica, se necessário.

Como parte das medidas preventivas que implementamos em toda a frota, realizamos triagem térmica nos hóspedes e tripulantes no embarque. Em nenhum momento tivemos alguém a bordo do MSC Opera que atendesse à definição para a COVID-19 durante este cruzeiro.

Durante essa crise de saúde, tomamos medidas preventivas adicionais e implementamos um regime rigoroso de triagem, pois a saúde e a segurança de nossos passageiros e tripulantes continuam sendo a nossa principal prioridade.”

*Atualizado às 14h de 27/03/2020