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Crítica: Piratas do Caribe – A Vingança de Salazar (2017) – Especial PDC

“Piratas do Caribe” é a minha franquia favorita. Pronto. Falei. Sou apaixonado por Indiana Jones,…

(Foto: Disney)

“Piratas do Caribe” é a minha franquia favorita. Pronto. Falei. Sou apaixonado por Indiana Jones, Star Wars, O Senhor dos Anéis, De Volta Para o Futuro, Exterminador do Futuro, Trilogia Batman, Harry Potter – por dizer algumas – e a questão aqui não é debater qual delas é a melhor. Não estou comparando nem discutindo valores, mas “Piratas do Caribe” é a escolha do coração. E quando o coração ama, até os defeitos a gente releva. Como fã de épicos de espadas, fantasia e aventura, a franquia derivada de um brinquedo de um parque da Disney é uma mescla perfeita de tais elementos, junto com personagens memoráveis, uma das melhores trilhas sonoras do cinema e um clima nostálgico de aventura B do passado. Principalmente os três primeiros filmes dirigidos por Gore Verbinski, um diretor talentoso com uma criatividade visual notável e talento para conduzir narrativa – apesar dos problemas do roteiro de Ted Elliot e Terry Rossio.

No quarto filme, Verbinski não voltou e Rob Marshall – conhecido por filmes musicais como “Chicago” e o recente “Caminhos da Floresta” – assumiu a responsabilidade. Apesar da competência de Marshall em manter o clima da franquia e em criar alguns momentos inspirados e visualmente bonitos de assistir, “Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas” não acrescentava nada de novo a franquia. E não existe no filme uma cena de ação memorável como nos três primeiros, além de um roteiro que demora a pegar no tranco e sofre ao longo do processo. Mas, repito, há bons momentos.

Pirates of the Caribbean: Dead Men Tell No Tales' sinks under the weight of its own story - CLTure

Já neste quinto filme, “A Vingança de Salazar”, temos outra história com começo, meio e fim, criaturas fantásticas, artefatos mitológicos, piratas querendo vingança e novos diretores. Desta vez quem assume o projeto são os noruegueses Joaquim Rønning Espen Sandberg, do excelente e indicado ao Oscar “Kon Tik”. Mas a mudança, infelizmente, não surtiu efeito. Ambos são competentes, talentosos e se esforçam para criar momentos visualmente marcantes, mas não possuem liberdade para trabalhar no roteiro e muito menos em torná-lo redondo e enquadrado dentro da franquia. De todos os “Piratas do Caribe” até hoje, este é o primeiro que apresenta divergências gritantes com a própria mitologia.

O roteiro de Jeff Nathanson se perde nas intenções de tornar as situações relevantes e dramaticamente emocionantes. O problema nunca foi repetir os mesmos elementos da fórmula de sucesso, mas sim, em usá-los incorretamente (os novos “Star Wars” estão aí para ensinar o que não fazer). Este “A Vingança de Salazar” utiliza aleatoriamente personagens sem dar a eles um contexto e motivação convincentes, e todos os conflitos se resolvem com explicações jogadas na hora e pouco exploradas.

Vamos aos problemas:

  • Primeiro: o arco dramático dado ao Capitão Barbossa (Geoffrey Rush) com outro personagem é forçado, não convence e surge abruptamente sem nenhuma relação construída anteriormente pelo roteiro. Isto impede que o público sinta algum afeto ou emoção com o desenrolar da situação.
  • Segundo: criar um artefato que quebra todas as maldições é um tiro no pé, pois a história usa isto para inserir novamente Will Turner (Orlando Bloom) na franquia, que agora é o capitão do Holandês Voador. O problema aqui é o roteiro enxergar a posição atual de Will como maldição, sendo que não é. Segundo a mitologia de “Piratas do Caribe”, aquele que perfurar o coração de Davy Jones se torna o capitão do Holandês Voador. Isto não é uma maldição, mas um cargo. Will teve o seu coração retirado e colocado no baú de Jones e ficou responsável por levar as almas para o outro lado. Portanto, após a quebra da, digamos, “maldição” neste quinto filme, como fica Will sem o seu coração? E quem irá cuidar do transporte das almas para o outro mundo, sendo que esta é a função delegada ao capitão do Holandês e, em caso de não cumprimento do dever, aí sim a pessoa é amaldiçoada com sua fisionomia transformada aos poucos em criatura marítima. Will está com escamas neste novo filme, a quebra da maldição seria ele ficar sem elas, e não deixar sua responsabilidade no Holandês.
  • Terceiro: Por que se Jack dar sua bússola para alguém o vilão Salazar é liberto do seu cativeiro? Ao longo de toda a franquia a bússola já foi passada para várias pessoas, então não faz sentido.
  • Quarto: E a bússola foi um presente da Tia Dalma (Naomie Harris) – como ela mesmo fala em “O Baú da Morte” – e não passada para Jack por um pirata em seus últimos momentos de vida.

Outro ponto frustrante é o mal aproveitamento do capitão Jack Sparrow. O roteiro precisa trabalhar a favor dos personagens, e aqui, um dos meus favoritos do cinema é subjugado a uma posição de alívio cômico forçado a todo instante, e usado como peça chave para a história, mas usado sem propósito e motivação plausível. Anos se passaram desde o filme anterior e o roteiro não traz nenhum tipo de evolução para Jack. Ele está mais velho, sozinho e relegado a viver da glória do passado, mas uma glória que ninguém respeita. Só que tudo isso é jogado em cena e nada é aproveitado, mas usado como ferramenta para piadas frequentes. Observe o primeiro filme – principalmente – onde Jack era, sim, alívio cômico mas, ao mesmo tempo, responsável por orquestrar as situações a seu favor e movimentar a trama. Já neste novo filme ele não passa de um beberrão piadista sem muita utilidade, exceto, ser o Jack Sparrow e astro da franquia. E não posso deixar de culpar em partes o próprio Johnny Depp, que criou um personagem tão marcante, mas aqui parece ter esquecido como interpretar Sparrow. A voz, por exemplo, lembra o seu Chapeleiro Maluco em “Alice no País das Maravilhas” e não com o Jack que conhecemos – além de ter se tornado um personagem idiota (algo que ele nunca foi).

Does Dead Men Tell No Tales capture the magic of Disney's Pirates of the Caribbean ride? - The Verge

O vilão de Javier Bardem não é ruim. O visual de Salazar é incrível e ameaçador, mas Bardem, apesar do esforço, passa longe de ter o peso narrativo de quando Barbossa foi vilão ou de Davy Jones. É outro personagem mal escrito e mal aproveitado pelo roteiro. E este problema, aliás, vem desde o longa anterior quando tivemos um Barba Negra descartável.

Apesar de “Piratas do Caribe” mesclar maravilhosamente bem a fantasia com lutas épicas de espada e batalhas entre navios, tanto no quarto filme quanto neste novo episódio falta inspiração nas cenas de ação. Cadê as lutas de espadas grandiosas e inesquecíveis? Não há capacidade para desenvolver algo no patamar criativo da cena da roda de “O Baú da Morte” ou do redemoinho de “No Fim do Mundo”? Duvido! Filme de pirata, no mínimo, precisa ter uma sequência bem realizada com espadas, ainda mais uma super produção de milhões de dólares da Disney.

É de partir o meu coração criticar negativamente “Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar”. A proposta era resgatar o espirito simples, bem realizado e dinâmico de “A Maldição do Pérola Negra”, mas, infelizmente, não acontece.

Pirates of the Caribbean: Dead Men Tell No Tails/EUA – 2017

Dirigido por: Joaquim Rønning e Espen Sandberg

Elenco: Johnny Depp, Javier Bardem, Geoffrey Rush, Kaya Scodelario, Brenton Thwaites

Sinopse: O capitão Salazar (Javier Bardem) é a nova pedra no sapato do capitão Jack Sparrow (Johnny Depp). Ele lidera um exército de piratas fantasmas assassinos e está disposto a matar todos os piratas existentes na face da Terra. Para escapar, Sparrow precisa encontrar o Tridente de Poseidon, que dá ao seu dono o poder de controlar o mar.

Pirates of the Caribbean: Dead Men Tell No Tales (2017) - IMDb