Cinema

Crítica: Cruella

Eu sou apaixonado pela interpretação de Glenn Close como a vilã Cruella de Vil em “101 Dálmatas” e “102 Dálmatas”. Close encarnou…

(Foto: Reprodução/Disney)

Eu sou apaixonado pela interpretação de Glenn Close como a vilã Cruella de Vil em “101 Dálmatas” e “102 Dálmatas”. Close encarnou com genialidade o estilo caricato, estridente e vilanesco da personagem e entrou para a história. Portanto, ao saber que a Disney faria um filme sobre a origem de Cruella, a ideia não me chamou muita atenção. E até quando os primeiros trailers saíram, a estética rock n’ roll e uma abordagem que claramente mistura “O Diabo Veste Prada” e “Coringa” (mas sem a violência para maiores) ressoaram com ceticismo em minha pessoa. Mas como amo estar enganado com um filme.

Sim, “Cruella” busca inspiração em vários outros filmes e a direção de Craig Gillespie é tão efervescente e energética que o resultado é uma obra que solidifica a origem de uma das vilãs mais queridas da Disney, e entrega um filme que como narrativa fechada, e não parte de uma mitologia maior, funciona extremamente bem. Uma mescla deliciosa de filme de assalto, com drama familiar e a conhecida história da pessoa renegada que dá a volta por cima. E, claro, também temos vingança, capangas e dálmatas, afinal, estamos falando de Cruella de Vil. Tudo isso junto com uma excelente fotografia, figurinos marcantes (Oscar garantido, anotem!) e uma trilha sonora memorável.

A personagem já foi encarnada em outras versões live-action de filmes feitos para a TV e seriados, mas nenhuma conseguiu chegar no patamar icônico de Glenn Close. Então, como versão mais jovem, a tarefa para esta nova versão cinematográfica ficou a cargo de Emma Stone – ganhadora do Oscar de Melhor Atriz pelo belíssimo “La La Land”. Então, devemos comparar? Close ou Stone? As duas! Close encarna a versão já estabelecida, e mais velha da personagem em uma transposição que utiliza toda a caricatura e risadas maléficas essenciais da mesma. Já Stone interpreta a Cruella antes de ser Cruella, e em um filme que humaniza a personagem e explora nuances dramáticas de uma obra que se aprofunda em seu passado e explora a menina, e depois a mulher. Duas versões excelentes a sua maneira (apesar de Close ter lugar cativo desde criança em meu coração).

O meu problema com o filme é o receio do roteiro em vilanizar a personagem quando necessário, afinal, no fim das contas, Cruella de Vil é uma vilã, e conhecida por ser uma pessoa esnobe, egocêntrica, oportunista, interesseira e mal caráter. Apesar da obra acertar ao trazer a ‘vilã Disney’ para um contexto mais humano, e existir uma justificativa pessoal e identificável para sua vingança na trama, faltou um desfecho que tornasse Cruella, de fato, um ser vil. O filme do Coringa faz isso muito bem. Humaniza o personagem, mas não tem receio em apresentá-lo no fim como o vilão que conhecemos. Em “Cruella” existe um receio em abraçar totalmente o lado podre da protagonista.

Outro ponto negativo é a barriga existente no miolo do enredo. “Cruella” se estende um pouco além do necessário e poderia ser mais enxuto.

Mas o resultado final é um filme surpreendente. O elenco de apoio também é formidável e complementa a ótima experiência. A vilã do longa é, na realidade, Emma Thompson como a Baronesa dona da casa de moda mais famosa e conceituada de Londres. A atriz se deleita na personagem e cria uma versão de Miranda Priestly mais irônica e intragável. Mas não menos divertida.

Destaque também para os ótimos Joel Fry e Paul Walter Hauser como os amigos que se tornam os capangas de Cruella. Hauser é a grande surpresa e o responsável por muitos dos momentos mais divertidos do longa.

Disponível nos cinemas e também no Disney+.

Cruella/EUA – 2021

Dirigido por: Craig Gillespie

Com: Emma Stone, Emma Thompson, Mark Strong, Paul Walter Hauser…

Sinopse: Ambientado na Londres dos anos 70 em meio à revolução do punk rock, o filme da Disney mostra a história de uma jovem vigarista chamada Estella (Emma Stone). Inteligente, criativa e determinada a fazer um nome para si através de seus designs, ela acaba chamando a atenção da Baronesa Von Hellman (Emma Thompson), uma lenda fashion que é devastadoramente chique e assustadora. Entretanto, o relacionamento delas desencadeia um curso de eventos e revelações que farão com que Estella abrace seu lado rebelde e se torne a Cruella, uma pessoa má, elegante e voltada para a vingança.

Cruella': Emma Stone não esperava que a Disney fosse permitir um filme tão sombrio sobre a vilã | CinePOP