Crítica

Altered Carbon: Netflix mostrando todo seu potencial

Quando as pessoas perguntam qual é a melhor série produzida pela Netflix, existia sempre uma…

Quando as pessoas perguntam qual é a melhor série produzida pela Netflix, existia sempre uma resposta pronta: House of Cards. Outros grandes dramas vinham na esteira, mas o drama político sempre esteve na cabeça como o melhor que o canal de streaming tinha a oferecer.

Até agora.

Altered Carbon, nova série cyberpunk baseada na trilogia de romances do autor Richard K. Morgan, se orgulha de não ser facilmente contida por limites, sejam eles técnicos, orçamentários e principalmente de conteúdo.

Mas o que diabos é Altered Carbon? Bom, o seriado se passa no século 26. Por lá, a humanidade se espalhou por vários planetas e o universo conhecico é governado por um governo pseudofascista conhecido como o Protetorado e por megacorporações que mandam e desmandam na vida das pessoas.

A principal revolução tecnológica dessa época são os cartuchos FHD, instalados na coluna de todo recém-nascido e capazes de baixar toda a consciência humana.

Ou seja, desde que o cartucho não seja destruído, a pessoa continua viva, tornando o corpo humano descartável – chamados “capas” na série. Para os mega-ricos isso significa, virtualmente, vida eterna, tornando-os imunes à doenças, à velhice e mesmo à mortes violentas. A morte só é permanente – ou real, usando o jargão da série – se o cartucho for destruído.

Nisso entra Takeshi Kovacs, um ex-mercenário trazido de volta dos mortos 250 anos após seu corpo ser abatido. Sua missão: descobrir quem tentou assassinar um dos homens mais poderosos do mundo e responsável por trazê-lo de volta.

O bom

De cara, é importante dizer que, para uma série de TV, Altered Carbon é um primor técnico. A série não fica devendo para Game of Thrones. Fazendo uso pesado de efeitos especiais e de cenários futuristas, em nenhum momento nenhum departamento da direção de arte e fotografia deixa cair a peteca.

A série também não diminui o tom dos livros e é bastante pesada, cheia de violência e de nudez. Algo relativamente inédito nas séries da Netflix, que tende a usar um visual e tom mais ameno.

Mas todo esse conteúdo gráfico faz sentido: afinal de contas, a trama se passa em um mundo onde o corpo perdeu o seu valor inerente.

Como toda boa trama cyberpunk, o mistério e a investigação não deixam a desejar, com um clímax inesperado e intenso nos episódios finais.

Tudo isso é ajudado por um belo elenco que conseguiu arrancar uma atuação decente (embora não tão boa assim) do ator Joel Kinnaman, ator que até agora só havia entregado performances engessadas em House of Cards e em RoboCop.

A mexicana Martha Higareda também se mostra muito versátil com uma personagem que é ao mesmo tempo dramática e cômica, além de entregar bem a pegada de policial durona que impregna a detetive Kristin Ortega.

O ruim

Dito tudo isso, não é uma série para todos. Seu conteúdo, visual e mesmo de roteiro é pesado e traz questões como a vida, a morte e a existência, mas tudo meio superficial.

O cyberpunk é um gênero difícil para o grande público por um motivo: é uma ficção-científica mais tensa e sujona que trabalha com temas e personagens que podem não agradar todo mundo.

Se a série for muito violenta ou deprimente pra você, não tem problema em ir procurar outra coisa.

O veredito

Um amálgama de gêneros sob o guarda-chuva cyberpunk, a série consegue segurar o tranco ao lado de Ghost in the Shell (o filme em anime original, não o remake hollywoodiano) e o recente (e excelente) Blade Runner 2049 sem perder a pose.

Estranha e afrontosa para olhares leigos, o seriado é um bálsamo para os nerds fãs do gênero preso desde os anos 1980 em alguns poucos filmes e longe dos olhos mainstream (com a exceção de Matrix), entrincheirada em subgêneros de video games, livros e HQs.

Um medo era que a série fosse ser higienizada: tornada mais palatável para o público geral e que sua direção de arte altamente estilisada fosse tornar os custos proibitivos para a Netflix. Claramente, o serviço de streaming, em plena era quase pós-Game of Thrones, não teve dó de apostar as suas fichas.