Longe de casa

Troca de malas: como é a vida das goianas detidas por tráfico na Alemanha

Investigação da PF aponta que a bagagem pode ter sido trocada por funcionários terceirizados do Aeroporto de Guarulhos

Goianas que tiveram etiqueta de mala trocada por outra com droga deixam prisão na Alemanha (Foto: redes sociais)

As goianas Jeanne Paollini e Kátyna Baía completaram um mês como detentas da penitenciária de JVA Frankfurt III, na Alemanha. Presas por tráfico de drogas em um esquema de troca de malas investigado pela Polícia Federal, as mulheres foram surpreendidas por autoridades estrangeiras durante uma escala que fariam de Frankfurt para Berlim.

De acordo com a Polícia Federal, drogas foram encontradas em malas que tinham etiquetas com os nomes do casal. No entanto, tudo indica – confirma a corporação – que os tickets foram trocados propositalmente por funcionários terceirizados do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. As goianas negam envolvimento com tráfico de drogas e a PF reforça que elas não têm perfil das chamadas “mulas do tráfico”.

Erguida ainda no século XIX, a JVA Frankfurt III faz parte de um complexo penitenciário do estado alemão de Hesse. A unidade prisional é dedicada a detentas mulheres, presas em regime aberto ou fechado. Há departamentos voltados para menores de idade e mães acompanhadas de seus filhos pequenos.

Segundo a advogada Luna Provázio, que atende o casal, as duas descreveram as celas como “muito pequenas”, sendo todas individuais:

— Elas ficam presas cada uma em uma cela e não têm o suporte uma da outra, seja para dar apoio, ajudar a ter mais paciência, ou acolher quando uma está mais triste — diz a advogada, que tem sido um dos únicos contatos do casal com o Brasil — As duas só conseguem falar com as suas famílias muito raramente.

Uma das poucas oportunidades que o casal tem para se ver é no horário das refeições, que acontecem apenas duas vezes: no café da manhã e no almoço.

— Em relação a alimentação a gente pensa que o tratamento seria melhor, mais adequado, mas não. Elas falam que elas tem acesso ao mínimo: a pão e ao almoço. Se quiserem jantar, elas tem que pagar — relata a advogada, antes de apontar que, aos finais de semana, os horários são mais controlados — Elas falam que não existe uma rotina predeterminada. Quando é final de semana o esquema é mais restrito, com menos tempo de banho de sol e socialização entre as presas.

Ainda segundo a Provázio, ao chegarem na prisão, ambas tiveram todos os bens confiscados e ficaram os primeiros dias sem roupas adequadas para enfrentarem o frio alemão. Quando aterrisaram em Frankfurt, por exemplo, os termômetros variavam entre 4ºC e 6ºC.

— No início, eles não deixaram elas terem acesso a roupa de frio, mas com o passar dos dias isso mudou — diz Luna Provázio.

A barreira linguística tem sido outro problema no dia a dia do cárcere, já que são poucas as outras pessoas no presídio que também falam português, segundo a advogada. De Goiânia, a personal trainer e a veterinária estão juntas a 17 anos e pretendiam viajar por diferentes países europeus ao longo do mês de março.

Entenda o caso

Nesta quinta-feira, o Ministério da Justiça afirmou,por meio de nota, que ‘todas as informações’ sobre as investigações da Polícia Federal, que revelou o esquema de funcionários do Aeroporto Internacional de Guarulhos para trocar a bagagem dos passageiros por malas com drogas, foram enviadas para a Justiça alemã. A documentação havia sido pedida pelas autoridades do país europeu para avaliarem a possibilidade de liberar Jeanne Paollini e Kátyna Baía.

“O Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça e Segurança Pública já encaminhou todas as informações sobre as investigações brasileiras às autoridades alemãs”, disse o Ministério da Justiça ao ser questionado se o inquérito traduzido para a língua alemã havia sido enviado ao exterior.

— A Polícia Federal produziu as provas e as encaminhou para a Justiça alemã. Só que hoje na audiência de custódia, tanto o juiz quanto o promotor falaram que da forma como foi feito não é o suficiente para eles — disse, nesta quarta-feira, a advogada Luna Provázio, que representa o casal de Goiânia, em um vídeo publicado em suas redes sociais.

De acordo com Provázio, a Polícia Federal havia envioado às autoridades alemães apenas fotos do inquérito e um relatório. O promotor e o juiz do caso em Frankfurt pediram para que, além dos vídeos, seja enviada a intégra do inquérito traduzida para o alemão.

Nesta terça-feira, a Polícia Federal deflagrou uma operação, intitulada “Iraúna”, para combater a ação dos criminosos em trocas de bagagem. Seis pessoas foram presas por suspeita de envolvimento.

Durante a investigação, os agentes identificaram o grupo que enviou 40 quilos de cocaína para a Alemanha por meio da troca de bagagens de passageiros. A ação do bando consiste em retirar a etiqueta da bagagem despachada e colocar em outra, que está com as drogas.

Ao serem abordadas, as brasileiras disseram não saber a origem da cocaína em suas malas e alegaram que as bagagens não eram delas. Segundo a Polícia Federal, “há uma série de evidências que levam a crer, de fato, que não há envolvimento delas com o transporte da droga, pois não correspondem ao padrão usual das chamadas ‘mulas do tráfico’”.

— Infelizmente as duas irão permanecer presas preventivamente em Frankfurt até que essas provas cheguem nas mãos da Justiça alemã. Nosso apelo é pela urgência, que seja dada celeridade pelas autoridades daqui do Brasil — disse a advogada da dupla.