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Crítica: Dunkirk (2017) – Especial de Férias

“Dunkirk” é um filme atípico de se fazer sucesso atualmente. O longa arrecadou US$ 50…

(Foto: Warner Bros.)

“Dunkirk” é um filme atípico de se fazer sucesso atualmente. O longa arrecadou US$ 50 milhões em seu final de semana estreia e fechou o caixa com mais US$ 525 milhões – ou seja, outro grande sucesso comercial, e de crítica, do diretor Christopher Nolan, conhecido por filmaços como a Trilogia O Cavaleiro das Trevas, A Origem, Interestelar, O Grande Truque e outros. E quando digo ser um filme atípico é justamente porque a obra passa longe do que se espera de uma super produção de guerra em Hollywood. Nolan não deixa o alto orçamento exagerar nos efeitos ou na ação e evita cair naquela intenção mercadológica de fazer um produto comercial somente com explosões, mortes e correria para vender melhor. “Dunkirk” é introspectivo, intimista, uma obra que flerta com o experimental, e mais interessada em transmitir a tensão e desespero de um momento histórico do que usá-lo para fins, digamos, mais “divertidos”.

“Dunkirk” não é um filme de ação, mas é extremamente tenso em suas quase duas horas de duração. Tenso e desesperador. Claustrofóbico e desolador. Porém, esperançoso e emocionante em cada sequência. Nolan cria um clímax de 106 minutos que mostra a evacuação das tropas inglesas, francesas e belgas das ilhas de Dunkirk durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto os alemães chegavam cada vez mais próximos. O cenário não era dos melhores. Havia aproximadamente 400.000 mil soldados na ilha, e a expectativa de Winston Churchill – então Primeiro Ministro da Inglaterra – era de salvar somente 30 ou 40 mil. Felizmente, o resultado foi uma colaboração histórica de civis que se prontificaram a usar seus barcos pessoais para ir até a ilha e resgatar os soldados.

Como Nolan é Nolan, o roteiro de “Dunkirk” foge do padrão habitual da indústria. Nolan gosta de mexer com o tempo, e o tempo sempre foi um personagem forte em seus projetos. Aqui, ele nos faz acompanhar três diferentes situações que se passam em períodos distintos – primeiro começamos no Molhe, depois na Água, e por fim, no Ar. E em cada uma delas o interesse do roteiro é tecer o desespero de se estar naquela guerra, e cada parte irá se bifurcar em um mesmo final: o salvamento de mais de 300 mil soldados. Mas nada é simples. O inimigo ataca, alguns soldados perdem a esperança e se matam e o cenário torna-se cada vez mais desolador é cada vez mais cheio de desalento. Nolan quer mostrar isso e é magistral ao colocar o público para vivenciar o momento.

“Dunkirk” não é um filme especificamente sobre algum personagem humano. É um filme sobre um momento, e que utiliza partes desse momento para enfatizar o contexto angustiante do todo. O principal personagem do longa é a sobrevivência, e é ela quem move nossas emoções. O desejo de sair daquele lugar, de voltar para casa, de viver. A cena em que o Comandante Bolton (Kenneth Branagh) observa um navio naufragar com vários soldados e é incapaz de fazer algo é extremamente tocante. A mesma coisa quando vários barquinhos surgem para resgatar os ingleses, belgas e franceses cercados na praia. Nolan não abusa do sentimentalismo como um Steven Spielberg faria, já que possui um estilo mais frio, no entanto, ele nunca perde o ritmo, o foco da narrativa e a intenção de não colocar personagens humanos como o foco central.

Alguns vão reclamar disso e afirmar que falta desenvolvimento e profundidade à eles. Não deixa de ser um comentário correto, mas, particularmente, entendi e comprei as intenções de Nolan em tornar a luta pela sobrevivência maior que conhecer o passado ou as emoções de alguém. Naquela situação, voltar para casa era o maior objetivo. Diante disto, nada mais justo do que retratar com tensão, ritmo, uma trilha sonora fervorosa de Hans Zimmer e uma fotografia linda de Hoyte Van Hoytema a evacuação das praias de Dunkirk.

Não é por qualquer motivo que Christopher Nolan é um dos melhores cineastas vivos, e já um dos mais importantes da história do cinema. Ambicioso em evoluir tanto em técnica, quanto em narrativa, o cineasta britânico entrega, mais uma vez, uma obra sensorial emocionante e inesquecível.

Dunkirk-EUA

Ano: 2017 – Dirigido por: Christopher Nolan

Elenco: Kenneth Branagh, Mark Rylance, Tom Hardy

Sinopse: Na Operação Dínamo, mais conhecida como a Evacuação de Dunquerque, soldados aliados da Bélgica, do Império Britânico e da França são rodeados pelo exército alemão e devem ser resgatados durante uma feroz batalha no início da Segunda Guerra Mundial. A história acompanha três momentos distintos: uma hora de confronto no céu, onde o piloto Farrier (Tom Hardy) precisa destruir um avião inimigo, um dia inteiro em alto mar, onde o civil britânico Dawson (Mark Rylance) leva seu barco de passeio para ajudar a resgatar o exército de seu país, e uma semana na praia, onde o jovem soldado Tommy (Fionn Whitehead) busca escapar a qualquer preço.