Streaming

Crítica: ‘A Menina Que Matou os Pais’ e ‘O Menino Que Matou Meus Pais’ – Amazon Prime

Projeto nacional ambicioso dirigido por Maurício Eça, não faz sentido comentar sobre “A Menina Que…

(Foto: Reprodução/Amazon Prime)

Projeto nacional ambicioso dirigido por Maurício Eça, não faz sentido comentar sobre “A Menina Que Matou os Pais” ou “O Menino Que Matou Meus Pais” separados, já que ambos são praticamente idênticos ao contar a história do brutal assassinato do casal Manfred e Marísia von Richthofen, ocorrido em outubro de 2002, pelos irmãos Cristian e Daniel Cravinhos e a namorada deste último, Suzane von Richthofen, filha das vítimas. A diferença é a perspectiva da trama, já que em “A Menina” a história é contada por Daniel Cravinhos, e em “O Menino” é Suzane quem narra sua versão dos fatos.

A ideia de realizar dois longas inspirados nos depoimentos de Suzane e Daniel, e contados através de suas perspectivas, é ousado e interessante. Mas ainda que seja artisticamente instigante, e há exemplos excelentes no cinema desta prática (“Cartas de Iwo Jima” e “A Conquista da Honra”, por exemplo), o maior pecado de ambos os filmes é a falta urgência e sua preocupação em estereótipos rasos usados para justificar a natureza do casal.

Duas versões de um mesmo crime: as curiosidades e as polêmicas dos filmes  sobre o caso Richthofen | GZH

Filmes sobre assassinos é um dos grandes chamarizes da Sétima Arte, principalmente quando a história é inspirada em fatos. Uma característica dos grandes filmes do gênero, como “Monster: Desejo Assassino” ou “Meninos Não Choram”, por exemplo, é conseguir não somente transpor o desequilíbrio emocional, e afetivo, dos personagens de maneira angustiante, tenebrosa, mas não menos humana (e isso não quer dizer concordar com a ação), em “A Menina” e “O Menino” temos um retrato raso e superficial de dois adolescentes contando suas histórias, mas que em nenhuma delas existe, de fato, tensão, imprevisibilidade ou humanidade nos personagens. Suzane (Carla Diaz) é louca no sexo, birrenta, e a maconha é usada como motivo em ambos para expor visualmente a ‘problemática’ de ambos. Um artifício batido e bobo para os tempos atuais, e que não fornece nada, de fato, convincente sobre os personagens.

Diante disso, outros aspectos revelados por Suzane em sua versão, como o fato de ter sido abusada pelo pai, ou mesmo a visão de Daniel de uma família desequilibrada com problemas de fidelidade e álcool, são jogados pelo roteiro e em nada desenvolvidos, pouco aprofundados. Mas aí você me pergunta: mas Matthew, cada filme é a visão de cada um dos personagens, é o depoimento deles! Sim, mas como cinema, como filme, existe o termo ‘liberdade poética’ que lhe abre possibilidades de adaptação para criar cenas, tirar o desnecessário, e construir uma história que coloque cada peça no lugar correto para trabalhar nossa percepção da tragédia ocorrida.

Explicado se Suzane Richthofen recebe dinheiro de A Menina Que Matou os Pais

Particularmente, não vejo necessidade de fazer dois filmes sobre o caso, já que em ambos o resultado é o mesmo e tanto Daniel (Leonardo Bittencout) quando Suzane não deixam de ser assassinos confessos. Não são personagens que trazem uma perspectiva além daquela que todo mundo já sabe – daí a ‘liberdade poética’ é imprescindível na ficção. Um roteiro mais criativo ao construir o suspense e a emoção são essenciais em filmes de assassinos. Isto não existe em nenhum deste dois longas.

Estabelecer o filme unicamente na palavra de dois condenados, e deixar de lado a parte judicial é perder a oportunidade de criar uma obra mais coesa, envolvente e impactante. Um exemplo mais recente: “Coringa” com Joaquin Phoenix. Não é uma história real, eu sei, mas é um personagem assassino que devido a problemas familiares, e outros percalços da vida, escolhe agir de maneira cruel. E, ainda assim, você o entende, se envolve em seu drama e se torna cúmplice de seus atos. Nada justifica suas ações, mas em um filme a relação entre público e personagem é importantíssima para se criar conexão. Suzane e Daniel são dois mimados que viviam em um mundo fantástico de emoções e sonhos. Na vida real, realmente, soa chato, cansativo e nada interessante. Já no cinema, o real precisa ser tratado com mais escopo e criatividade.

“A Menina Que Matou os Pais” e “O Menino Que Matou Meus Pais”/BRASIL – 2021

Dirigido por: Maurício Eça

Com: Carla Diaz, Leonardo Bittencourt, Kauan Ceglio…

A Menina que Matou os Pais' ou 'O Menino que Matou Meus Pais': veja qual versão assistir primeiro - Zoeira - Diário do Nordeste