Inspiração

Césio 137: 5 produtos culturais sobre o tema

Escolhemos um filme, um livro, uma banda, uma HQ e um curta metragem sobre o acidente com o césio 137 para relembrar os 30 anos da tragédia

Há 30 anos acontecia o acidente com o Césio 137, em Goiânia. Desde então, a tragédia não saiu do imaginário do brasileiro. Por conta disso, o caso já foi citado ou serviu como inspiração para filmes, livros, músicas e muitos outros. Selecionamos cinco produtos culturais que, de algum modo, abordam o tema e são importantes para que ninguém se esqueça do que aconteceu naquele 13 de setembro de 1987. Além disso, quatro desses ítens foram produzidos por goianos.

Confira:

Césio 137 – O Pesadelo de Goiânia

Filme de Roberto Pires teve alcance nacional (Imagem: Reprodução/ Youtube)

 

Se você quiser conhecer um pouco mais sobre o acidente radiológico brasileiro, uma boa dica é o filme Césio 137 – O Pesadelo de Goiânia, de 1990. Nenhuma adaptação de fatos reais consegue ser totalmente fiel ao que aconteceu, mas essa película é bastante cuidadosa e contém informações bem completas sobre o ocorrido no dia 13 de setembro de 1987 e seus desdobramentos.

O roteiro e a direção são do baiano Roberto Pires. Ele se baseou em depoimentos das vítimas e de profissionais que viveram a tragédia. O elenco tem nomes já bastante conhecidos como Nelson Xavier (interpretando Devair, o catador de lixo que encontrou a cápsula com o césio), Joana Fomm (interpretando Maria Gabriela, esposa de Devair que também foi contaminada) e Paulo Betti (interpretando Paulo dos Santos).

O filme teve repercussão nacional e muitas pessoas de fora de Goiás conheceram com detalhes a história por meio da adaptação. O longa metragem pode ser encontrado, na íntegra, no Youtube.

Os bastidores do césio 137

A psicóloga Suzana Helou conversou com pessoas que trabalharam durante o acidente (Foto: Divulgação)

A psicóloga Suzana Helou trabalha no Centro De Assistência aos Radioacidentados (C.A.R.A) e acompanha as vítimas do acidente com o Césio 137 desde o ocorrido. Quando a tragédia completou sete anos, ela lançou Césio-137: conseqüências psicossociais do acidente de Goiânia.

No ano em que o acidente completa 30 anos, a psicóloga lança o segundo livro, Os bastidores do césio 137- O acidente radiológico de Goiânia sob a ótica dos profissionais que nele atuaram. A obra mostra a perspectiva de treze profissionais de diversas áreas que estivera ligados, de algum modo, à tragédia.

De acordo com Suzana, o livro é sobre emoções, percepções e sentimentos dos profissionais, além de seus relacionamentos com os radioacidentados. A psicóloga recolheu treze entrevistas inéditas, quatro delas viraram capítulos e trazem as falas dos trabalhadores na íntegra e as outras nove viraram relatos a partir do contato com os entrevistados.

De todos os profissionais ouvidos, uma psicóloga e uma assistente social foram as responsáveis por coordenar o trabalho psicossocial na época do acidente. Além das entrevistas com os trabalhadores, Suzana conta que levantou o nível de superação dos radioacidenteados e o imaginário da população goiana sobre o acidente, por meio de questionários.

Sobre a motivação para escrever o livro, a autora explica que 30 anos de acidente pedem uma resposta da instituição que acompanha os radioacidentados. “A psicologia deve uma resposta e eu sou a psicóloga que acompanhou desde o acidente até hoje”, ressalta Suzana. O lançamento da obra será no dia 30 de setembro, às 20 horas, na Vila Cultural Cora Coralina, em Goiânia.

Amarelinha

Curta metragem emocionante sobre Leide das Neves está disponível no Youtube (Imagem: Reprodução/ Youtube)

Muitas vezes, um curta metragem possuiu o poder de emocionar e encantar, mesmo em poucos minutos. É o caso de Amarelinha, produção do goiano Ângelo Lima, lançado em 2003. A produção retrata Leide das Neves, uma das vítimas do acidente com o césio 137.

A menina era filha do catador de lixo, Ivo Ferreira, um dons donos do ferro velho para onde a peça com césio foi levada. A garota, de 6 anos, teve contato com a peça por meio de seu pai e acabou sendo uma das mais contaminadas, pois ingeriu um pouco da substância enquanto comia.

No curta metragem, uma menina representando Leide está pulando amarelinha e a pedra que ela joga para marcar a casa é azul, em referência à cor encantadora do Césio 137. Descrever o que acontece seria interferir na percepção de quem assiste, por isso, quem se interessar, pode assistir à produção no Youtube.

 

137

Eduardo Menna lançou o HQ 137, que tem como plano de fundo o acidente com o Césio, em Goiânia. (Foto: Reprodução/ Facebook)

O acidente radioativo de Goiânia causou uma sensação de medo na população e criou muitas terorias bizarras, fruto da desinformação das pessoas sobre o ocorrido. Agora imagine que esse foi o ponto de partida de um artista goiano para criar uma história em quadrinhos cujo plano de fundo é o césio 137.

Ronaldo Zaharijs lançou, em janeiro deste ano, 137, uma HQ de terror com arte de Eduardo Menna e capa de Rodrigo Spiga, sobre seis amigos que vão à Abadia de Goiás, cidade onde os dejetos estão enterrados, e encontram caipiras mutantes canibais que aterrorizam a região.

O autor conta que sua primeira publicação foi resultado de um interesse pelo tema desde a adolescência e de uma carência de informações sobre o ocorrido. “Apesar de já ser nascido na época do acidente, eu era muito novo. E na minha época de escola nem mesmo na escola ou na rua as pessoas comentavam, e aí surgiu a curiosidade, principalmente por ter sido aqui em Goiânia”, relata.

Ronaldo conta ainda que se inspirou nos filmes de terror dos anos 70 e que utiliza algumas características dessas obras, como o uso de estereótipos para construir os personagens, sobretudo dos jovens que vão para um lugar afastado e se deparam com situações inusitadas e assustadoras.

“Eu quis trabalhar mais o imaginário das pessoas sobre o tema, o que tanto as pessoas daqui, como de foram, enxergavam. É um pouco sobre como as pessoas de fora viam os goianos, tanto que os vilões são chamados pelos personagens como mutantes caipiras radioativos”, explica.

Quem se interessar pode adquirir 137 na loja de HQ’s Comic Strip e na Hocus Pocus.

 

HC 137

A banda se apresentou caracterizada para alertar sobre o acidente (Foto: Reprodução/ Facebook)

Um ano depois do acidente com o Césio 137, um grupo de amigos se reuniu sob o plano de fundo do horror causado pela tragédia e pela desinformação. Com o nome Horrores do Césio 137, a primeira banda punk de Goiânia surgia com um forte caráter de crítica social, sobretudo ao que aconteceu no ano de 1987.

Aurélio Claudino Dias é baterista da banda desde a sua terceira formação, em 1991, e explica que a banda acabou em 2008, mas que se reune a cada cinco anos para relembrar o acidente radioativo de Goiânia. “Existe um estigma muito forte, porque ainda existem vítimas, o governo não acha interessante, quer abafar, existe pouca informação”, explica sobre a percepção do acidente após 30 anos.

O músico conta que a banda já tocou uniformizada com roupas usadas em acidentes radioativos e já abriu shows ao som de sirenes. Além disso, algumas músicas do grupo relembram a tragédia, como Leide das Neves e Lixo Radioativo e um dos álbuns leva o nome de Made in GO, um modo de dizer que o Estado começou a ter destaque nacional por causa do césio.

Na visão de Aurélio, esse é um modo de alertar sobre o acidente e suas consequências. “A gente usa protesto e raiva, de modo visceral e agressivo justamente para chamar atenção”, pontua.  O grupo vai fazer alguns shows esse ano para reforçar a lembrança sobre o ocorrido.

Quem se interessar, pode encontrar toda a discografia da banda no Youtube.