CARNAVAL

Entre as fantasias e a avenida: escolas de samba preservam legado cultural em Goiânia

Há mais de três décadas, escolas de samba de Goiânia resistem e celebram a cultura carnavalesca com paixão e determinação

Escolas de samba
Antônio Delgado Filho tem 64 anos e metade deles dedicado ao carnaval: é o fundador da escola de samba Lua-Lá e atua como carnavalesco (Foto: Jucimar de Sousa - Mais Goiás)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda era um deputado federal por São Paulo e tentava seu primeiro voo presidencial quando tiveram a ideia de criar uma escola de samba para disseminar o nome e a campanha do metalúrgico em Goiânia. Para não soar propaganda escancarada, o U foi retirado do “Lula” e assim nascia a “Escola de Samba Lua Lá”, em 1989, às vésperas do período eleitoral.

De lá para cá, 35 anos se passaram. Lula não foi eleito e uma década depois, o grupo se desvinculou do Partido dos Trabalhadores. Hoje sequer tem relação com algum outro partido político. “Não há nenhum vínculo com partido algum, tampouco com o PT. A escola de samba Lua Lá não é só um desfile de samba. Somos uma associação multicultural e realizamos inúmeras ações ao longo do ano”, conta o fundador e carnavalesco Antônio Delgado Filho, no alto dos seus 64 anos.

As vinculações políticas podem ter ficado no passado mas deixaram um legado: não falta vontade em perpetuar a cultura, arte, dança e música. “Somos artistas e acreditamos que a arte e a cultura enaltecem o ser humano e nos fazem melhores através das fantasias que aqui são criadas, das coreografias dos nossos professores de dança e teatro levando a fundamentação teórica do enredo e a também a parte prática que levaremos às famílias um espetáculo com início, meio e fim. O nosso trabalho é levar a alegria de viver para as  comunidades”, destaca o presidente da escola, Semio Carlos.

Delgado e Semio dedicam mais de 30 anos de suas vidas à escola. Com muita pesquisa, investem o tempo para entregar, no carnaval, alegria à comunidade. O barracão fica situado na Vila São Judas Tadeu, região norte de Goiânia. Lá, inúmeras pessoas passam todo o ano dedicando-se à organização e produção de uma apresentação que costuma acontecer uma única vez no ano: no carnaval.

“Para mim, isso representa a alegria de viver, enaltecer a vida através das artes integradas, da musicalidade e da bateria que é o coração da nossa escola. Nós não convidamos as pessoas para pularem o carnaval, as preparamos para que elas se apresentem no festejo de momo”, destaca Semio.

Beija-Flor: Entre a Fantasia e a Resistência

No coração pulsante do carnaval goianiense, entre a invisibilidade e a avenida, a Beija-Flor pulsa em ritmo próprio. Entre fantasias que transcendem a realidade e a luta incessante pela sobrevivência, a escola de samba é um símbolo de paixão e resistência.

Walber Mariano, o carnavalesco da escola, é um dos guardiões da magia da Beija-Flor. Em suas palavras, o carnaval se transforma em um conto de fadas, onde a mente fértil se traduz em fantasias exuberantes. “Vem mil e uma ideias, quando a gente vê o tema do que vai falar. É algo maravilhoso”, relata ele, com o brilho nos olhos que só a paixão pelo carnaval pode explicar.

A confecção de cada adereço é um ritual meticuloso. A secretária-geral da escola, Suely Marques, comanda a equipe que dá vida às criações de Walber. “Demora-se quinze dias para ser confeccionado. Da costura até o bordado”, conta ela, enquanto seus dedos ágeis pregam pedrarias, cristais e majores em uma fantasia.

A comunidade da Beija-Flor é a alma da escola. São pessoas como Suely, que dedicam anos de trabalho árduo para manter viva a chama do carnaval goiano. “Somos a sobrevivência e a resistência do carnaval de Goiânia”, afirma ela com convicção.

A luta da Beija-Flor não se limita ao barracão. A escola enfrenta desafios constantes para garantir o reconhecimento e o apoio do poder público. “Precisamos da credibilidade do Poder Público porque somos todos profissionais e gostamos da cultura e trabalhamos isso há 38 anos”, defende Suely.

No entanto, a paixão pelo carnaval é a força que move a Beija-Flor. A cada ano, a escola se reinventa, superando obstáculos e transformando sonhos em realidade na avenida. A comunidade se une em um só propósito: celebrar a alegria e a cultura do carnaval.

Assim, a Beija-Flor se torna mais do que uma escola de samba. É um símbolo da resistência cultural, um espaço de união e um palco para a fantasia tomar conta da realidade.

Ao som dos tambores e do samba, a Beija-Flor segue escrevendo sua história, entre a fantasia e a luta pela preservação do carnaval goiano.

Bloco 1018: A força da tradição no Setor Pedro Ludovico

No coração do Setor Pedro Ludovico, em Goiânia, o Bloco 1018 se prepara para mais um desfile. Fundado em 2016, o bloco é a personificação da paixão pelo carnaval, uma chama que arde no coração de Valdivino Bezerra, o “Vino do Samba”, presidente da agremiação.

Com mais de 40 anos de vida dedicada no carnaval, Vino carrega a tradição em cada passo. “É uma paixão que tenho”, confessa ele, com a emoção transbordando em seus olhos. A cada ano, o bloco se reinventa, buscando levar alegria para a comunidade e fortalecer a cultura carnavalesca goiana.

“Somos a resistência da cultura goiana”, afirma Vino com convicção. Em um mundo cada vez mais acelerado, o bloco se torna um refúgio para a tradição, um espaço onde a comunidade se une para celebrar a alegria do carnaval.

O desfile do Bloco 1018 será realizado na Rua 1012 esquina com a 1018, no Setor Pedro Ludovico. Mais do que um evento, é uma oportunidade para celebrar a vida, a cultura e a paixão pelo carnaval.

Sob o comando de Vino do Samba, o Bloco 1018 se prepara para mais um desfile memorável, um verdadeiro espetáculo de cores, alegria e tradição.

A comunidade se une em um só coro, entoando o samba que ecoa pelas ruas de Goiânia: o Bloco 1018 chegou!