Entrevista

Conversamos com Everson Cândido, locutor e vocalista do U2Cover

O U2Cover – mais conhecido, para facilitar, como o U2Cover de São Paulo – vai…

O U2Cover – mais conhecido, para facilitar, como o U2Cover de São Paulo – vai fazer dois shows em Goiânia neste final de semana. A banda, formada pelo locutor e vocalista Everson Cândido, Marcelo Carvalho, Adam Junior e  Jader Saraiva, se apresenta em um show intimista no Mr. Jones nesta sexta-feira (22), às 21h, e no Goiânia Rock Fest, no Passeio das Águas, no domingo (24).

Batemos um papo com o Everson sobre a criação da banda, os shows, imitações, o festival, a filha dele, Carol Cândido, vocalista da banda Belas Infiéis, entre outras coisas. Confira nossa conversa:

Mais Goiás – Como foi o começo da banda?
Everson Cândido – Em 1989, teve uma casa noturna em São Paulo que fazia um evento quarta-feira sim, quarta-feira não, e o evento era uma homenagem a uma banda específica. Teve banda Genesis, Queen, e era sempre com bandas conhecidas, por exemplo, o RPM fez uma homenagem pro Genesis, o Ira fez pro The Who, e por aí vai. Coincidiu de uma quarta-feira que teria esse evento de ter uma homenagem ao U2, mas não tinha uma banda. O critério era que fosse uma banda com estilo parecido ao da banda homenageada, e na época eu era locutor de rádio em São Paulo e fã declarado do U2. Eu falava no ar que era fã da banda, e o cara me chamou para cantar, montar uma banda só para aquela noite e fazer uma homenagem ao U2.  Eu falei “você tá louco, eu só canto no chuveiro” e ele dizia, “não, monta, vai ser legal, vou chamar uns amigos”, e aí foi. Juntei uma galera, ninguém era músico profissional, e fizemos essa noite de homenagem ao U2. Foi um sucesso, com a casa lotada, muito legal. Um cara de Curitiba que tinha uma casa noturna adorou a ideia e chamou a gente para tocar lá também, e aí não paramos mais.

O público que nos chamava de U2 Cover, por causa da Noite Cover da Dama Xoc, uma casa que ficava em Pinheiros e nem existe mais. Foi aí que a gente foi arrumar roadie, técnico de som, empresário, e começamos a viajar o País todo. Todo mundo adorou a ideia de uma banda que só tocasse U2, as casas de show adoraram porque era uma atração diferente. Outras bandas surgiram por causa dessa ideia e começaram a fazer de tudo: Bom Jovi Cover, Cazuza Cover, Raul Seixas Cover, começou a aparecer um monte de coisas por causa dessa onda que surgiu sem querer com a gente. Isso foi em maio de 1989, e dessa formação original só estou eu – desde 10 de maio de 1989, que é o aniversário do Bono [Vox, vocalista do U2]. O show foi feito no aniversário dele, e tem até uma lenda que corre por aí que a gente tocou no aniversário do Bono. Foi no dia do aniversário, mas não no aniversário dele [risada]. E é engraçado, porque no mesmo dia, na noite em que a gente estava tocando, nasceu a primeira filha do Bono, a Jordan, e a gente brinca que somos a segunda filha do Bono.

Muita gente falou, “nossa, você é parecido demais, você tem o estilo igual o do Bono, sua voz é muito parecida” e blablabla, mas isso é uma coisa meio sem querer. Foi uma ideia do dono da casa me chamar porque eu era fã, e eu acho que, por ser fã, de tanto você ouvir o cara cantando, acaba pegando o trejeito vocal do cara, e talvez seja isso. Não é bem um trabalho, é mais por diversão. Acho que antes de tudo eu sou fã do U2. Lógico que nós fomos nos profissionalizando, o tempo foi passando, você vai melhorando na técnica, no show, no repertório.

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MG: Você é de São Paulo mesmo?
EC: Eu moro em Goiânia desde 2000, mas sou de São Paulo, e a banda toda é. Por isso a gente é conhecido como o U2 Cover de São Paulo, porque viajando tanto pelo País a gente acabou criando um circuito, que onde a gente ia alguém dizia “nossa, vou montar uma banda cover do U2 também”.  Então tem banda cover em Fortaleza, Vitória, São Paulo tem umas três, Belo Horizonte tem duas, Porto Alegre, Manaus, João Pessoa… Onde passamos, acabamos deixando uma sementinha. Mas nós fomos a que começou.

MG: Quantas pessoas passaram pela banda desde 1989?
EC: Em 2014 nós fizemos um show comemorando o aniversário da banda com um projeto chamado Todo Mundo Que Já Passou Pela Banda. Foi muito legal, porque fizemos um show reunion, com todos os baixistas, guitarristas e bateristas que já passaram. Mas vamos ver, eu lembro de todo mundo. Ao todo, foram seis guitarristas, seis baixistas, seis bateristas, mais um percussionista, então contando os atuais, 19 pessoas na banda. E o engraçado é que o Bart, o baixista atual, era fã da banda. Ele tocava baixo, mas não profissionalmente. Ele ia nos nossos shows, acompanhava, adorava, todo show que a gente fazia em São Paulo ele ia. E um belo dia a gente precisou de baixista, e ela estava lá no camarim, pegando autógrafo, comentamos que o baixista ia sair e chegou e falou, “eu toco baixo, eu me candidato a entrar na banda”. E nós falamos, “sei lá, vamos fazer um teste com você. Você conhece U2?”, e ele disse, “nossa, é claro, eu sou fanático por vocês”. Aí marcamos um ensaio e ele foi, tocou muito bem, sabia todas as músicas do U2, e falamos “pronto, tá contratado”. Até hoje ele comenta isso, eu ficava lá na plateia, na frente do Gustavo, que era nosso baixista, e pensando nossa, que legal, e agora ele faz parte. Mas pensa, começamos a tocar m 1989, então tem gente de 18, 17 anos, que vai no nosso show e não tinha nem nascido quando a gente começou.

MG: Quais shows ficaram marcados na história da banda?
EC: Tem muita coisa. Uma vez nós abrimos para o Ira! em uma praia em Fortaleza com 25 mil pessoas. Também já tocamos na porta do Pacaembu para 35 mil pessoas em um dia que teve greve dos ônibus. Já fomos no Faustão duas vezes, já foi no Jô, no programa da Ana Maria Braga, no programa do Ronnie Von, já tivemos uma matéria sobre a gente na antiga MTV, no auge do canal. Já fomos capa da Ilustrada, o segundo caderno da Folha de S. Paulo, sobre o boom das bandas covers, e tinha foto da gente de meia página falando sobre a banda.

A gente já passou por umas coisas que, quando se faz uma retrospectiva, eu penso, nossa, isso é muito legal. Agora a banda está mais sossegada, lógico que esse movimento todo passou, não é mais tão novidade e a gente ficou mais seletivo também. Não tocamos mais toda semana, damos um tempo para as nossas profissões. O Bart mexe com tecnologia de celular, o Marcelo é professor, eu sou diretor artístico e locutor da Rádio Interativa, o Jader mexe com agronomia. Cada um tem a sua vida, e nos fins de semana, às vezes, a gente se encontra para matar a vontade. É uma coisa muito mais de curtir o que estamos fazendo ali na hora do que essa coisa profissional, de todo dia, ter que marcar uma agenda. Acho que por isso mesmo ainda nos comportamos como fãs, e as pessoas gostam do que fazemos.

O que eu mais gosto na banda é que ela me dá a oportunidade de sentir o que o Bono sente quando está tocando determinada música, e para mim, como fã, isso não tem preço. Eu consigo ver o lado de lá. Naquele momento, as pessoas estão olhando para mim e é como se eu estivesse ao lado do meu ídolo, e sentindo o que as pessoas sentem quando a música é tocada.

MG: Vocês já foram juntos para assistir shows do U2?
EC: Todos [risadas]. Todos que eles tocaram no Brasil e na América Latina, a gente sempre vai junto, e é uma lição de casa. A gente fica observando cada detalhe, falando, olha, que legal o que eles fazem nessa parte. E agora com internet fica muito mais fácil de aprender como se portar, ou que música emendar com qual música, e qual o significado de cada música dentro do contexto de cada show. Não é uma coisa jogada, vamos tocar essa, essa e essa. Tem toda uma discussão, por causa do tema da música, tem toda uma história subjetiva que é contada no show. Nós observamos muito isso e acho que a galera que vai no show do U2 percebe isso, a gente tenta respeitar também as coisas subjetivas para quem é fã.

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MG: A banda tocou fora do Brasil também, teve algum outro lugar além de Portugal?
EC: Tocamos em Lisboa, em Portugal, e também na Argentina, na Bolívia várias vezes, no Paraguai, na Colômbia. A gente já recebeu convite para tocar na Espanha e no Panamá, mas infelizmente não deu certo. Mas é engraçado porque, puxa, uma banda do Brasil, e cover de uma banda irlandesa? E quando a gente mostra o vídeo as pessoas falam “nossa, que legal, parece mesmo”. Uma coisa que é importante salientar é que eu não sou uma caricatura do Bono. Não vou fingir que sou o Bono, e o cabelo é igual, a roupa é igual. Não é uma caricatura. Não é uma paródia, é o Everson cantando coisas que ele gosta, fazendo uma homenagem à banda que ele gosta. É claro que a roupa tem que ser parecida, o cabelo, os óculos, para quem estar assistindo fazer parte da viagem com a gente. Não posso subir no palco parecido com o Raul Seixas, não adianta. Mas a intenção não é fingir que sou o Bono, não estou fingindo que não sou ninguém. E as pessoas perceberam isso. Em Portugal, veio gente conversar comigo da Áustria, da Alemanha, de Israel, da Espanha, turistas que estavam nos assistindo no Hard Rock Café e eles piraram.

MG: Como vai ser o show no Goiânia Rock Fest?
EC: Como é um festival, nós temos um tempo reduzido. Nosso show tem 2h30, e no festival vamos ter um pouco mais de 1h30. Vamos ter que cortar muita coisa, porque quando se divide o palco com outras atrações, não dá para ter o show completo, e isso serve para todas as bandas. Mas a honra de dividir o palco com Paralamas do Sucesso, com Raimundos, com Nx Zero, é sensacional. Porque ainda existe aquele ranço de que banda cover é um trabalho menor, e a gente está ali para participar do festival como as outras. Não temos vergonha de ser uma banda cover participando de um festival de rock, vamos estar ali para entreter as pessoas também. E é uma honra fazer disso.

O Paralamas vai estar lá representando os anos 80, o Raimundos representa os anos 90, o Nx Zero representa os anos 2000, vai ser um show contando uma história. E nós representamos a fase de bandas cover. E é muito legal ver que teremos bandas que estão começando agora também, algumas com um ano, dois de vida. Minha filha, inclusive, é vocalista da banda Belas Infiéis, que também vai tocar no festival, e a banda dela começou em fevereiro do ano passado. Ela cresceu me vendo cantar, é muito louco que agora a gente participe festival em que a minha filha foi indicada como Banda Revelação, é sensacional.

MG: Vai ter participação de pai e filha durante o festival?
EC: Ah, ela já me falou, “pai, canta uma música com a gente”, e eu falei, “ah…”[risadas]. Mas lógico que vai. Sempre que ela vai ao show eu chamo para cantar uma música também, e agora vai ser o contrário. É muito legal.

MG: No Mr. Jones, antes do festival, o show vai ser bem diferente, não é?
EC: Sim, lá vai ter o show completo. O Mr. Jones é lugar menor, não cabe tanta gente quanto cabe no festival, então vai ser um show mais intimista. O palco é bem menor. O legal é que a gente vai poder fazer o show todo, poder tocar todas as músicas, todos os clássicos, algumas coisas diferentes para o fã mais radical, e é muito legal a proximidade do público. Por ser um pub, as pessoas ficam mais próximas da gente, o que não vai acontecer no festival. São dois momentos bem diferentes, dois shows completamente diferentes que vão acontecer no mesmo fim de semana.

O Mr. Jones fica localizado na Rua 146, no Setor Marista, e os ingressos estão à venda no local por R$30 o masculino e R$10 o feminino. O Goiânia Rock Fest, que será realiado no Shopping Passeio das Águas, na Avenida Perimetral Norte, Setor Fazenda Caveiras, tem ingressos à venda pelo site www.bilheteriadigital.com/goiania-rock-fest-24-07-24-de-julho, por R$80 a pista e R$140 a área VIP e R$180 o camarote.