SEGUNDA EDIÇÃO

Jornalista lança livro falando sobre preconceito, inclusão e acessibilidade

Como diria Carlos Drummond de Andrade, ser gauche é não se encaixar nos padrões. É ser…

lelei teixeira e fomos ser gauche na vida
(Foto: Reprodução/ Félix Zucco)

Como diria Carlos Drummond de Andrade, ser gauche é não se encaixar nos padrões. É ser diferente, desajeitado. A expressão apareceu em seu “Poema de Sete Faces”, publicado ainda no ano de 1930, e serviu de inspiração para a jornalista Lelei Teixeira, que usou a mesma palavra para intitular seu livro “E fomos ser gauche na vida“, em uma clara referência ao grande poeta brasileiro.

Apesar da singela inspiração, a obra de Lelei, que foi lançada em dezembro de 2020, vai muito mais a fundo e mergulha em suas próprias memórias e trajetória de vida, contando também um pouco sobre a vida da irmã, ambas com nanismo. Portanto, a obra aborda temas importantíssimos a respeito da acessibilidade, preconceito e inclusão.

O livro chegou às prateleiras pela Pubblicato Editora no fim do ano passado, tendo sua primeira edição esgotada em menos de 30 dias. Agora, uma segunda edição está sendo preparada para que mais pessoas possam se inspirar na história de Lelei Teixeira e da irmã, Marlene Teixeira.

Um ano mais velha que Lelei, as duas nasceram com acondroplasia. Seus pais acabaram demorando para perceber o nanismo, acreditando que as filhas eram apenas pequenas.

Segundo a jornalista: “Quando eu nasci, viram que eu tinha as mesmas características e pensaram que teria algo diferente com nós duas. O médico se deu conta do nanismo, falou para os meus pais e completou: ‘elas têm desenvolvimento intelectual e emocional normal, podem colocá-las no mundo’. Eu digo que a sentença médica foi salvadora, em certo sentido, porque brincamos e fomos para a escola sem restrições. Fomos enfrentando o que vinha na vida“.

Infelizmente, Marlene faleceu em novembro de 2015 por complicações de um câncer. As duas compartilhavam uma amizade linda e, juntas, precisaram ter muita coragem para encarar a vida. A ideia era que o livro fosse escrito pelas duas e durante anos, trocaram experiências pessoais e profissionais, unindo tudo aos estudos que Marlene fazia sobre linguagem, discurso, psicanálise e literatura.

Com a perda da irmã, Lelei Teixeira conta que passou um ano em luto, sem conseguir sequer pensar em dar continuidade ao trabalho. Algum tempo mais tarde, a jornalista se permitiu voltar à obra, começando a escrever para o blog “Isso não é comum”, do Sul21, onde permaneceu até agosto de 2020. Foi nesse tempo que o livro começou a ganhar forma.

Na obra “E fomos ser gauche na vida”, a jornalista conta que teve o primeiro contato com a “estranheza” assim que precisou ir para a cidade grande trabalhar e estudar. “É estranho pensar o quanto uma cidade pode ser difícil. O retorno que estou tendo dos leitores é incrível porque a maioria das pessoas nunca imaginou situações pelas quais passamos“, afirma.

E continua: “ Banheiros públicos, calçadas. Eu entro em um hotel e por mais chique que ele seja, falha na acessibilidade. Eu não consigo lavar minhas mãos em um hotel. Engenheiros e arquitetos, por exemplo, possuem uma enorme missão de trabalho que vai muito além do que as leis obrigam“, conclui.

Lelei Teixeira acredita que a mudança só virá por meio da educação, que as crianças precisam ser ensinadas fora dessa bolha de preconceito estrutural em que vivemos, sempre conscientizando, e não omitindo. “Eu aposto na educação. Só a educação vai nos tirar deste preconceito que está colado na nossa pele“, reflete a jornalista.

A segunda edição do livro “E fomos ser gauche na vida” já está sendo produzida e, em breve, retornará às livrarias.