Dinheiro

Sem salário desde dezembro, professores da Rede Itego discutem possibilidade de greve

Enquanto parte dos servidores da Educação estadual receberam um alento com o pagamento de salários…

Enquanto parte dos servidores da Educação estadual receberam um alento com o pagamento de salários referentes a dezembro, nem toda a categoria celebra os depósitos – feitos a quem recebe até R$ 2,7 mil. Professores, por exemplo, ficaram de fora dessa lista e, embora a situação deles seja grave, há quem esteja ainda mais sem perspectiva. É o caso dos trabalhadores dos Institutos Tecnológicos de Goiás (Itegos), que, ao contrário dos demais órgãos de ensino – sob gestão da Secretaria de Estado da Educação (Seduce) – estão vinculados à Secretaria de Estado de Desenvolvimento (SED) e sob administração direta, em diversos casos, de Organizações Sociais (OSs), que também não têm recebido repasses estaduais para quitarem os salários de seus funcionários.

“No escuro” desde dezembro, quando OSs se reuniram com trabalhadores pela última vez, esses profissionais se encontrarão novamente nesta sexta-feira (1/2), em uma nova assembleia-geral no Itego Basileu França. A ideia é que ele discutam suas possibilidades diante da falta de pagamento. De acordo com a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), Bia Lima, greve é uma possibilidade. “Muitas dessas pessoas ainda fazem esforço para continuarem trabalhando, mas alguns já passam necessidade em casa e vários também não tem dinheiro para se deslocar”.

Além da dívida milionária do estado com as empresas, a questão se agrava por causa do organograma adotado pelo Estado ainda durante a administração de Marconi Perillo (PSDB), que dissociou os Itegos da Seduce e os submeteu à Secretaria de Estado de Desenvolvimento (SED). Assim, apesar de comporem a chamada Educação Básica – esses institutos não são contemplados com verbas destinadas exclusivamente à área, como o dinheiro do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), o que dificulta ainda mais os pagamentos.

Organograma

Para Bia, o Estado deveria devolver a gestão dos Itegos à Seduce. “De onde nunca deveriam ter saído. Nunca fomos a favor de OSs, mas nossa briga agora é para que as empresas sejam pagas e assim sejam capazes de acertar com os trabalhadores. A situação é crítica. No Basileu, assim como em Itegos de Catalão, Anápolis e Goianésia, por exemplo, professores estão sem salário desde novembro. Quem está com OSs, além de ter ficado sem pagamento, não tem nenhuma perspectiva para janeiro até o momento”, ressalta Bia.

A falta de dinheiro vem provocando outras repercussões negativas. “Essas pessoas precisam comer, então estão fazendo faxina, vaquinha com amigos e parentes, bicos diversos, porque a coisa tá grave. Em alguns casos é difícil ter o que comer, imagine então a disposição dessas pessoas para gastar dinheiro para irem ao trabalho”. Sobre os pagamentos realizados pelo Estado na quinta-feira (31/1), a presidente acrescenta: “Atingiu apenas pessoal do administrativo, da limpeza, da merenda, que também precisavam. Quem tem o salário mais alto, como professores, não foi contemplado”.

Catalão

Professor de um dos casos mais graves, Itego Agnaldo de Campos Neto, em Catalão, Edson Santana afirma que a situação tem provocado evasão de alunos. “Fizemos uma paralisação no fim do ano, mas muitos professores optaram por retomar as atividades. Agora, entretanto, estamos no escuro e a indisponibilidade de aulas é crescente. Assim, cursos que começam com 30 alunos acabam ficando com metade disso”.

`Protesto em Catalão (Foto: divulgação/Leitor Mais Goiás)

Quem ainda insiste em trabalhar não encontra os materiais necessários para realizar as tarefas. “Estamos sem insumos como papel e fotocópias; sem pessoal de limpeza e nessa semana soubemos que também estaremos sem os profissionais de segurança. Não nos comunicam nada, não sabemos de nada. Não há a mínima condição de trabalhar”.

Respostas

O Centro de Gestão em Educação Continuada (Cegecon), responsável pela gestão de quatro Itegos, dentre os quais o Basileu, afirmou que negocia com o governo os repasses dos meses de outubro, novembro e dezembro, ainda em aberto. “A OS obteve a informação de que repasses dos meses de 2019 seriam feitos em dia a partir de 11/2, quando foi previsto pelo governo a quitação do mês de janeiro”.

Este portal não conseguiu contato com o Instituto Reger, responsável pela administração da unidade de Catalão. A redação aguarda posicionamento da SED sobre o assunto.

De acordo com a assessoria da Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento (Segplan), pasta responsável pela criação de uma nova proposta de Reforma Administrativa, a “devolução” dos Itegos à Educação está em pauta, mas ainda não foi discutida.

Por meio de nota, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e Irrigação (SED) esclarece que a dívida das organizações sociais gestoras de 23 Itegos é de R$ 18,8 milhões. De acordo com a pasta, esse valor é referente aos meses de outubro, novembro e dezembro de 2018. Ainda de acordo com o texto, a previsão é de que, no próximo dia 15 de fevereiro, os pagamentos às organizações sociais voltem à normalidade.