Comportamento

Todo objeto de sua casa tem seu preço

Um casal de amigos resolveu juntar os trapos. Jovens, com vinte e poucos anos que…

Um casal de amigos resolveu juntar os trapos. Jovens, com vinte e poucos anos que saíram recentemente da faculdade e começam promissoras trajetórias profissionais, sempre moraram com os pais. Nunca se preocuparam com vencimento da conta de luz, supermercado e condomínio. Jamais assinaram um contrato de aluguel numa imobiliária. Sim, gente com privilégio. Sim, gente completamente verde para a vida adulta. Sim, eles são espertos e darão conta da bronca, não tenho dúvidas.

Estávamos tomando cerveja e eles falando dos planos de gastos. Assistiram não sei quantos vídeos de Youtube, botaram tudo numa planilha, se acham sabichões por colocar uma margem nos gastos para imprevistos. Comportamento louvável, é claro. Mas não consegui conter o riso ao perceber a ingenuidade deles para óbvio: tudo numa casa é muito caro.

Se você comprar só um escorredor de louças na Big Lar, cabe tranquilo no orçamento. Agora some tudo que você tem na sua cozinha para ver a pequena fortuna que está ali.

Panelas, talheres, pratos, copos, espátulas, panos de prato, tapetes de mesa, forros, formas, vasilhas, medidores, dosadores, cumbucas, facas para diferentes funções, frigideiras, tábuas, afiadores, escumadeiras, pinças, pegadores, conchas, tigelas, assadeiras, peneiras, rolos de massa, descascadores, pilões, raladores, abridores de lata…

O rol é extenso. E tudo isso custa bons reais. Quando a soma termina, você quase tem um enfarto. E olha que estou falando só da cozinha. Acrescente aí na casa nova todos os itens de banheiro, quarto, sala e área de serviço, já que eles não têm nada fora as próprias vestimentas.

Quando bati essa real ao jovem casal, percebi que o olhar deles mudou. Do brilho excitado de quem conta uma bela novidade a amigos, os olhos se transformaram em um poço de preocupação e dúvidas.

Um puta balde de água fria na cabeça do casal. Cumpri mais uma vez minha nobre função na Terra de trazer sonhadores para a realidade. Eles entenderam o desafio e um deles disse, quando pagávamos para o garçom, que o bom da vida é que a gente constrói aos poucos. Fiquei feliz. Eles entenderam como o jogo é jogado.

@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Reprodução