Depois de Bolsonaro, presidente da Bolívia pede jejum e oração contra o coronavírus
Ex-presidentes bolivianos criticaram declaração; no país, quarentena vai durar, a princípio, até 30 de abril
A presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, pediu, em uma mensagem transmitida nesta segunda-feira pela televisão, um dia de “jejum e oração” nesta terça diante da pandemia do novo coronavírus, que já infectou 1.014 bolivianos e matou 53. Áñez está à frente do cargo desde que o ex-presidente Evo Morales renunciou em novembro de 2019, após protestos e pressão da oposição e de militares.
“Irmãos bolivianos, hoje quero enviar uma mensagem de fé, porque para Deus nada é impossível e, estando com ele, vamos superar essa pandemia”, disse Áñez, que pertence a uma congregação protestante.
O pedido de Áñez, apesar de não ter respaldo médico ou científico, não é único. O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, já havia feito uma solicitação semelhante, o que levou brasileiros a fazerem jejum de um dia no início de abril. No dia, religiosos também foram à frente do Palácio da Alvorada, em Brasília, para fazer orações.
Áñez, que deve decidir junto de sua equipe se vai prolongar a quarentena no país ou não — a princípio, a medida irá até 30 de abril —, citou em sua mensagem uma passagem bíblica: “Pois eu, Jeová, seu Deus, seguro a sua mão direita. Sou aquele que lhe diz: ‘Não tenha medo. Eu o ajudarei'”.
O ex-presidente Eduardo Rodríguez-Veltzé — no cargo nos anos de 2005 e 2006 — criticou esse pronunciamento:
— Orações e bênçãos coletivas colocam as pessoas em risco — disse.
Outro ex-presidente, Carlos Mesa — chefe do executivo entre 2003 e 2005 —, que também se candidatou ao cargo nas próximas eleições, criticou que “o governo está fazendo muito pouco teste (para o novo coronavírus), portanto, não temos informações precisas sobre a curva de contágio”, mas não mencionou a convocação.
O chefe nacional de epidemiologia, Virgilio Prieto, admitiu na última semana que “no momento estamos fazendo mais de 100 exames laboratoriais por dia”, que é uma quantidade considerada insuficiente.