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Fica 2022 recebe Ailton Krenak e Vincent Carelli para debate sobre tradição e o futuro

Neste sábado (4), o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica 2022) promoveu o…

FICA 2022 recebe Ailton Krenak e Vincent Carelli para debate sobre tradição e o futuro

Neste sábado (4), o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica 2022) promoveu o encontro entre o antropólogo, indigenista e documentarista franco-brasileiro, Vincent Carelli, e o escritor, jornalista e pesquisador Ailton Krenak. Com a presença de povos indígenas de diferentes etnias, o gancho do diálogo que aconteceu na Tenda Multiétnica foi “Pontes entre a Tradição e o Futuro”.

Carelli, que na última sexta (3) exibiu o filme Adeus Capitão em uma sessão especial da mostra Becos da Minha Terra, aproveitou o espaço para ressaltar a importância de festivais como o Fica 2022.

“Aqui temos uma importante janela do cinema indígena. Fico feliz de estar em lugares como esse. É maravilhoso assistir o olhar das novas gerações e juntar as experiências com esses novos rostos”, disse.

Debatendo sobre o tema do diálogo, o documentarista se admirou com o “nascimento de cineastas indígenas”. “Os jovens usaram do meu material que fiz como referência e resgate da própria cultura”, apontou.

Ele lembrou, ainda, que em muitas tribos existe a cobrança de os mais novos terem de contato com elementos da cultura nativa, como a língua, por exemplo, e há resistência dos mais jovens. Por isso, ele está satisfeito com este resgate que presenciou. “Fico feliz de poder, de certa forma, contributo com isso de jovens indígenas voltarem às raízes de seu povo”, disse Vincent Carelli.

Para Ailton Krenak, além da questão entre a tradição do velho e o novo, deve-se permanecer o sentimento de coletivo nos povos “Sinto o profundo sentimento de pertencimento a essa terra, a esse território; dessa parte do planeta que nós nos apegamos de maneira tão determinada, que nós enfrentamos qualquer desafio para honrar essa Mãe Terra”, pontuou.

Homenagens a Ailton Krenak e Vincent Carelli no Fica 2022

Durante o diálogo, Krenak e Carelli foram presenteados com lembranças do povos Karajá e Tapué, que estiveram na Tenda Multiétnica. Representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também aproveitaram para presentear o antropólogo e o pesquisador.

Neste momento, Carelli aproveitou para abordar a importância dos povos indígenas na política.

“Eles conseguiram romper séculos de invisibilidade. Vale lembrar que foram os primeiros a invadir o congresso nacional em protesto entre outras iniciavas que tiveram com a coragem de pensar diferente”, afirmou.

“Às vezes as crises são muito produtivas, geram coisas novas. E nisso o indio muitas vezes reagiram e resistiram aos momentos mais dificeis no brasil”, acrescentou Vincent.

Krenak

O líder indígena Aílton Krenak é Doutor Honoris Causa da Universidade de Brasília (UnB), sendo o primeiro indígena a receber o título pela universidade. Importante líder e ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas, Ailton ficou conhecido pelo discurso histórico na Assembleia Constituinte, em 1987. Na ocasião, ele pintou o rosto de preto, protestando contra o retrocesso dos direitos dos povos indígenas.

Além de escritor, jornalista e pesquisador, ele também é responsável pela fundação da ONG Núcleo de Cultura Indígena, da União das Nações Indígenas e do Movimento Aliança dos Povos da Floresta.

Carelli

Carelli é Indigenista e cineasta que criou, em 1986, o Vídeo nas Aldeias, um projeto a serviço dos projetos políticos e culturais dos índios, e realizou uma série de documentários sobre os impactos deste trabalho.

“A Arca dos Zo’é”, seu filme mais conhecido, recebeu vários prêmios, entre eles nos Festivais de Tóquio e do Cinéma du Réel em Paris, e a trilogia “O Espírito da TV”, “A Arca dos Zo’é” e “Eu já fui seu Irmão” foi exibida por uma série de televisões públicas pelo mundo e no MOMA em NY.

Em 1999, Carelli recebe o Prêmio UNESCO pelo respeito à diversidade cultural e pela busca de relações de paz interétnicas, e em 2000, realiza a série “Índios no Brasil” para a TV Escola do Ministério da Educação.