Especial

Crítica: Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016) – Especial Wizarding World

Não sou do grupo que leu todos os livros de Harry Potter, muito menos um…

(Foto: Reprodução/Warner Bros.)

Não sou do grupo que leu todos os livros de Harry Potter, muito menos um conhecedor de cada feitiço, personagem e minúcias do universo criado pela britânica J.K Rowling. Vi os filmes e cresci gostando e me divertindo com cada lançamento da franquia no cinema. Desde o começo infantil e inocente dos dois primeiros capítulos dirigidos por Chris Columbus, até o desfecho sombrio e adulto de “Relíquias da Morte – Parte 2”

Como, então, continuar uma franquia de imenso sucesso e gordas bilheterias? Fazer um derivado, é claro. São cinco anos de diferença desde o último filme do universo, e “Animais Fantásticos e Onde Habitam” estreou com promessa de sucesso e pretensões para mais quatro longas. Este primeiro filme introduz Newt Scamander, um magizoologista que cuida de criaturas mágicas protegendo elas de atos de violência. A história se passa em 1926, décadas antes de sequer nascer Harry Potter, e logo de início acompanhamos a chegada de Newt à Nova York. Com uma maleta mágica onde guarda os animais fantásticos, Newt é um sujeito introvertido, tímido, mas dedicado e interessado. Inesperadamente, alguns animais escapam da maleta e invadem as ruas de Nova York, e logo vários assassinatos misteriosos começam a acontecer na cidade e todas as atenções se voltam para Newt.

O que de início poderia soar, unicamente, como um pretexto para voltar ao universo de Harry Potter e lucrar muito com isso, “Animais Fantásticos e Onde Habitam” não deixa de ter o seu interesse comercial (afinal, não é pecado querer ganhar dinheiro!), mas também é digno de elogios pois se diferencia de “Harry Potter” e desenvolve uma história e mitologia própria, mas respeitando o mundo já estabelecido antes.

A direção de David Yates é importante para manter esta familiaridade com o universo. Tanto ela, quanto a fotografia, direção de arte, figurino, trilha sonora e menções a certos personagens já conhecidos do público são essenciais para realizar esta ponte entre a franquia anterior e a nova. Fora isso, o interesse de “Animais Fantásticos” é outro, os personagens são diferentes e suas motivações e problemas também. Daí entramos nos méritos de J. K Rowling, que além de criadora de tudo que conhecemos deste mundo, faz aqui a sua estreia como roteirista, ainda que seja limitada em imaginar cenas de ação e aventura.

As relações entre cada um dos personagens é um dos pontos fortes deste filme. São estas relações, como também são em “Harry Potter”, que torna “Animais Fantásticos” uma experiência prazerosa. A mudança de cidade e o contexto histórico da trama, um pouco depois da Primeira Guerra Mundial e antes da Grande Depressão nos EUA, cria oportunidades para Rowling transitar em temas sociais delicados, tanto de relações entre seres humanos e suas diferenças, quanto dentro de uma sociedade desesperada e machucada pela guerra. O visual cinzento da fotografia e direção de arte colaboram com este clima mórbido, mas que não deixa de ser mágico justamente por existir ali personagens tão vivos e interessados em fazer a diferença.

É claro que muita coisa apresentada aqui é deixada solta e sem explicações. Afinal, tudo será desenvolvido ao longo dos outros filmes, e a Warner está tão confiante no sucesso da franquia, que não teve receio em não explicar muita no primeiro capítulo. Um dos melhores momentos para mim é a aparição surpresa de Johnny Depp como o vilão principal Gellert Grindelwald. Depp aparece brevemente, dá as caras com um visual charmoso e intrigante (e não afetado), mas já o suficiente para provar que é um ator de presença.

O elenco principal também merece elogios. Eddie Redmayne é um ator que pouco sou fã, e se em alguns filmes sua atuação cheia de tiques e “esforçada demais” pode soar falsa e não ajudar na história, aqui em “Animais Fantásticos” elas ajudam e muito na personalidade de Newt. Colin Farrel e Ezra Miller estão ótimos, comedidos e intrigantes. Katherine Waterston e Samantha Morton possuem carisma de sobra e valem cada momento. Mas é Dan Fogler a grande revelação do filme. Rowling não limita seu personagem Kowalski a ser apenas o gordinho engraçado, mas o usa como alivio cômico e como parte importante da trama.

“Animais Fantásticos e Onde Habitam” começou com charme, independência e muitos êxitos esta nova fase do universo mágico de “Harry Potter”. Infelizmente, muito disso se perdeu na fraquíssimo continuação.

Fantastic Beasts and Where To Find Them-EUA

Ano: 2016 – Dirigido por: David Yates

Elenco: Eddie Redmayne, Colin Farrel, Dan Fogler

Sinopse: O excêntrico magizoologista Newt Scamander (Eddie Redmayne) chega à cidade de Nova York levando com muito zelo sua preciosa maleta, um objeto mágico onde ele carrega fantásticos animais do mundo da magia que coletou durante as suas viagens. Em meio a comunidade bruxa norte-americana, que teme muito mais a exposição aos trouxas do que os ingleses, Newt precisará usar todas suas habilidades e conhecimentos para capturar uma variedade de criaturas que acabam fugindo.

Fantastic Beasts and Where to Find Them (2016) - IMDb