Crítica

Sherlock: um final problema

Sherlock é, sem sombra de dúvidas, uma das melhores coisas que aconteceu na televisão recentemente.…

Sherlock é, sem sombra de dúvidas, uma das melhores coisas que aconteceu na televisão recentemente. Pegando carona no sucesso no filme de Robert Downey Jr em 2009, a primeira temporada de 2010 é irretocável. O mesmo vale para a segunda temporada que só deu as caras em 2012.

 

A controvérsia começou com a terceira temporada, em 2014. Após uma excelente segunda temporada com o vilão Moriarty, a série parecia perdida, tendo a sua temporada mais fraca até então. Tudo isso para, três anos de expectativas depois, a quarta temporada ser inteiramente tomada por um mar de mediocridade.

 

Sherlock, vale lembrar, possui uma das comunidades de fãs mais agressivas e ativas da internet e, talvez ao seu virar para essa comunidade (mais ou menos), os idealizadores Steven Moffat e Mark Gatiss tenham perdido seu rumo. Por que assistimos Sherlock? Porque queremos ver crimes sendo solucionados de maneira espetacular, e não teve nada disso nos três novos episódios.

 

A quarta temporada de Sherlock é, sem tirar nem por, uma fanfic ruim, com furos colossais de roteiro, com uma grandiloquência cômica que tenta ser épica em uma tentativa fraca de disfarçar todos os elefantes que lotam a sala do pequeno apartamento na Rua Baker.

 

Ao invés de solucionar crimes, a temporada é toda enredada em tramas e esquemas fracos envolvendo Sherlock, Watson, Mary e uma outra personagem que cai de paraquedas em uma tentativa de focar e dar mais cor a estes personagens que acaba sendo forçada na melhor das hipóteses e patética na pior.

 

No segundo e no terceiro episódio, a série chega a cair no cartunesco. Após as reviravoltas e revelações, é tudo tão caricato que eu honestamente esperava ver os vilões dizendo “e eu teria conseguido se não fosse por esses moleques e esse cachorro!”. Scooby-dobi-dooo!

 

Durante cada um dos longos episódios de 1h30, eu me via querendo voltar para os bons tempos de ‘Um Estudo em Rosa’ e ‘Os Cães dos Baskerville’. Mas que fique claro: os problemas estão no roteiro. Martin Freeman e Benedict Cumberbatch continuam brilhantes em seus papéis, especialmente Freeman que, sem dúvida, encarnou e encarna o melhor Doutor Watson que o audiovisual já viu.

 

Mas todo o resto nesta temporada parece preguiçoso, malfeito e mal-colado. Todo o cliffhanger envolvendo o assassinato do vilão Fergusson na terceira temporada? É literalmente dispensado em uma linha de diálogo. Não há peso, apenas dramalhão sobre dramalhão.

 

Mary Watson, uma das poucas coisas interessantes e instigantes da terceira temporada, é terrivelmente desperdiçada e posta de lado na quarta temporada, outro crime contra sua personagem e mesmo contra o cânone de Conan Doyle.

 

Enfim, a quarta temporada de Sherlock parece estar sofrendo de um caso grave de Dragon Ball Z e deus ex machina. No anime japonês, a cada ‘saga’ os heróis derrotam um vilão que ameaça destruir o mundo. A única forma de aumentar os riscos nos episódios seguintes é apresentar um vilão ainda mais forte e terrível até então não mencionado que é ainda mais perigoso que o anterior.

 

Isso é Sherlock pós-Moriarty: um desespero e uma forçada de barra constante em busca de um vilão maior, pior. Ameaças globais flutuam sobre as cabeças dos personagens constantemente. Eu não sei vocês, mas eu fui atraído para esta série por sua inteligência e por Sherlock Holmes.

 

Se for pra ver Dragon Ball Z, eu prefiro ver a série original e deixar esta passar.