Saúde

Só uma em cada dez famílias aceita doar órgãos

// Trabalhar a conscientização sobre a importância da doação de órgãos é um trabalho constante…


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Trabalhar a conscientização sobre a importância da doação de órgãos é um trabalho constante do poder público. Apenas uma em cada dez famílias abordadas aceita fazer a doação de órgãos diante de casos de morte encefálica. A estatística foi levantada pela equipe de Entrevista Familiar da Central de Transplantes de Goiás. Um trabalho delicado, que envolve muita sensibilidade ao abordar o assunto, diante da perda de um ente querido.

Para a Coordenadora Técnica da Central de Transplantes, Leila Márcia de Faria, a entrevista familiar é a parte mais difícil do processo de captação de um órgão e requer, além de qualificação específica, controle emocional e suporte psicológico.

“A família está abalada, vivendo uma dor indescritível e nós temos que esperar o momento certo para a abordagem. Ouvimos de tudo: desde relatos desesperados até ofensas e desaforos. Alguns nos comparam a urubus de tocaia”. Se isso magoa? A coordenadora diz que não chega a magoar, mas não deixa de ser um momento difícil.

A decisão só pode ser tomada pelo pai, mãe, filho, marido ou esposa. Na falta desses, se outro membro da família fizer muita questão de doar, é preciso procurar o Ministério Público, que deverá conceder a autorização. Se houver divergência entre o desejo do pai e da mãe, por exemplo, a captação não é realizada, nada é feito às escondidas. “Tivemos um caso de uma mãe que queria doar, mas o pai não concordava. Como ele estava no Maranhão e teria que se deslocar, ela disse para fazermos e ele nem ficaria sabendo. Não concordamos. Não podemos concordar com isso”, afirma a psicóloga Flávia Martins. Ela completa dizendo que a doação é um processo para a família se sentir bem, mesmo em um momento de dor.

A equipe de Entrevista Familiar da Central de Transplantes de Goiás é composta por nove enfermeiros e seis psicólogos, que trabalham 24 horas, em esquema de revezamento. Os hospitais que mais notificam casos de morte encefálica são o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), Hospital Santa Mônica e Hospital Neurológico, nesta ordem.

saúde doação órgãosNo ano passado, as equipes de Entrevista Familiar fizeram 124 entrevistas e obtiveram 97 recusas. O levantamento é trimestral. De janeiro a março, foram 28 entrevistas, com 25 recusas (89% de negativas); de abril a junho, 33 entrevistas e 25 recusas (76% de negativas); de julho a setembro, 41 entrevistas e 33 recusas (80% de negativas); de outubro a dezembro, 22 entrevistas e 14 recusas (78% de negativas)

Morte encefálica e coma
A morte encefálica é uma situação irreversível, na qual o cérebro para de funcionar definitivamente e, consequentemente, de comandar o corpo. O funcionamento dos diversos órgãos, músculos e tecidos acontece de maneira artificial, com uso de aparelhos e medicamentos. O corpo pode ser mantido vivo dessa forma por um tempo limitado, que varia de um organismo para outro.

O coma é reversível e se caracteriza por um menor nível de consciência, muito semelhante a um sono profundo. As células cerebrais continuam vivas e, com isso, os neurônios fazem as reações elétricas. É uma situação reversível e a duração do coma varia de um indivíduo para o outro. O coma induzido pode ser suspenso com indicação e intervenção médica; já do coma espontâneo o paciente precisa despertar naturalmente. O diagnóstico de morte encefálica segue um protocolo que determina a realização de diversos exames, com um intervalo mínimo de seis horas, entre a primeira e a segunda bateria de testes.