PANDEMIA

Tendência é de estabilização de casos de covid em Goiás, diz pesquisador da UFG

O biólogo e pesquisador da Universidade Federal de Goiás (UFG), Thiago Rangel, aponta que o…

Professor Thiago Rangel, da Universidade Federal de Goiás (UFG)
Professor Thiago Rangel, da Universidade Federal de Goiás (UFG)

O biólogo e pesquisador da Universidade Federal de Goiás (UFG), Thiago Rangel, aponta que o estado de Goiás está próximo de passar por um platô na curva de casos de coronavírus. Isso quer dizer que os números tendem a ficar mais estáveis. No entanto, alerta que a doença é nova e há muitos pontos para se observar para a projeção de um cenário.

O platô, entretanto, só seria evidenciado após 30 dias do início e não há como prevê-lo. Primeiro devido à heterogeneidade da população e das “diversas pandemias” no estado. A dinâmica do avanço da doença em diferentes cidades pelo estado se comporta de maneira distinta, o que complica no momento de se fazer uma projeção.

Essa estabilização do número de casos pode parecer uma boa notícia, e é quando se está em curva ascendente, mas pode indicar que há uma normalização de um estado crítico do avanço do coronavírus. Além disso, o pesquisador reforça que ao entrar nesse platô seria momento de reforçar as medidas de saúde pública na tentativa de diminuir a curva.

“O que consideramos normal hoje, era aterrorizante em abril. Estamos normalizando algo que há alguns meses era moralmente inaceitável”, avalia.

Ataques

Thiago Rangel é um dos pesquisadores que assinaram a projeção adotada pelo governo do estado para implantação do sistema de isolamento social 14 x 14 no início de julho. Desde então tem sofrido diversos ataques, sobretudo através de redes sociais.

O argumento dos críticos é que o cenário projetado não se confirmou, o que teria gerado um estado de pânico. No entanto, Rangel lembra que a pandemia gera um estado de incertezas. O vírus ainda é desconhecido e a doença muito nova. Diante deste estado de incerteza, os negacionistas se aproveitam para realizar ataques à ciência.

Um dos pontos que dificultam a análise de cenários é a baixa capacidade de detecção da porcentagem da população que tenha entrado em contato com o vírus. Isso se deve não somente aos poucos, e falhos, testes realizados em Goiás, mas também a outros tipos de imunidades que a ciência começa visualizar em relação ao coronavírus.

Ainda assim, os pesquisadores da UFG consideram que as projeções realizadas no mês de julho são válidas. Já que o estudo projetou um intervalo entre 3,5 e 18 mil mortes. O que dependeria de como a sociedade iria agir para combater o avanço da doença.

“Vivemos um cenário de incerteza. E não é só em Goiânia, é no mundo inteiro. A pesquisa sobre a covid-19 está ativa no mundo inteiro em relação à imunidade da população. É uma doença nova que todo dia se descobre coisa nova. Ainda precisamos saber qual é a proporção de pessoas que vão ficar doentes, e isso ainda é parcialmente desconhecido. Os negacionistas se aproveitam dessa incerteza para desacreditar a pesquisa científica. Mas é a coisa mais antiga que existe. Desde Galileu. Com outras doenças, como o câncer, ou a Aids também houve esse tipo de ataque”, critica.

Nota técnica

Diante dos ataques sofridos, os pesquisadores da UFG publicaram um adendo à nota técnica de 5 de julho, em que apontam esclarecimentos sobre as projeções realizadas na data. Entre as considerações levantadas está a comparação de óbitos, que não pode ser realizada diretamente entre as datas da projeção realizada pelos pesquisadores e os dados da Secretaria de Estado de Saúde, pois há atraso de pelo menos 15 dias de registro.

A nota também informa que a comparação entre o número observado de óbitos até 20 de julho, data na qual se espera que a maior parte dos óbitos ocorridos anteriormente já tenha sido registrada, revela que a trajetória do crescimento no número acumulado de óbitos foi realmente mais próxima do cenário verde/laranja.

Além disso, os cenários futuros criados no modelo e divulgados em julho, baseiam-se no Índice de Isolamento Social estimados pela empresa InLoco. O cenário vermelho, mais grave, assumiu que o isolamento social seria mantido nos mesmos níveis de 24 de junho, equivalendo a um Re em torno de 1,4, e que nenhuma medida adicional para aumentar esse isolamento seria tomada.

“[A] redução no Re em julho é coerente com a manutenção das medidas de isolamento pelo governo estadual no início de julho, seguida por cerca de 50% dos municípios, e com a adoção de diversas medidas adicionais desde então capazes de reduzir o Re, incluindo o isolamento e rastreamento de contatos, aumento na testagens, bem como o monitoramento dos casos por telemedicina e novos aplicativos de telefonia celular, realizados por diversas prefeituras”, aponta a nota.

A nota ainda reforça as descobertas recentes sobre a Sars-Cov-2 na propagação na população, inclusive com subestimação na resposta imunológica e possibilidade de “imunidade cruzada” adquirida a partir de contato prévio com outras formas de coronavírus (e eventualmente outras viroses, ou mesmo outros fatores). É possível que até mesmo a vacinação para tuberculose (BCG) ajude em uma ascendência mais lenta da curva de contaminação.