PARA DERRUBAR OS TABUS

Saúde mental infantojuvenil é tema de livro lançado por advogada goiana

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 800 mil pessoas morrem por…

Livro saúde mental
Liliane Pina, autora do livro "Aconteceu com Meu Filho", ao lado do filho João Gabriel (Foto: Divulgação/ Arquivo Pessoal)

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio no mundo anualmente. É como se fosse uma morte a cada 40 segundos, um número realmente alarmante e que precisa ser tratado como uma das prioridades de saúde pública. Avaliando a situação do Brasil, os dados mostram que o país segue indo na contramão da saúde mental, apresentando aumento no número de casos.

Por ano, estima-se que cerca de 12 mil pessoas tirem a própria vida no país, sem contar aquelas que atentam contra si, com automutilação e tentativas de suicídio. Infelizmente, temas como depressão e ansiedade ainda são vistos como tabu, fazendo com que o paciente, por diversas vezes, seja negligenciado, o que apenas agrava a situação.

A advogada Liliane Gonçalves da Costa Pina, autora do livro “Aconteceu com meu filho: Relato de superação da automutilação e do suicídio“, que será lançado em junho, passou por momentos difíceis com o filho, que exigiram muita sabedoria e empatia para lidar com a situação.

Segundo ela, a saúde mental vem sendo tratada como um mantra, principalmente em tempos de pandemia. Apesar disso, lembra que esta é uma epidemia silenciosa e muito antiga, que vem afetando adultos e demonstra um aumento ainda mais preocupante entre o público infantojuvenil.

Liliane conta como percebeu que o filho precisava de ajuda

O comportamento do garotinho já não era mais o mesmo. Ele passou a se isolar e não contava sobre o que acontecia na escola. “O que fez eclodir a doença no meu filho foi um bullying na escola. O que me levou na escola foi uma queimadura em uma das pernas dele. Ele tinha 10 anos e não conseguia dizer como havia se machucado. Após uma semana, apareceu uma queimadura na outra perna“.

Liliane conta ainda que o filho desenvolveu um comportamento diferente. Passava mal antes de ir para a escola, a diretora ligava para buscá-lo mais cedo, vomitava. Um grande ponto é que a criança não conta quando está passando por situações do tipo, já que sofre ameaças e o bullying costuma ser silencioso para quem o enxerga de fora.

Por isso é tão importante estar atento aos sinais. Assim que foi até a escola, a advogada conta que conversou com a psicóloga da instituição de ensino, que havia matado a charada: o garoto estava se automutilando.

Sintomas que requerem atenção quanto a saúde mental

A advogada conta que é preciso prestar atenção ao comportamento das crianças e adolescentes:

A percepção com relação à saúde mental das crianças ocorre de várias maneiras. O comportamento, que muitas vezes é de isolamento e pode ser confundido com algo comum em adolescentes, a modificação alimentar, a falta de disposição para atividades que, antes, gostava muito. Os sinais são visíveis, desde que a gente consiga prestar atenção no que está acontecendo. Por não ter a personalidade formada, a criança fica em silêncio, ela não consegue tomar certas atitudes“.

É importante ressaltar que não existe apenas a depressão. Existem outras doenças relacionadas à saúde mental que também merecem atenção, a exemplo da bipolaridade, esquizofrenia, entre tantas outras. Também é preciso estar atento ao acesso a internet, já que as redes sociais também podem ser um fator de risco.

Meu filho pertence à geração ‘Z’, os chamados nativos digitais. Falta pra eles, hoje, um convívio real. A casa não tem mais cheiro de bolo. Eles estão exclusivamente em dois ambientes: na escola e em casa. As mães trabalham fora. Vivemos em um mundo acelerado, onde a sensação é de afogamento. Isso para adultos, imagine para as crianças“, reflete Liliane.

“A depressão não é frescura, não é mimimi, não é falta de Deus, não é preguiça. Não devemos julgar o comportamento. Eles precisam de escuta, de acolhimento”.

Sobre o livro

Livro saúde mental e suicídio infantojuvenil

Liliane Pina, autora do livro “Aconteceu com Meu Filho”, ao lado do filho João Gabriel (Foto: Divulgação/ Arquivo Pessoal)

Liliane conta que a ideia de escrever o livro surgiu quando buscou ajuda espiritual. Percebeu que tinha a missão de ajudar pais, mães, responsáveis e até os próprios adolescentes a identificarem o que está acontecendo.

A partir de sua vivência com o filho, ela conta como foi o processo de identificação, ação e superação do problema. Foram anos de muita luta, sofrimento, mas sobretudo, cuidado, amor e empatia. A partir dos relatos do livro “Aconteceu com Meu Filho”, o leitor é capaz de encontrar um ponto de apoio e incentivo para procurar ajuda.

O objetivo da obra

Quando questionada sobre o objetivo do livro, a advogada conta:

O objetivo é mostrar que é possível o retorno a uma vida normal, com regresso à comunidade como indivíduos produtivos, autoconfiantes e capazes de desenvolverem todo seu potencial.“.

A luta de Liliane vai muito além. Sua história não é para ser utilizada apenas como exemplo de superação, mas também para mostrar que o assunto precisa ser debatido, sem medo e sem tabu. Ela luta para a desmistificação de termos que são usados para atacar, e que em nada ajudam as pessoas que realmente precisam enfrentar o problema.

Eu luto pela conscientização e desmistificação do tema suicídio. Luto e me exponho, com o intuito de alcançar inúmeras famílias que estão perdidas e atônitas, como um dia fiquei. Principalmente agora, no decorrer dessa pandemia, onde a incerteza é gritante. Com as crianças em casa, é a hora dos pais conversarem com as crianças e perceberem se existe algum problema“.

Em “Aconteceu com Meu Filho”, o leitor tem acesso às diversas causas da depressão infantojuvenil, mostradas a partir do que foi vivenciado e o porquê do aumento desse tipo de comportamento em um público cada vez mais jovem.

Apesar de muito delicado, o tema precisa ganhar espaço. Assim, a autora busca aperfeiçoar o local de escuta, o acolhimento daqueles cujo sofrimento é intolerável. Por isso, Liliane alerta que o livro não é sobre uma história em particular, mas sobre um grave problema de saúde pública.

A obra também faz um alerta e visa divulgar a existência de um Plano Nacional de Combate à Automutilação e ao Suicídio (Lei 13.819/19), com o intuito de fazer com que as autoridades efetivem o que está disposto em termos legais, instaurando práticas que realmente acompanhem a população.

Todos que estão passando por doenças mentais precisam de um médico, de um psicólogo. Sem ideais, não pode haver iniciativa. A empatia é saber enxergar a alma do outro, as dores pesam de jeitos diferentes. É preciso dizer para as pessoas que estão perdidas, que existem outras saída. “.

O livro será lançado no final de junho. A expectativa é que realmente consiga contribuir para esclarecer a sociedade em questões relacionadas à saúde mental e suicídio infantojuvenil, e que também consiga pressionar o poder público para a implementação de projetos reais, que visem auxiliar a população menos assistida, que costuma padecer em meio ao problema.

Ação de apoio para a saúde mental

Além do livro “Aconteceu com Meu Filho”, Liliane também colocou em prática um projeto que está em busca de parceiros. No site aconteceucommeufilho.com.br, ela busca parcerias para disponibilizar um atendimento com psicólogos e psiquiatras, visando atender pessoas que não podem pagar por um tratamento. Novos parceiros são bem-vindos e podem entrar em contato através do e-mail [email protected].

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