Crítica

Better Call Saul: melhor do que nunca

A terceira temporada de Better Call Saul, spin-off de Breaking Bad criado por Peter Gould e Vince…

A terceira temporada de Better Call Saul, spin-off de Breaking Bad criado por Peter Gould e Vince Gilligan, encerrou seu décimo capítulo com um gostinho de quero mais enorme. É difícil encontrar problemas em uma série que continua se mantendo como uma das mais sólidas da televisão, com roteiro excelente e uma invejável progressão narrativa e de personagens.

Ao longo de seus dez episódios, a trama girou ao redor de dois enredos principais. O primeiro foi focado em Jimmy e em sua disputa legal com seu irmão Chuck, solucionando o cliffhanger devastador da segunda temporada.

O outro foi focado em Mike e em Nacho e o aprofundamento de sua relação com Gus Fring, introduzido nesta temporada, e com a queda de Hector Salamanca. Ambos os arcos foram muito bem realizados e, ao contrário das duas temporadas anteriores, entregaram um final mais amarrado e mais satisfatório.

Novamente, Bob Odenkirk rouba a cena completamente no papel principal de Jimmy McGill. Embora a persona de Saul Goodman ainda não tenha se manifestado inteiramente, a terceira temporada deu sinais claros de que a queda está próxima e que é inevitável.

Tudo isso graças a um roteiro incrível e uma excelente progressão de personagem não apenas da parte de Jimmy/Saul, mas também dos demais personagens próximos, incluindo Kim e Chuck.

Próximo ao final da temporada, Jimmy chega a perceber o mal que ele causa às pessoas ao seu redor e lhe é dada a opção de tentar corrigir seus erros ou abraçar seu lado sinistro. As consequências de seus atos também se tornam mais visíveis e alarmantes nestes novos episódios, culminando com o final dramático de Chuck – e o cliffhanger desta temporada – conforme o orgulhoso advogado não consegue lidar com sua doença mental.

O mesmo vale para Kim: após um crescendo que dura quase todos os dez episódios, a personagem finalmente percebe que pode estar dando passos maiores do que as pernas e que carregar Jimmy nas costas pode lhe custar muito caro.

Enfim, em termos de personagens, a terceira temporada se encerrou com uma série de despertares, epifanias mesmo, se quiser, que com certeza trarão implicações e complicações para a quarta temporada.

Toda a temporada é um pavio longo que revela, ao público e ao próprio protagonista, que seu egoísmo e ações “que não fazem mal à ninguém” na verdade possuem a capacidade de destruir vidas inteiras.

Outro grande mérito foi mostrar ambos os irmãos McGill com uma profunda carga de vulnerabilidade. Jimmy sem saber o que fazer de sua vida, afastado de Chuck e percebendo, talvez pela primeira vez na vida, que suas ações afetam negativamente a vida daqueles ao seu redor.

E quanto a Chuck, caramba, que queda! Os dez episódios desconstroem tijolo a tijolo a muralha de orgulho do personagem que entra cada vez mais em parafuso e em negação ao ser forçado a confrontar a sua doença mental. É interessante também ver a semelhança entre os irmãos que, embora fundamentalmente diferentes, dividem alguns traços marcantes como o orgulho, a negação e o hábito de culpar os outros por seus problemas.

O núcleo de Mike e Nacho não foi tão proeminente nesta temporada quanto na anterior, mas teve seus pontos altos. O mais óbvio deles foi a introdução de Gus Fring. Giancarlo Esposito continua excelente no papel e seu personagem se encaixou com naturalidade na trama.

Por outro lado, os novos episódios não trouxeram exatamente nada de novo em relação aos anteriores. Isso não é, de modo algum, um problema, e seus personagens compensam facilmente. Como se diz, em time que está ganhando não se mexe e temos aqui um time vencedor.

Enfim, é difícil encontrar problemas em uma temporada tão redonda. Todo o polimento que faltava nas temporadas anteriores foi resolvido nesta que acaba fechadinha. Talvez, seu único defeito seja ser esperar mais um ano para ver o que o futuro reserva para estes personagens.