Goiás

Peça permissão e mergulhe nas águas sagradas de Aragarças

O estado de Goiás reserva uma surpresa cheia de boas energias, conforto e águas minerais…

O estado de Goiás reserva uma surpresa cheia de boas energias, conforto e águas minerais termais. Aproveite a alta temporada de julho do Rio Araguaia e peça licença para entrar nas águas do Complexo Thermas Água Santa, território habitado por povos indígenas da etnia Karajá nos anos 1.200. O espaço fica na divisa entre Goiás e Mato Grosso, mais precisamente no município de Aragarças, a 345 km de Goiânia.

O Complexo quebra vários paradigmas ao mesmo tempo. O primeiro deles é o de que águas quentes existem em apenas três lugares de Goiás: Caldas Novas, Jataí e Lagoa Santa. O segundo é o de que uma viagem à praia do Rio Araguaia só pode ser em acampamento, com barracas. E o terceiro é a prova de que conforto, acessibilidade e responsabilidade ambiental podem, de fato, caminhar juntos.

Prática de caiaque no Rio Araguaia (Foto: Ulisses Siqueira)

São mais de 100 mil litros correntes por hora com uma perfuração de apenas 17 metros, represados em um poço com temperaturas que chegam aos 39º. Além de mineral, essa água ainda é medicinal, composta por 0,18 mg/L de Fluoreto e 0,012 mg/L de Lítio – muito usado no tratamento contra depressão.

Respeito

Mas, antes de tudo, peça licença para se banhar nas águas santas. Só assim será possível se purificar desfrutar das propriedades medicinais e relaxantes. Águas termais brotam do solo e de rochas e encontram as águas geladas do Rio Araguaia: o encontro de dois líquidos minerais.

Existem, ainda, duas praias da água doce e gelada do Rio Araguaia. São menos de 50 metros de distância, em um lugar com acessibilidade: uma rampa de madeira liga o resort à areia. Durante a noite, o céu mais bonito do Brasil pode ser visto da areia, quase sem nenhuma interferência de luzes artificiais.

Botos cor de rosa nadam, passeiam e pescam por ali o tempo todo. Do outro lado da margem, já no Mato Grosso, onde se pode chegar de caiaque ou canoa, podem ser vistas pegadas de animais silvestres, que protegem o solo sagrado e comprovam a preservação do meio-ambiente.

Uma lenda conta que uma velha senhora Karajá protege o espaço. Por isso, é preciso ter respeito e pedir permissão. Afinal, são duas águas consideradas sagradas, essenciais à história desses povos tradicionais. Elas se unem em um lugar que carrega a energia de limpeza da alma, renovação e, acima de tudo, respeito à história, às tradições e à natureza.

Conforto e lazer

(Foto: Bárbara Zaiden)

Para conhecer esse lugar e se purificar nas águas goianas existem duas possibilidades: comprar um passaporte para passar o dia ou se hospedar nos chalés.

Os 11 quartos foram totalmente reformados para a temporada de julho de 2019 do Rio Araguaia. Camas de solteiro e de casal, lençóis branquinhos, banheiros novos, frigobar, chuveiro de água quente. Dois deles têm até banheiras de jacuzzi. Nem internet e televisão faltam para os hóspedes.

Pra quem preferir uma rede confortável depois do almoço ou para uma boa leitura, elas existem de sobra, nas sacadas dos quartos e espalhadas por todo o clube. Isso mesmo: ainda existe um parque aquático, com piscinas adulto e infantil, balde aquático e cascata de 5 metros.

Ainda há quatro quiosques para churrasco e um restaurante com café da manhã, almoço e jantar para goiano e matogrossense nenhum botar defeito.

Para tomar aquela cervejinha, um drink ou um picolé: o bar funciona muito bem e até fornece baldinhos de gelo para levar para a beira do rio. É muito conforto, muita beleza natural e muito descanso pra um lugar só!

História e povos tradicionais

Estudos feitos no Complexo encontraram artefatos e indígenas e apontam que os povos Karajá habitaram as terras de Água Santa entre os anos 1200 e 1600. As pesquisas são da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), o campus que fica em Barra do Garças, logo depois da divisa dos dois estados.

(Foto: Bárbara Zaiden)

Os Karajá, ou Iny (como se autodenominam), consideram o Rio Araguaia um lugar sagrado. E não é atoa: o mito de criação desses povo está intimamente ligado ao fundo do rio. Conta-se que um dos membros da aldeia burlou o rígido ritual de resguardo e mergulhou nas águas.

Foi quando encontrou, do outro lado, um mundo diferente. Encantando com as cores e beleza que viu aqui, trouxe outros membros da aldeia para viverem com ele. A punição dada a ele foi ter que viver para sempre no mundo exterior.

(Foto: Bárbara Zaiden)

Leandro Daher, do grupo Tropical de Goiânia, um dos sócios-proprietários do resort, fez o caminho inverso dos Iny. Ele mergulhou no Rio Araguaia e percorreu uma longa distância tateando o chão com os pés. E descreve a sensação: “cada ponto em que eu pisava, eu sentia um ponto de água termal. Aqui, nascentes brotam das rochas e entram no rio. A conexão que vocês tiverem aqui, abracem. Nos ajudem a transformar esse local”.

O poço de águas termais recebeu o nome do homem que o tornou popular: Tomás Ávila. Na década de 1970, ele e alguns amigos se uniram para comprar um espaço de terra em Aaragarças. O intuito era apenas ter para onde ir pescar com a família, em segurança e com tranquilidade.

(Foto: Bárbara Zaiden)

Sérgio Alves, filho de Tomás, explica que o espaço foi planejado com responsabilidade para se sustentar no tempo, sem agredir à natureza: “implantamos, aqui, o tripé da sustentabilidade”.

“O sonho do meu pai era abrir esse lugar para outras famílias. Nós estamos, agora, realizando sonhos. Peço que entrem nesse lugar com respeito, que peçam permissão para se purificar, limpar de toda a energia negativa”, completa.

Em 2010 foi aprovado um estudo de impacto ambiental e desde então o toda a área que envolve o complexo tem passado por melhorias. Foi criado um corredor ecológico nos 84 alqueirões, formando um anel que sai e entra novamente para o rio. O intuito é manter a preservação para que espécies de fauna e flora nativas do cerrado goiano. Recentemente, um condomínio horizontal também foi lançado com lotes que estão à venda. E aí, prontos para mergulhar nesse lugar mágico?

*Texto: por Bárbara Zaiden, do Mais Goiás