OPINIÃO

“Música, orgasmo e Deus são as melhores coisas da vida”, diz Erasmo Carlos

Este sábado, Erasmo Carlos — “cabeça de homem mas o coração de menino”, nos versos…

(Foto: Divulgação)

Este sábado, Erasmo Carlos — “cabeça de homem mas o coração de menino”, nos versos do amigo e parceiro Roberto Carlos — completa 80 anos. Duas doses da vacina contra a Covid-19 correm em suas veias e o corpo se recupera de um câncer no fígado (na próxima quarta, ele faz o exame que dirá se está livre da doença). Nada pode abalar a felicidade do cantor e compositor, pai e avô, que, dado o distanciamento social necessário, comemorará o aniversário por Zoom, com filhos, noras e netos.

— Tem sempre um negocinho que chega e depois vai embora… nessa idade o corpo cobra os exageros cometidos durante a vida e você tem que pagar. E, como sou honesto, estou em dia com os pagamentos — assegura Erasmo Carlos, com a vivacidade de sempre, por telefone. — Bicho, conseguimos chegar aos 80, somos uma geração de sobreviventes! Essa geração passou por muitas armadilhas, por muito problema, muito pantanal, muita areia movediça… Pelas drogas, pelas guerras… E conseguiu sobreviver com dignidade. Conseguiu sair de cabeça erguida das situações.

Companheiros ficaram pelo caminho — alguns mais recentemente, como o guitarrista Renato Barros (do grupo Renato & seus Blue Caps, em julho passado) e o organista Lafayette (em março). Duros golpes para Erasmo, que ainda se ressente de perdas bem mais antigas.

— Big Boy (o disc jockey e radialista Newton Alvarenga Duarte, falecido em 1977) era um grande amigo meu, nunca mais tive ninguém como ele para conversar sobre o nascimento do rock’n’roll — lamenta. — Lembro dos bons momentos, mas não que eu queira que eles voltem, não sou saudosista, de chorar por causa da jovem guarda que era tão bonita… As músicas é que me fazem chorar, as harmonias e melodias me comovem muito, tomam conta de mim. A música, o orgasmo e Deus são as três melhores coisas da vida.

E uma prova do que diz está na atividade a qual se dedicou com mais afinco na pandemia: criar playlists. “ERASMO CARLOS”, no perfil erasmocarlosbr do Spotify, conta com quase 700 músicas (“e todas elas me fazem chorar”, garante o cantor). Tem muito do rock que o formou (Elvis, Chuck Berry, Little Richard), clássicos do pop de rádio de todos os tempos, bastante indie rock (Pixies, The National, Beck, Weezer) e novidades como “Leave the door open”, do projeto Silk Sonic de Bruno Mars e Anderson .Paak.

— O que é bom, o que é diferente, o que tem batidas inéditas, tudo isso me fascina, não tenho preconceito — conta Erasmo. — A playlist está lá para quem quiser, mas eu fiz para mim. É um prazer botar um fone e ficar ouvindo uma atrás da outra. A hora em que eu me sinto mais feliz é ouvindo música.

E a música ajuda a aliviar um tanto da descrença que Erasmo diz nutrir do mundo atual, com seus ódios, egoísmos e negacionismos.

— Continuo acreditando no ser humano, mas acho que uma geração vai passando os vícios para a outra. Muita coisa é consertada, mas não dá para consertar tudo — diz. — As pessoas estão cada vez mais rápidas e não têm paciência para as mais lentas. Eu continuo lento, eu irrito as pessoas rápidas porque faço as coisas no meu tempo. Gosto mesmo é da minha calma.

Esta sexta à noite, o cantor Erasmo Carlos é o entrevistado do programa “Conversa com Bial”. E o papo se desdobrou em um documentário, “Erasmo 80”, que será exibido ainda este mês pelo Globoplay. Com o violão no colo, o artista fala sobre a composição de alguns de seus grandes sucessos e assiste a imagens inéditas de sua carreira — como as do comício das Diretas Já, em 1984, na Candelária.