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Gustavo Macacko: “a mensagem do ‘Humanifesta’ é que podemos dialogar com pessoas que pensam diferente”

De todas as cidades do Brasil, Gustavo Macacko escolheu São Jorge, distrito de Alto Paraíso,…

Gustavo Macacko: a mensagem do Humanifesta é que podemos dialogar com pessoas que pensam diferente
Gustavo Macacko: a mensagem do Humanifesta é que podemos dialogar com pessoas que pensam diferente

De todas as cidades do Brasil, Gustavo Macacko escolheu São Jorge, distrito de Alto Paraíso, para lançar o disco Humanifesta no último sábado (26).

São Jorge foi escolhida porque, segundo o cantor, “é um lugar mágico” com “uma energia muito diferente”. “Meu entendimento é que a música é energia. Então, para mim, é importante lançar esse disco em lugares onde a energia é diferenciada”, disse ele ao Mais Goiás.

Humanifesta é o terceiro trabalho do artista. Segundo ele, a principal mensagem do disco é: “Apesar de a gente viver nessa época da pós-verdade, a gente pode dialogar com as pessoas que pensam diferente de nós”.

O álbum bebe das fontes do rock britânico, da cultura negra e da literatura de cordel. Além disso, há forte inspiração de uma escola de Arnaldos, muito presente nas referências de Gustavo, e de cantores consagrados da música brasileira, como Raul Seixas e Zé Ramalho.

Gustavo Macacko nasceu em São Simão, no Sul do estado, entretanto nunca tocou na capital. Ele espera que a nossa conversa abra portas para que ele inclua Goiânia no próximo roteiro de datas.

Confira abaixo o nosso bate-papo com o artista.

Leia a entrevista com o cantor Gustavo Macacko:

Mais Goiás: Por que lançar o disco em São Jorge?

Gustavo Macacko: São Jorge é um lugar mágico. Um lugar de uma energia muito diferente. Esse é meu terceiro álbum e desde o primeiro, sempre estive perto desse lugar que é mais místico. Meu entendimento é que a música é energia. Então, para mim, é importante lançar esse disco não só nas capitais ou interiores, mas em lugares onde a energia é diferenciada.

Em São Jorge, tive um dos meus primeiros lançamentos deste disco e é como se eu bebesse de uma fonte que me recarrega por dentro, para conseguir expandir para o resto do Brasil e do mundo, sabe? Esses lugares são muito importantes para mim.

Faz parte da minha história estar em determinados lugares que me trazem uma fonte de energia em que eu me sinto sintonizado com o que eu acredito.

MG: Como foi a produção do Humanifesta? No que este disco se diferencia dos anteriores?

GM: A produção foi toda feita em São Paulo, pelo Juliano Gaus. Quem mixou, gravou e masterizou foi o Clau Sena. Fizemos tudo em três. Gravamos o disco praticamente só nós três. Então, ele já se diferencia dessa forma. Meus primeiro e segundo discos foram no esquema antigo de vários estúdios e sessões com todos os músicos. Desta vez, foi mais minimalista.

Eu sempre trabalhei com conceitos. Em todos os discos, o nome chama um conceito e o projeto todo acompanha. Desta vez, foi um conceito diferenciado dos outros dois, porque ele é temporal; fala de uma época. Mas a poesia dele, a forma como eu escrevi, pelo contrário, pode ser lida em qualquer tempo. Eu não deixo de narrar o momento histórico que a gente tá vivendo.

Musicalmente, tem algumas coisas diferentes também: não existem viradas de bateria; é um disco de muito teclado; priorizei que eu gravasse todas as guitarras. De certa forma, é um disco que é muito a minha essência.

MG: Qual a mensagem que você quer passar com o novo disco? E como você quer que as pessoas se sintam antes e depois de ouvi-lo?

GM: Entendo que a mensagem principal do disco é lembrar a todos nós que, antes de qualquer questão que envolva ou termine em polarização – como tem acontecido com o país – nós somos seres humanos. Dentro deste processo, política é diálogo. A gente pode se posicionar e deve ter uma opinião, só que não podemos perder o diálogo. Acho que essa é a grande mensagem.

Ele [o disco] trabalha essa perspectiva de nós enquanto cidadãos. E narra como que cada um pode e deve se posicionar, sem perder essa amplitude de que todos vamos morrer; todos temos nossas questões; todos vivemos uma dívida com nosso passado histórico; que somos uma miscigenação cultura. Essas não são opiniões, são praticamente fatos. Apesar de a gente viver nessa época da pós-verdade, a gente pode dialogar com as pessoas que pensam diferente de nós.

Gustavo Macacko (Foto: Divulgação)

MG: Quais foram as inspirações?

GM: São muitos. Eu falo que sou de uma escola que é “Arnaldiana”. Ela encosta no Arnaldo Antunes, no Arnaldo Batista (ex-Mutantes). Tenho uma veia nordestina, que me traz a literatura de cordel. Gosto muito de escritores como Rubem Braga, do Espírito Santo. Tenho também um lado mais esotérico, que bate um pouco no Carlos Castañeda.

Cresci ouvindo algumas figuras, como Raul Seixas, Zé Ramalho, Belchior,… Esse trânsito entre o nordeste e o sudeste são influências fortes neste disco. O Juliano [produtor do Humanifesta] é um cara muito antenado no mercado internacional, principalmente rock britânico. E eu também sempre toquei rock e gosto muito.

Esse disco misturam muito essas influências, que passam pela literatura, vão na cultura negra e nunca deixam de beber na fonte do rock.

MG: Você é goiano de nascença. Há alguma “pressão” ou “expectativa” em tocar no seu estado de nascimento?

GM: Sou goiano de nascença, com muito orgulho. Nasci em uma cidade chamada São Simão. Não conheço Goiás como eu acho que merece ser conhecida. Tenho muita vontade de lançar um disco aqui. Espero que São Jorge abra essa porta. A expectativa é a melhor possível, porque é o eterno retorno; quando a gente volta pra nossa base, pro lugar de onde a gente veio. Para mim, é um lugar meio misterioso, porque a cidade onde eu nasci foi inundada uns três ou quatro dias após o meu nascimento. Seria bem mágico lançar um disco aí.

MG: Goiânia está no seu roteiro de shows?

GM: Ainda não há previsão de agenda em Goiânia. Mas espero que essa entrevista seja um gatilho para que isso aconteça o mais rápido possível! Alô produtores de Goiânia! (risos)