GUERRA

Alemanha anuncia compra de mais 35 caças para enfrentar ameaça da Rússia

A Alemanha anunciou nesta segunda-feira (14) que deverá comprar 35 caças de última geração americanos…

Alemanha anuncia compra de mais 35 caças para enfrentar ameaça da Rússia
Alemanha anuncia compra de mais 35 caças para enfrentar ameaça da Rússia (Foto: Divulgação - Ministério da Defesa alemão)

A Alemanha anunciou nesta segunda-feira (14) que deverá comprar 35 caças de última geração americanos F-35, no primeiro passo do rearmamento da maior economia europeia devido à invasão russa da Ucrânia. De acordo com o Ministério da Defesa alemão, a aquisição visa substituir a frota de caças-bombardeiros Tornado, os únicos aviões do país capazes de transportar bombas nucleares americanas. Os F-35 são certificados para isso.

Membro da Otan, a aliança militar ocidental, Berlim tem 68 Tornado, caça fabricado de 1979 a 1998, para ataque e mais 20 equipados para guerra eletrônica. Além disso, opera 140 caças avançados Eurofighter Typhoon. Ambas as aeronaves são de consórcios europeus com participação alemã.

O F-35 Lightning 2 é um avião da chamada quinta geração, com capacidades de ser furtivo ao radar e sustentar voo supersônico por longo tempo, entre outras características. Como ele só há o americano F-22 Raptor, o russo Sukhoi Su-35 e o Chengdu J-20 chinês. Além dessa compra, especula-se na imprensa alemã que o país vai também adquirir ao menos mais 15 Eurofighter.

O renovado militarismo alemão é um dos efeitos do ataque de Vladimir Putin à Ucrânia, iniciado em 24 de fevereiro. Três dias depois, o chanceler (primeiro-ministro na designação alemã e austríaca) Olaf Scholz anunciou que iria gastar € 100 bilhões (R$ 554 bilhões, na cotação atual) com defesa neste 2022.

O crédito extraordinário, por meio de um fundo específico, fará triplicar o gasto militar alemão, em comparação com o que foi despendido em 2021. O país saltará de uma despesa constante na casa de 1,5% do Produto Interno Bruto para 2,8%, acima dos 2% estabelecidos como referência pela Otan.

Berlim sempre foi reticente em relação ao gasto militar. Primeiro, em razão de seu passado. O militarismo prussiano, referência ao reino mais importante na formação do Estado alemão em 1871, foi temido como Putin é hoje. O papel central na Primeira Guerra Mundial (1914-18) e, principalmente, como pátria da monstruosidade nazista na Segunda Guerra (1939-45), geraram um trauma.

Em academias militares alemãs, táticas inovadoras da era nazista não são estudadas, por exemplo, e o princípio da objeção moral a participar de uma ação é válido nas suas Forças Armadas.

Durante os 16 anos de governo de Angela Merkel, a antecessora de Scholz até dezembro passado, Berlim buscou um equilíbrio na relação com a Rússia, em especial devido à sua dependência do gás natural de Putin. O símbolo maior disso, o gasoduto Nord Stream 2, encontra-se congelado agora.

Além disso, há a questão do balanço de poder continental. A União Europeia é um projeto que, na origem, visava a evitar que franceses e alemães entrassem em guerra. No seu desenho, Paris mantinha uma força militar mais desenvolvida, enquanto Berlim seria o coração econômico da Europa.

O desarranjo da guerra de Putin poderá ter efeitos de longo prazo nesse acerto, ainda insondáveis. Uma coisa ele conseguiu: mais animosidade por parte da França em relação ao país mais poderoso da Otan, os Estados Unidos, porque a compra dos F-35 deverá enterrar o programa conjunto do caça de quinta geração franco-alemão que se arrasta há anos.

Será o segundo golpe tomado por Paris de Washington. No ano passado, ao costurar um pacto militar com Austrália e Reino Unido sem avisar ninguém, o governo de Joe Biden fez Camberra cancelar uma compra bilionária de submarinos franceses —em favor de receber modelos de propulsão nuclear de desenho americano e britânico.

Depois da Segunda Guerra Mundial, a atuação militar alemã sempre se deu dentro da doutrina da Otan, como ponta de lança que era num eventual conflito com as forças comunistas do Pacto de Varsóvia. Até hoje, a maior base americana na Europa fica lá, em Ramstein.

Mas suas tropas só viram ação em 1999, em apoio à intervenção da Otan na então Iugoslávia, que gerou o Kosovo independente, e depois na missão da aliança na guerra dos EUA no Afeganistão (2001-2021).