VIOLÊNCIA SEM FIM

Ataque na Síria mata 14 soldados, e resposta do Exército deixa 10 civis mortos

Um ataque a bomba a um ônibus do Exército sírio em Damasco nesta quarta-feira (20)…

Veículo do Exército após ataque que deixou 14 soldados mortos
Ataque na Síria mata 14 soldados, e resposta do Exército deixa 10 civis mortos (Foto: reprodução - Twitter Correio Braziliense)

Um ataque a bomba a um ônibus do Exército sírio em Damasco nesta quarta-feira (20) deixou ao menos 14 pessoas mortas, informou a mídia estatal. O episódio é considerado o mais violento em anos na capital do país.

Uma hora depois, um bombardeio, desta vez organizado pelos militares, matou 13 pessoas, incluindo 10 civis, e feriu outras 26 na província de Idlib, de acordo com informações do Observatório Sírio para os Direitos Humanos. A região é considerada o último grande reduto dos rebeldes na parte noroeste da Síria.

O ataque ao veículo do exército ainda não foi reivindicado por nenhum grupo. A mídia ligada ao regime do ditador Bashar al-Assad classificou a ação, que também deixou três feridos, como um ataque terrorista.

Mencionando informações de um agente militar, a agência estatal Sana informou que o ônibus foi explodido por duas bombas que haviam sido acopladas ao veículo. Um terceiro artefato foi desativado por uma unidade especializada do Exército. No momento da explosão, o veículo passava perto de uma ponte com o nome do ditador Hafez al-Assad (1930 – 2000), pai do atual líder do regime.

Dezenas de pessoas foram mortas em Damasco em 2017 em vários ataques suicidas reivindicados por grupos rebeldes, mas os episódios se tornaram menos frequentes após o Exército asfixiar grupos opositores na região em 2018, com o apoio da Rússia.

A ação desta quarta é considerada a mais violenta na capital desde o atentado executado pelo grupo terrorista Estado Islâmico (EI) contra o Palácio da Justiça, em março de 2017, que deixou pelo menos 30 mortos. Os militantes do EI agora operam nos desertos central e oriental da Síria.

Na cidade de Ariha, na zona rural da província de Idlib, onde o exército contra-atacou, parte dos locais atingidos era formada por residências. Entre as vítimas estão ao menos quatro crianças em idade escolar, segundo confirmou a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), em comunicado.

“A violência de hoje é mais um lembrete de que a guerra na Síria não terminou”, disse a agência. “Civis, entre eles muitas crianças, continuam sofrendo o impacto de um conflito brutal de uma década.”

O bombardeio foi um dos maiores em Idlib desde que entrou em vigor um período de trégua na região. Ainda em 2018, a Rússia, que apoia a ditadura síria, e a Turquia, que forneceu apoio aos rebeldes, fizeram um acordo para criar uma zona desmilitarizada na província. Dois anos depois, em março de 2020, as nações negociaram um cessar-fogo.

“Às 8h [2h no horário de Brasília], acordamos com os bombardeios”, relatou Bilal Trissi, que vive perto da zona atingida, à agência de notícias AFP . “As crianças estavam aterrorizadas e gritando, não sabíamos o que fazer. Crianças morreram e pessoas perderam partes de seus corpos, mas não entendemos o motivo. Do que temos culpa?”

Os episódios somam mais vítimas a uma década de conflito que matou centenas de milhares de pessoas, acendeu a preocupação da comunidade internacional e dividiu o país. Quase 500 mil pessoas morreram em dez anos de guerra na Síria, segundo balanço divulgado em julho pelo Observatório de Direitos Humanos.

No domingo, o enviado especial das Nações Unidas para o país, Geir Pedersen, disse a repórteres que o regime de Bashar al-Assad e lideranças da oposição concordaram em formar um Comitê Constitucional, composto por 45 representantes do governo, da oposição e da sociedade civil, para redigir uma nova Carta Magna que conduza a novas eleições, em um processo supervisionado pela ONU.

Os ataques desta quarta, porém, reduzem a expectativa de que o país esteja próximo de alguma instabilidade. À rede de mídia Al Jazeera, Joseph Daher, professor do Instituto Universitário Europeu e especialista em Síria, explicou que a ditadura do país se vê ameaçada por diversos fatores.

“Esse tipo de ação terrorista é uma marca registrada do Estado Islâmico, que, apaesar da derrota em 2019, com apoio dos EUA, não chegou ao fim e ainda representa um desafio de segurança”, disse o docente. “Isso mostra mais uma vez que estamos longe de qualquer tipo de estabilidade, seja política, militar ou econômica. Ainda vivemos uma situação de conflito.”

Cronologia da guerra civil na Síria

2011 Protestos contra a detenção e tortura de crianças e jovens que fizeram pichação contra Assad se espalham pelo país e motivam uma onda de meses de manifestações contra o autoritarismo do governo. A repressão é forte.

Em julho, militares que deixaram o Exército anunciam a formação do Exército de Libertação Síria. Nos meses seguintes, começam combates com as forças do governo.

Em agosto, EUA, Reino Unido, França e Alemanha pedem a renúncia de Assad. Ele é alvo de sanções internacionais, mas China e Rússia barram medidas contra o governo sírio no Conselho de Segurança da ONU.

2012 No primeiro semestre, a ONU tenta mediar um cessar-fogo, mas o acordo é descumprido. A situação se repete várias vezes ao longo da guerra.

Em fevereiro, Assad faz um referendo para mudar a Constituição. A proposta é aprovada, mas os rebeldes a consideram ilegítima. Em julho, a Cruz Vermelha passa a classificar o conflito como guerra civil.

Forças rebeldes avançam e passam a controlar cidades, como Aleppo. Soldados do Hezbullah vão à Síria lutar do lado do governo.

2013 Em abril, jihadistas anunciam a criação do Estado Islâmico. O grupo terrorista consegue ocupar a cidade de Raqqa, além de várias partes da Síria e do Iraque, mas é combatido por outros grupos rebeldes.

Em agosto, Assad faz ataques com gás sarin contra rebeldes, o que gera pressão internacional, mas EUA e Reino Unido desistem de um ataque militar. Um acordo é feito para que o governo entregue suas armas químicas.

Em setembro, os EUA e uma coalizão internacional passam a fazer ataques aéreos contra o EI na Síria.