Guns n' Roses

Guns n’ Roses no Serra Dourada foi uma ode à nostalgia de quarentões

Guns n’ Roses no Serra Dourada. Mas nem no meu delírio pueril mais megalomaníaco em…

Guns n' Roses homenageia Monumento às Três Raças de Goiânia - Foto: Reprodução
Guns n' Roses homenageia Monumento às Três Raças de Goiânia - Foto: Reprodução

Guns n’ Roses no Serra Dourada. Mas nem no meu delírio pueril mais megalomaníaco em 1992 eu imaginaria que viveria algo assim. Pois vivi. No último domingo, a banda formada em Los Angeles se apresentou no gramado do estádio que frequento desde quando ainda habitava o ventre de minha mãe nas partidas do Goiás.

Sempre é importante dimensionar as coisas. Entre 1987 e 1992, o Guns era a coisa mais quente do mundo. Os caras passavam uma aura de perigo, indecência e problemas que não tinha como um pré-adolescente de uma capital periférica como Goiânia, de um país periférico como o Brasil, não ser seduzido. Quando eles diziam welcome to the jungle, era prenúncio certo de treta. Mas aí veio o Nirvana. E, bem… Esse não é o assunto de hoje. O que importa é que o Guns foi muito muito muito grande em todo planeta e tê-los na cidade foi muito muito muito importante para uma geração de goianienses.

Reclamam que Axl Rose não é mais o mesmo. Não canta como antes e não tem o shape excitava garotas e garotos de outrora. Tem uma rapaziada aí que não tem espelho em casa. Você é o mesmo de 30 anos atrás? Não. Sua lombar não é a mesma, seu joelho não é o mesmo, sua barriga não é a mesma. Quem lhe desejou no passado hoje é uma senhora e esta lhe chama de senhor. Ninguém é mais o mesmo de quando o Guns estava no auge. E está tudo certo.

A apresentação entregou aquilo que todo mundo queria: nostalgia. Lembrar da adolescência, dos bons tempos, das primeiras paixões. Tinha cheiro de espírito adolescente. Mas como quem pagou ingresso ali não era majoritariamente jovem, era um show família.

Em respeito à elevada faixa etária do público, os caras foram pontuais. Isso foi incrível. Fui com minhas filhas. Mais um monte de gente fez o mesmo. Tinha mais criança assistindo o Guns do que no show da Patrulha Canina. O welcome to the jungle de hoje de Axl, Slash e Duff poderia ser dito pela Dora, a Aventureira. E isso é muito massa.

Axl Rose vem de uma escola working class hero estadunidense. Gente que se orgulha do suor que expele para cada dólar que bota no bolso. Caras como Bruce Springsteen, James Brown e Frank Sinatra que sabem de onde vem o que lhes garante o sustento. E se esforçam ao máximo para dar tudo o que podem no palco. E o Guns faz de tudo para agradar quem pagou ingresso.

São três horas de show. É claro que eles poderiam enxugar, fazer uma apresentação de uma hora e meia, encavalar a dúzia de hits que ostentam e ir embora com a mesma quantidade de dólares no bolso. Mas Axl tem uma ambição que se explica nessa linhagem do artista proletário dos EUA. Ele não estaria em paz consigo mesmo se se achasse um picareta levando o dinheiro alheio sem muita labuta.

E aí entra Slash. Quem tem o cara da cartola como parceiro sempre tem um coringa pra jogar na mesa. O guitarrista se filia na linhagem guitar hero de Jimmy Page, Joe Perry e Angus Young. Slash jamais afinaria para o desafio de ter que solar por longos minutos cobrindo a deficiência vocal de seu companheiro. Foi o que Slash fez.

Findado o show, todo mundo foi pra casa feliz. O goianiense que assistiu algo único, já que é muito improvável vermos novamente o Guns n’ Roses por essas plagas. A banda que teve público nas mãos esbanjando simpatia e profissionalismo. E os contratantes que tiveram noite de ingressos esgotados.

@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Reprodução