PROTEÇÃO

“Quem ama não agride”, diz mulher trans protegida pela lei Maria da Penha

“Graças a Deus estou aqui, mas muitas mulheres não tiveram a mesma sorte”. É com…

(Foto: Arquivo Pessoal)

“Graças a Deus estou aqui, mas muitas mulheres não tiveram a mesma sorte”. É com frases assim que Shakira Costa do Nascimento, 26, reflete sobre o fato de hoje se sentir se segura. Após agressões cometidas pelo ex-namorado, ela, uma mulher trans moradora de Rio Verde, procurou a Justiça e conseguiu o direito a ter medidas de segurança asseguradas pela Lei Maria da Penha.

Shakira agora quer encorajar outras mulheres trans a fazerem o mesmo.

“É importante que procurem a polícia e denunciem. Uma primeira agressão sempre leva a uma segunda, terceira e assim por diante. O perdão ao companheiro é inútil. Quem ama, cuida e protege, não agride. Isso, claro, vale para todas as mulheres”, diz a jovem.

Shakira conta que teve a iniciativa de ir até a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), após o apoio de uma amiga trans, que também era agredida pelo companheiro.

“Já tem tanto preconceito com a gente né?! Demorei a procurar ajuda pois tinha medo de não ser resguardada. Mas fui na delegacia e todos me acolheram. Dois dias depois o oficial de Justiça disse que a juíza tinha assinado a medida protetiva. Hoje estou assegurada pela Lei Maria da Penha, isso é uma dádiva”, comemora.

A juíza que assinou a medida para Shakira foi Coraci Pereira da Silva, titular da 2ª Vara de Família e Sucessões de Rio Verde. Para conceder a proteção à mulher transexual, a magistrada levou em consideração a evolução histórica dos direitos humanos.

“Devemos proteger, também, lésbicas, travestis e transexuais contra agressões praticadas pelos seus companheiros ou companheiras. Deve-se aplicar o princípio da igualdade formal, ampliando o alcance das normas protetivas”, afirma Coraci.

Agressões

Shakira e o ex-companheiro ficaram juntos por quatro meses. Nesse tempo, ela diz que foi agredida em três ocasiões, sendo a última, no dia 16 de setembro.

“Ele me derrubou no chão e me arrastou segurando meus cabelos. Eu consegui pegar uma garrafa de vidro para tentar me defender, mas mesmo com os cacos no chão, ele continuou me arrastando“, relembra.

“Nesse dia ele me deu socos no rosto e me ameaçou, dizendo que eu seria ‘uma mulher morta‘ se terminasse com ele. É muito triste. As cicatrizes ficaram no meu corpo, mas a pior cicatriz é na alma. Estou tentando esquecer, mas é difícil“, diz Shakira, que precisou ficar internada após as agressões.

"Quem ama não agride", diz mulher trans protegida pela lei Maria da Penha em Rio Verde

Cicatrizes na perna de Shakira foram causadas por cortes de cacos de vidro (Foto: Arquivo Pessoal)

Contudo, a mulher agora comemora, dizendo que se sente protegida. “Quando ele teve conhecimento da medida protetiva, saiu da minha casa. Não me procurou mais e não tentou entrar em contato. Graças a Deus estou bem melhor”, afirma.

O ex de Shakira foi preso no dia das agressões, mas foi liberado pouco depois. Ele continua sendo investigado por violência doméstica.

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