Crítica

Santa Clarita Diet: uma receita diferente

Sheila Hammond é uma dona de casa de meia idade sem graça, chata e retraída.…

Sheila Hammond é uma dona de casa de meia idade sem graça, chata e retraída. Ela é corretora de imóveis ao lado do marido Joel e vive uma vida monótona e suburbana na cidade de Santa Clarita, na Califórnia. Tudo vai bem, até que ela morre.

Isso mesmo. Ela morre. Do nada. Só que aí ela volta mudada, com mais energia do que nunca, mais alegre, espontânea e feliz. E com um desejo insaciável por carne humana. Isso mesmo: Sheila vira um zumbi, o que coloca sua vida e a de sua família de cabeça pra baixo.

Esse é o gancho fundamental de Santa Clarita Diet, nova comédia de humor negro e nonsense da Netflix. Assim como United States of TaraWilfred, a série aposta em humor questionável e situações estranhas para arrancar risadas da plateia.

Neste caso, a escolha de ter um zumbi na família é tão estranha e bizarra quanto parece, o que já deve espantar muita gente. Outro fator é que tal qual The Walking Dead, há uma quantidade considerável de violência e eviscerações, todas feitas meio casualmente. Portanto, não é para os de estômago fraco.

O desempenho de Timothy Olyphant é uma das melhores surpresas da série

Quando se supera toda a estranheza, Santa Clarita Diet é uma série sólida. Os pontos fortes estão no roteiro e, especialmente, em seu elenco. Sheila é vivida por Drew Barrymore que entrega com naturalidade os instintos e caras e bocas da morta-viva.

Seu marido, Joel, é a maior surpresa nesse departamento. Ele é interpretado por Timothy Olyphant, ator veterano de papéis sisudos de ação, estrelando nas séries DeadwoodJustified como um policial durão. Olyphant revela uma veia cômica muito forte e que não havia sido explorada em seus papéis anteriores.

O elenco principal é fechado pela filha do casal, Abby (Liv Hewson) e o nerd vizinho apaixonado por Abby, Eric (Skyler Gisondo). Irritantes e estereotipados inicialmente, os dois se revelam ao longo da série como dois dos melhores personagens adolescentes da última década.

Com o elenco no lugar, as piadas de sequência de erros vem quase naturalmente e ganham velocidade e ritmo ao longo da primeira temporada. Os dois primeiros episódios são claramente os mais fracos (o que pode afastar muita gente) enquanto os dois últimos são os melhores.

A dupla Abby e Eric começam chatos, mas acabam conquistando o público

Seu ponto mais forte talvez seja o ritmo: de fácil consumo, é possível assistir a temporada inteira em apenas uma sentada com tranquilidade. Porém, mesmo sendo uma série muito boa, é necessário reforçar que não é para todos os públicos.

Além de toda a sanguinolência e palavrões, seu tipo de humor é muito peculiar. Se Dirk GentlyWilfred não conseguiram te fisgar, não desperdice seu tempo: Santa Clarita Diet é mais estranha do que as duas juntas.

Fora isso, de vez em quando o humor é muito forçado, ou melhor dizendo, muito americano. Ou seja, ele possui uma pegada e um ritmo que não ressoa muito com o gosto do brasileiro para humor, não arrancando risadas.

Se o esquisito não incomoda nem a violência, então podemos recomendar fortemente esta nova comédia da Netflix, especialmente para quem quer algo novo no ramo da comédia e que fuja do esquema convencional Friends/Modern Family de humor. Resta agora saber se um seriado tão fora da casinha conseguirá agradar assinantes o bastante para ganhar uma segunda temporada.