SAÚDE

Em evento histórico, primeira vacina contra malária é aprovada pela OMS

A OMS (Organização Mundial de Saúde) aprovou nesta quarta-feira (6) a primeira vacina contra malária, estreando…

Em evento histórico, primeira vacina contra malária é aprovada pela OMS (Foto: Reprodução - Internet)
Em evento histórico, primeira vacina contra malária é aprovada pela OMS (Foto: Reprodução - Internet)

A OMS (Organização Mundial de Saúde) aprovou nesta quarta-feira (6) a primeira vacina contra malária, estreando uma ferramenta que poderá salvar a vida de dezenas de milhares de crianças na África por ano.

malária é uma das doenças infecciosas mais mortais e conhecidas há mais tempo. Ela mata cerca de 500 mil pessoas por ano, quase todas na África subsaariana —entre elas 260 mil crianças com menos de 5 anos.

A nova vacina, feita pelo laboratório GlaxoSmithKline, desperta o sistema imune da criança para conter o Plasmodium falciparum, o mais mortal dos cinco patógenos da malária e o predominante na África. A vacina não é apenas a primeira contra essa doença, é a primeira desenvolvida para qualquer doença parasitária.

Vacina contra malária apresentou bons resultados

Em testes clínicos, a vacina teve uma eficácia de aproximadamente 50% contra a malária severa no primeiro ano, mas caiu para perto de zero no quarto ano. E os testes não mediram o impacto da vacina para evitar mortes, o que levou alguns especialistas a questionar se é um investimento válido em países com inúmeros outros problemas intratáveis.

Mas a malária severa representa quase a metade das mortes pela doença, e é considerada “um indicador confiável de mortalidade”, disse Mary Hamel, chefe do programa de implementação de vacinas contra malária da OMS. “Espero que vejamos esse impacto.”

Um estudo de modelo no ano passado estimou que se a vacina fosse aplicada em países com maior incidência de malária poderia evitar 5,4 milhões de casos e 23 mil mortes por ano de crianças com menos de 5 anos.

E um teste recente da vacina em combinação com drogas preventivas dadas a crianças durante temporadas de alta transmissibilidade concluiu que a abordagem dupla foi muito mais eficaz para evitar a doença severa, a hospitalização e a morte do que os métodos em separado.

Ter uma vacina contra malária segura, moderadamente eficaz e pronta para distribuição é um “evento histórico”, disse Pedro Alonso, diretor do programa global de malária da OMS.

Os parasitas são muito mais complexos que os vírus ou as bactérias, e a busca por uma vacina contra malária ocorria há cem anos, acrescentou ele. “É um salto enorme da perspectiva da ciência ter uma vacina de primeira geração contra um parasita humano”, disse Alonso.

O parasita da malária é um inimigo especialmente insidioso porque pode atacar a mesma pessoa diversas vezes. Em muitas partes da África subsaariana, mesmo aquelas onde a maioria das pessoas dorme sob telas contra insetos tratadas com inseticida, as crianças têm em média seis episódios de malária por ano.

Mesmo quando a doença não é fatal, o ataque repetido a seus corpos pode deixá-los fracos e vulneráveis a outros patógenos, alterando permanentemente o sistema imune.

A pesquisa da malária está cheia de candidatos a vacina que nunca passaram por testes clínicos. Telas para cama, a medida preventiva mais comum, cortam as mortes por malária de crianças de menos de 5 anos em apenas cerca de 20%.

Contra esse pano de fundo, a nova vacina, mesmo com eficácia modesta, é o maior avanço na luta contra a doença em décadas, dizem alguns especialistas.

“O progresso contra a malária realmente estagnou nos últimos cinco ou seis anos, especialmente em alguns dos países mais atingidos do mundo”, disse Ashley Birkett, que chefia programas de malária na organização sem fins lucrativos Path, focada em saúde global.

Com a nova vacina, “há potencial para um impacto muito significativo”, disse Birkett.

Chamada Mosquirix, a nova vacina é aplicada em três doses a crianças entre 5 e 17 meses, e uma quarta dose aproximadamente 18 meses depois. Após os testes clínicos, a vacina foi testada em três países —Quênia, Malaui e Gana—, onde foi incluída nos programas habituais de vacinação.

Mais de 2,3 milhões de doses foram administradas nesses países, alcançando mais de 800 mil crianças. Isso ampliou a porcentagem de crianças protegidas de alguma forma contra a malária de menos de 70% para mais de 90%, disse Hamel.

“A capacidade de reduzir as desigualdades no acesso à prevenção da malária é importante”, disse Hamel. “Foi impressionante ver que isso poderia alcançar crianças que atualmente não são protegidas.”

Levou anos para criar um sistema eficaz para distribuir às famílias telas para camas tratadas com inseticida. Em comparação, fazer da Mosquirix parte da imunização rotineira tornou surpreendentemente fácil distribuir, acrescentou Hamel —mesmo no meio da pandemia de coronavírus, que provocou lockdowns e interrompeu as cadeias de distribuição.

“Não vamos ter de passar uma década tentando descobrir como levá-la às crianças”, disse ele.

Nesta semana, um grupo de trabalho de especialistas independentes em malária, epidemiologia infantil e estatísticas, assim como do grupo assessor de vacinas da OMS, se reuniu para analisar os dados de programas piloto e fazer suas recomendações formais a Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

O próximo passo é a Gavi, a aliança global de vacinas, determinar que a vacina é um investimento válido. Se o conselho da organização aprovar a Mosquirix —o que não é garantido, já que sua eficácia moderada e há muitas prioridades concorrentes—, a Gavi vai comprar a vacina para países que solicitarem, processo que deverá levar pelo menos um ano.

Mas assim como com a Covid-19 os problemas com a produção e distribuição da vacina poderá atrasar consideravelmente o progresso. E a pandemia também desviou recursos e atenção de outras doenças, disse Deepali Patel, chefe de programas de vacinas na Gavi.

“A Covid é uma grande incógnita em termos de qual é a capacidade atual dos países, e aplicar a vacinação contra Covid é um esforço enorme”, disse Patel. “Realmente teremos de ver como esta pandemia se desenrola no próximo ano em termos de quando os países estarão prontos para enfrentar todas essas outras prioridades.”