Crítica

Star Wars: Os Últimos Jedi é uma sequência maior e melhor

Se Star Wars: O Despertar da Força foi responsável por restaurar a fé dos fãs na…

Se Star Wars: O Despertar da Força foi responsável por restaurar a fé dos fãs na franquia de George Lucas e dissipar desconfianças quanto à Disney, Star Wars: Os Últimos Jedi chega com a responsabilidade enorme de consolidar sua trilogia e com a liberdade de explorar seus personagens.

Sem as amarras e obrigações de apresentar novos protagonistas e se encaixar no cânone, Os Últimos Jedi tem todos os movimentos livres para superar, e muito, O Despertar da Força em todos os departamentos.

Assim como o filme anterior foi uma releitura ampliada de Uma Nova Esperança (1977), Os Últimos Jedi faz o mesmo com O Império Contra-Ataca (1980), considerado pela maioria dos fãs como o melhor filme de Guerra nas Estrelas. Atingir as expectativas, portanto, era o maior desafio do filme.

O longa começa quase no mesmo ponto em que o anterior parou, talvez se tornando a primeira sequência direta da franquia sem uma passagem significativa de tempo entre um filme e outro. A jovem Rey (Daisy Ridley) encontra o mestre Jedi Luke Skywalker (Mark Hamill) isolado em uma ilha e pede sua ajuda para treiná-la nos mistérios da Ordem Jedi e para salvar a Resistência.

Ao mesmo tempo, as últimas naves da Resistência fazem uma fuga desesperada pelo espaço conforme a frota da Primeira Ordem as persegue, destruindo uma nave de cada vez, prestes a esmagar os rebeldes de uma vez por todas. Dentro dos destróieres, a rivalidade cresce entre Kylo Ren (Adam Driver), general Hux (Domhnall Gleeson) e o Líder Supremo Snoke (Andy Serkis).

Há um desiquilíbrio na Força, a galáxia é um barril de pólvora e o resultado é um filme que vai te deixar de pescoço duro e pendurado na beirada do assento por todas as suas extensas 2h30 de duração.

O bom

Primeiro o mais básico: Os Últimos Jedi é de encher os olhos. O filme é um espetáculo visual com som, efeitos especiais, direção de arte e fotografia de primeira. George Lucas tem razão em sua crítica: ele é mesmo lindo.

Tecnicamente ainda há algumas coisas para cinéfilos e cineastas se empolgarem. O diretor e roteirista Rian Johnson encheu o filme de referências e investiu em transições e jogos de câmera criativos.

Não se pode entrar em detalhes sem spoilers, mas há algumas cenas lindamente filmadas que deixam claro a diferença no estilo de direção de Johnson em relação ao produtor JJ Abrams, diretor de O Despertar da Força.

Este filme também possui uma boa história e um bom ritmo. Embora muita coisa seja previsível, há algumas reviravoltas, especialmente para os fãs de longa data da franquia que já imaginam ou sabem o que esperar de um filme de Guerra nas Estrelas.

Não me arrisco há dizer se ele consegue ser melhor que O Império Contra-Ataca, mas com certeza está à altura do clássico, especialmente por possuir um tom, no geral, pessimista e por arriscar ir a áreas sombrias pouco exploradas na ensolarada franquia.

Outro fator que contribui para isto é seu sentimento de urgência. Os Últimos Jedi é um filme tenso, que te faz grudar na tela e se envolver totalmente. Como é um filme de ação, ele é cheio de cortes, explosões e é bem raso, mas é construído de uma maneira que a tensão – a sensação de que os mocinhos podem morrer a qualquer momento e que os caras maus vão vencer – é mantida do início ao fim.

Como sempre, o elenco está espetacular. Daisy Ridley está ainda melhor como Rey e seu arco vai derrubar todas as críticas de Mary Sue feitas no filme passado. Neste filme ela descobre de forma dolorosa que não pode mudar a galáxia apenas com a sua força de vontade e que há sempre coisas maiores e vidas em jogo.

Seu arco se cruza com o de Luke Skywalker e a idade fez bem para Mark Hamill como ator. Ele e seu personagem estão maduros e quase sarcásticos ao mesmo tempo em que Luke permanece o Jedi mais poderoso da galáxia. Esta é, provavelmente, a melhor encarnação do personagem nos cinemas até agora.

Carrie Fisher, no papel de Leia Organa, também possui um papel maior como a líder da Resistência e marcou seu último filme em vida em grande estilo. Outro destaque importante vai para Oscar Isaac como Poe Dameron que possui todo um arco próprio e bem desenvolvido que cria pontes para a terceira parte da trilogia.

E como é um filme de Star Wars, há tensão, mas também muito humor. As piadas são excelentes e não são onipresentes como nos filmes Marvel, ainda tendo um timing muito bem calculado e que servem para tirar um pouco do peso da trama central, nos levando para os seus momentos mais aventurescos.

Gostei muito, por fim, das cenas envolvendo sabres de luz. Johnson claramente se inspirou nos clássicos do cinema japonês e há algo muito marcante dos filmes de samurai na forma em que estas cenas são filmadas e se desenvolvem. De todas as homenagens e referências cinematográficas, este recorte foi o mais interessante.

O ruim

Embora seja um filme excelente, há algumas picuinhas. Muitas questões aguardadas pelos fãs são respondidas neste filme, porém outras tantas são sumariamente ignoradas. Isto gera certa frustração por motivos narrativos: de onde veio esse personagem, o que o motiva, por que isto aconteceu desta forma? Parece que algumas peças fundamentais deste quebra-cabeça são deixadas de lado em prol da ação.

Outro problema é que há um arco que aparenta ser central para a trama apenas para cair por terra posteriormente. Existe um prêmio de consolação que na verdade é bem emocionante, mas é difícil não se sentir enganado pelo filme ou que tal enredo foi uma perda de tempo que poderia ter sido preenchida de maneira mais sucinta.

Por fim, os fãs mais hardcore de Guerra nas Estrelas devem reduzir suas expectativas. Um dos motivos pelos quais o longa é tão bom e interessante é por romper com vários clichês e convenções estabelecidas há 40 anos no cânone de Star Wars. Não é à toa que George Lucas está furioso e fãs mais puristas podem sentir o mesmo.

O veredito

Star Wars: Os Últimos Jedi é provavelmente um dos filmes mais divertidos do ano e um dos mais bonitos e com as melhores cenas de ação. A Lucasfilm sob o jugo da Disney mostra novamente que não veio para brincar e fez um filme maior e melhor do que O Despertar da Força.

Embora talvez ele não seja melhor do que O Império Contra-Ataca, ele é um filme merecedor deste legado e um verdadeiro Guerra nas Estrelas do início ao fim.

Fãs mais conservadores podem ficar insatisfeitos com algumas mudanças feitas no cânone e pelos novos rumos que a franquia tem tomado. De qualquer forma, Os Últimos Jedi ainda é, simplesmente, excelente.